A organização guerrilheira “Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia” (FARC) anunciou na quinta-feira, dia 29 de agosto, a retomada da luta amada no país, interrompida em função do “acordo de paz” assinado com o governo do ex-presidente Juan Manuel Santos, em junho de 2017. O anúncio foi feito por uma ala dissidente do grupo, liderado pelo comandante guerrilheiro Iván Márquez, que participou das “negociações de paz” com o ex-presidente Manuel Santos.
“A rebelião não é uma bandeira derrotada”, disse Márquez em um vídeo divulgado nas redes sociais em que ele aparece ao lado de homens e mulheres armados com rifles, entre os quais Seuxis Paucias Hernández Solarte, conhecido como ‘Jesús Santrich’. “Procuraremos coordenar esforços com os guerrilheiros do ELN e com aqueles camaradas que não dobraram suas bandeiras” (sítio RT, 29/08), acrescentou o comandante dissidente.
Um dos pontos do “acordo de paz” firmado em novembro de 2016 entre as FARC e o governo do então presidente Manuel Santos previa, além da deposição das armas, a integração da guerrilha à vida política do país, com a transformação da organização guerrilheira em partido político legalmente constituído, onde foi mantida a mesma sigla do agrupamento, porém com o novo nome de “Força Alternativa Revolucionária Comum”.
De acordo com o líder dissidente, a motivação para a retomada das atividades guerrilheiras das FARC estaria no fato do atual presidente colombiano, o direitista Iván Duque não vir cumprindo com os principais pontos do “acordo de paz”; “as violações constantes que impedem a implementação do acordo; os assassinatos de ex-guerrilheiros em algumas áreas do país, e principalmente com a prisão, em abril de 2018, do ex-combatente Jesús Santrich, que não pôde tomar posse do seu assento no Congresso porque foi acusado por um juiz de Nova York (EUA) de ter enviado àquele país dez toneladas de drogas, após a assinatura do acordo de paz” (sítio RT, 29/08).
Simultaneamente ao anúncio da retomada da luta de guerrilha pelos dissidentes, outro ex-líder guerrilheiro, Rodrigo Londoño, também conhecido como ‘Timochenko’, declarou que a “maioria dos ex-combatentes apoia o acordo de paz assinado com o governo do país em 2016” (idem, 29/08). “A grande maioria permanece comprometida com o acordo, mesmo com todas as dificuldades ou perigos previstos, estamos em paz“, complementou Londoño.
Bem mais lúcida e realista que os próprios ex-guerrilheiros que depuseram as armas e apoiam os “acordos de paz” foi a manifestação do jornalista internacional José Manzaneda, que em entrevista à RT, disse que a decisão de Márquez e do grupo de ex-combatentes “vem mostrar que não há condições para a paz e para o jogo verdadeiramente democrático e a inclusão de dissidentes de esquerda na Colômbia”.
A leitura que se pode fazer e a conclusão a que se pode chegar de todo esse processo é que a política de conciliação da guerrilha com o Estado opressor e repressor colombiano fracassou espetacularmente. Os “acordos de paz” serviram tão somente para que a guerrilha das FARC, que tinha influência sob quase a metade do território do país, depusessem as armas e ficassem a mercê do Exército colombiano e dos grupos paramilitares de direita apoiados pelo próprio governo, que nunca cessaram a matança dos guerrilheiros, mesmo depois de haverem entregues suas armas. O próprio Iván Márquez, que agora lidera essa fração da dissidência, declarou que “desde o ingênuo desarmamento dos guerrilheiros em troca de nada, a matança não para ” (idem, 29/08).
O atual presidente colombiano, o fantoche do imperialismo Iván Duque, opositor dos “acordos de paz” é o responsável no país pelas perseguições e pelos assassinatos de ex-guerrilheiros. Duque trabalha neste momento para rever seis pontos dos “acordos”, particularmente o que diz respeito à extradição de ex-combatentes após a assinatura do “acordo”, “um ponto particularmente controverso no caso do ex-chefe da guerrilha Jesús Santrich, solicitado pela Justiça dos EUA” (idem, 29/08). Duque é discípulo político de Álvaro Uribe, o ultradireitista ex-presidente colombiano, adversário ferrenho do pacto selado com a guerrilha das FARC.
Num momento em que o imperialismo volta a apontar suas baterias contra o continente latino-americano, financiando e apoiando golpes de Estado e governos direitistas pró-Washington, a política da esquerda continental nunca deveria estar centrada na estratégia da busca da conciliação e dos acordos com os governos burgueses pró-imperialistas da região. A luta que está colocada para todos os povos oprimidos das Américas deve estar orientada pela estratégia não dos acordos de paz fraudulentos; não à conciliação, mas no enfrentamento via mobilizações de massas aos governos direitistas; aos regimes repressores e assassinos, como o de Iván Duque na Colômbia, Lenin Moreno, no Equador e Jair Bolsonaro, no Brasil.