Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Derrota de Corbyn

Ainda sobre o fracasso da esquerda britânica

As explicações por parte da imprensa burguesa e dos ideólogos da esquerda pequeno-burguesa não dão conta da complexidade da luta de classes no Reino Unido.

A derrota de Jeremy Corbyn, da extrema-esquerda do Partido Trabalhista britânico, e a consequente vitória do direitista Boris Johnson, do Partido Conservador britânico, repercutiu em todo o mundo como um dos mais importantes eventos políticos deste fim de ano. A partir daí, vieram à tona uma série de teses sobre o trabalhismo britânico que serão analisadas neste artigo.

1 – Seria o Partido Trabalhista de direita?

O Partido Trabalhista não é muito diferente dos partidos social-democratas que se desenvolveram em todo o mundo ao longo dos últimos dois séculos. Assim como o Partido dos Trabalhadores (PT), no Brasil, o Partido Trabalhista Britânico possui uma vasta ligação com os sindicatos do Reino Unido e com o movimento popular em geral. Ao mesmo tempo, sofreu uma forte infiltração de setores da burguesia e da pequena-burguesia, que foram responsáveis por conduzir o partido a uma política que interessava à classe dominante.

Um dos principais responsáveis por fazer com que o Partido Trabalhista desse uma guinada à direita foi Tony Blair, expoente do chamado novo trabalhismo. Blair impôs uma série de mudanças no partido, afastando os sindicatos das decisões partidárias e criando condições para que a organização se tornasse um pilar da aplicação da política neoliberal.

As bases mais operárias e jovens do Partido Trabalhista, no entanto, pressionadas pela situação miserável para a qual a crise capitalista as empurrou, foram responsáveis pela ascensão de Jeremy Corbyn, que atingiu a liderança do partido com uma plataforma oposta ao novo trabalhismo. Tal fenômeno comprovou que, mesmo que o Partido tivesse sido dominado por uma ala pró-imperialista durante algum tempo, sua composição social o levou rapidamente para a esquerda.

O corbynismo não foi um fenômeno fugaz e de características puramente eleitorais. A plataforma erguida por Corbyn no início de sua ascensão – e que foi, equivocadamente, alterada ao se aproximar das eleições – é a expressão clara da necessidade do movimento operário britânico em se chocar com os interesses da direita imperialista. Questões como o fim do Estado de Israel, os direitos trabalhistas e a política externa britânica são parte de um programa necessário para a atual etapa de crise capitalista.

2 – Teria o Partido Trabalhista chegado ao fim?

As capitulações de Jeremy Corbyn perante a direita britânica foram responsáveis, de fato, por sua derrota. No entanto, essa derrota não resultará em uma derrota definitiva de toda a extrema-esquerda trabalhista. Muito pelo contrário: na medida em que a ala mais direitista do Partido Conservador tomou as vagas dos elemento mais tradicionais da burguesia, a dissolução do regime político continua em marcha a todo o vapor.

Se os setores mais tradicionais do Partido Conservador – que são os setores que defendem abertamente a política neoliberal – foram derrotadas nas últimas eleições, ao mesmo tempo que todas as tentativas de Corbyn de se aproximar de uma conciliação com a burguesia se mostraram ineficientes, tudo indica que a polarização política se acentuará ainda mais no Reino Unido. Com esse colapso, a extrema-esquerda trabalhista tenderá, uma vez recuperada do abalo da derrota, a voltar a crescer.

3 – O Brexit

Outro ponto de muita discussão é a saída do Reino Unido da União Europeia – o famoso Brexit. A União Europeia é um dos pilares da dominação do imperialismo europeu sobre os trabalhadores britânicos. Há muito tempo, a população britânica tem se revoltado contra a abertura de mercado, responsável pelo fechamento de indústrias e pela baixa valorização da mão de obra.

Qualquer organização de esquerda que saia em defesa da União Europeia está, portanto, se distanciando dos anseios do povo pobre e trabalhador do Reino Unido e cumprindo as exigências dos setores dominantes da burguesia. No entanto, por falta de iniciativa da esquerda, a extrema-direita, de maneira demagógica e artificial, vem liderando o processo de saída da União Europeia desde seu referendo, em 2016.

O fato de haver, nas bases do Partido Trabalhista, um setor contrário ao Brexit, fez com que Corbyn cometesse uma de umas vacilações fatais. Na medida em que não se propôs, de maneira firme, a retirar o Reino Uido da União Europeia, Corbyn continuou sendo associado à política tradicional do regime político, arrefecendo todo o movimento que o apoiava para pôr abaixo a farra dos capitalistas.

4 – A política da esquerda

Os erros cometidos por Corbyn nas eleições britânicas possuem, em geral, o mesmo teor dos erros da esquerda em todo o mundo. Em vez de aproveitar as condições favoráveis à mobilização e partir para uma ofensiva contra a direita, Corbyn procurou firmar um acordo com a burguesia, conciliar o programa de reivindicação dos trabalhadores e da juventude com as exigências conservadoras da classe dominante.

Corbyn, inclusive, aceitou participar de uma eleição que foi uma verdadeira fraude – as eleições foram convocadas no pior momento possível para o Partido Trabalhista, que passava por uma crise interna por causa das discussões do Brexit. Em vez de denunciar a operação golpista da direita e utilizar tdos os recursos disponíveis para colocar os trabalhadores nas ruas para derrotar o Partido Conservador, Corbyn acabou por assistir a ascensão da extrema-direita.

Esse processo foi muito semelhante ao acontecido no Brasil. Em 2018, em meio a uma das fraudes eleitorais mais escancaradas da história, o Partido dos Trabalhadores optou por lançar um candidato que não tinha quaisquer condições de vencer, rifando, na época, seu maior trunfo, o ex-presidente Lula. Como resultado, subiu ao poder o fascista Jair Bolsonaro.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.