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Derrubada de monumentos

Ainda as estátuas: uma ideologia desorientadora e confusa

Debatemos neste artigo as ideias expostas por Suzane Jardim e Gabrielle Nascimento em artigo publicado no portal The Intercept Brasil

No dia 9 de junho, o portal The Intercept Brasil publicou um artigo de título “Se derrubássemos estátuas por aqui em protestos, nos chamariam de vândalos e não de heróis”. Assinado por Suzane Jardim e Gabrielle Nascimento, o texto procura fazer uma reflexão sobre a derrubada de monumentos públicos — discussão essa que, embora não ocupe o primeiro plano da luta política geral, merece ser debatida no momento para que o movimento de rebelião dos povos contra a política neoliberal amadureça.

O texto começa com uma análise precisa da situação, explicando que, com a política da direita golpista, é impossível que o povo não saia às ruas para se manifestar. Afinal de contas, o povo já está nas ruas, obrigado a trabalhar, bem como o aparato de repressão do Estado:

Desempregados e trabalhadores informais não tiveram a chance de parar, mesmo com o auxílio emergencial – afinal, R$ 600 não paga sequer um aluguel em muitos dos centros urbanos brasileiros. Entregadores e motoristas de aplicativos, domésticas, camelôs e marreteiros, entre outros setores precarizados, não conheceram o home office e estão arriscando suas vidas diariamente nas ruas e transportes públicos para garantir o mínimo de sustento. (…) Como negar o grito a esse pessoal, principalmente ao lembrarmos que quem também não “parou” foram as forças militares?

Também consideramos correta a apreciação dos autores sobre o problema do “vandalismo” — nome dado pela burguesia à radicalização dos protestos:

Curiosamente, o povo é herói quando se organiza para entregar cestas básicas, mas é confundido com quem quer fazer ‘micareta’ ou tido como ‘irresponsável’ quando está organizado por seu luto público, por seu ódio e seus bastas. (…) O pânico de que infiltrados e vândalos possam dar vazão para um autogolpe de estado por parte de quem hoje ocupa o Planalto está aí e foi alimentado até pelo próprio idealizador da Força Nacional de Segurança, na tentativa de desmobilizar os atos do último domingo.

Apesar de nossa convergência em relação à legitimidade de todas os atos do povo na rua, destacamos que a propaganda em torno da derrubada de monumentos não colabora para que a revolta organizada contra a direita fascista e racista em todo o mundo siga em frente. O fato de as revoltas nos Estados Unidos e na Inglaterra terem tido um caráter radical e, ao mesmo tempo, terem derrubado monumentos públicos, não significa, propriamente, que derrubar as estátuas seja a melhor política para o momento. As autoras do artigo, no entanto, fazem essa confusão, passando a confundir a mobilização contra a direita com a derrubada das estátuas em si:

A própria estátua rolando no rio inglês foi uma estratégia organizada – ação direta, tática ligada à desobediência civil, aos autonomistas e movimentos antifascistas, ‘coisa de branco’, ‘que obscurece o antirracismo’ irão dizer, mas que foi usada exatamente para botar no chão um símbolo da racionalidade colonial e escravista recheado do ‘humanismo’ e da generosidade liberal burguesa que já não aceitamos mais que seja a base de construção de nosso mundo. (…) O simbolismo de um traficante de escravos rolando rio abaixo em pleno território europeu é um dos gatilhos possíveis para que pensemos quais são os alicerces nacionais que estão no centro da necessidade de se ir às ruas mesmo na pandemia, tal qual um monumento no centro de uma cidade.

É preciso compreender, no entanto, que, por mais que todos os atos realizados pelo povo nas ruas, em um legítimo levante contra a política da direita nos principais países imperialistas do mundo, a derrubada de estátuas, em si, não é um fator que impulsiona a luta dos trabalhadores. A derrubada de monumentos que fazem alusão ao passado escravocrata se trata, fundamentalmente, de um aspecto superficial do problema do racismo. É o mesmo que entender que o racismo é um problema cultural e que o correto seria travar uma luta no interior do próprio capitalismo para uma espécie de “revolução cultural”, uma tentativa de fazer tábula rasa e reescrever a história. Isso, no entanto, é impossível e também não resolveria o problema da desigualdade racial nem da desigualdade social.

O que levou o povo dos Estados Unidos, da Inglaterra, da França e também está levando o povo brasileiro às ruas é a luta contra a direita que está no poder hoje. A direita que está matando o povo de fome e exterminando os negros nas ruas. E é contra essa direita que o movimento deve se insurgir: pelo Fora Bolsonaro, pelo Fora Macron e pela derrubada de todo o regime capitalista. A derrubada das estátuas, nesse sentido, não passa de uma distração, um fator de dispersão em meio a uma profunda crise que poderá levar os trabalhadores ao poder.

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