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"Ai que saudades da Amélia"

Ai! que saudade… Há 51 anos, samba perdia Ataulfo Alves

O sambista morreu em 1969 por problemas decorrentes de uma úlcera. Deixou um enorme legado de mais de 300 composições.

Em 20 de abril de 1969 faleceu no Rio de Janeiro o cantor e compositor Ataulfo Alves, um dos mais importantes nomes do samba de sua época. Foi autor de sucessos como “Ai, Que Saudades da Amélia”, “Mulata Assanhada” e “Atire a Primeira Pedra”.

Ataulfo teve uma enorme produção, compondo mais de 320 canções e como cantor pelo menos dez LPs e inúmeros discos de 78 rotações. Várias de suas canções tinham por temática o elogio à malandragem e à boemia como “Oh, Seu Oscar” (1939), “Boêmio” (1945) e “É Hoje” (1955). Outras são o completo oposto, criadas dentro da ditadura de Getúlio Vargas, com elogios ao trabalho (“O Bonde de São Januário”, “A Mulher Do Seu Oscar”). Compôs ainda o jingle da campanha à presidência de Ademar de Barros, “Ademar Dá Jeito” (1955).

Ataulfo Alves ainda se destacou pelo seu extremo profissionalismo. Foi um dos fundadores da União Brasileira de Compositores (UBC) e criou sua própria editora musical, a Ata Edições Musicais, que até hoje ainda administra parte de sua obra.

Origens

Ataulfo Alves de Sousa nasceu em 2 de maio de 1909 na Fazenda Cachoeira, no município de Miraí, zona da mata de Minas Gerais. Era filho de Severino de Sousa e Matilde de Jesus. O pai, conhecido pelo apelido de Capitão (embora nunca tivesse sido militar), tocava viola, sanfona e fazia repentes.

Com oito anos de idade o garoto Ataulfo gostava de improvisar com o Capitão Severino, que faleceu apenas alguns anos depois. Com sua morte a família se mudou para o centro de Miraí, indo morar na Rua do Buraco 23 (hoje Rua Ataulfo Alves).

Para ajudar nas despesas da casa Ataulfo trabalhou como leiteiro, carregador de malas, engraxate, lavrador, condutor de bois e marceneiro. Mesmo assim continuou os estudos e se formou no grupo escolar Dr. Justino Pereira. Esse período de sua vida foi retratado em vários de seus sambas como “Meus Tempos de Criança” (1957), “Minha Infância” (1962) e “Reta Final” (1962).

No Rio de Janeiro

Em 1927, com apenas 18 anos, se mudou para o Rio de Janeiro para melhorar de vida. Partiu acompanhando o médico Afrânio Moreira de Resende, amigo da família que estava se transferindo para a capital. Com isso Ataulfo fazia a limpeza do consultório do Dr. Afrânio durante o dia e à noite na residência do médico. Depois disso começou a trabalhar numa farmácia como limpador de vidros e posteriormente acabou aprendendo o ofício de prático de farmácia, conquistando a simpatia e confiança do dono. Nessa mesma época começou a frequentar rodas de samba e a compor suas primeiras canções. Na época Ataulfo tocava cavaquinho, bandolim e violão. Aos 19 anos casou-se com Judite, com quem teve cinco filhos.

Na mesma época conheceu uma moça chamada Maria do Carmo, amiga das filhas do patrão e que morava na Travessa do Comércio. A moça vivia dizendo que se tornaria uma artista. Ataulfo achava graça. Mas era verdade e um dia viria a ser conhecida como Carmen Miranda.

Com vinte anos tornou-se diretor de harmonia da Fale Quem Quiser, um bloco organizado pelo povo do bairro do Catumbi, inspirado pelo bloco Deixa Falar, que era do bairro do Estácio. Sua primeira oportunidade como compositor apareceu em 1933 quando Alcebíades Barcelos, o Bide, depois de ouvir algumas de suas composições o levou ao escritório de Mr. Evans, um americano, diretor da gravadora RCA Victor. Nessa reunião Evans, entusiasmado com o que ouviu telefonou para uma de suas contratadas, Carmen Miranda, que rapidamente veio ao encontro dos três. Ao topar com Ataulfo lembrou-se imediatamente do rapaz. Surpresa ela perguntou: “mas você não é aquele moço lá da farmácia?”. “Perfeitamente” respondeu ele. “Mas você não era compositor!”, exclamou Carmen. “Você também não era cantora!”, respondeu Ataulfo. Carmen gravou o samba “Tempo Perdido”. Logo em seguida foi a vez de Almirante, que gravou a música “Sexta-Feira”.

Sucesso

Em 1935 veio o primeiro grande sucesso, “Saudade do Meu Barracão”, gravado por Floriano Belham. Com isso vários intérpretes gravam suas músicas, como foi o caso de Aracy de Almeida, Orlando Silva, Silvio Caldas, Ciro Monteiro e Carlos Galhardo. Este último era o cantor que mais lançava as novas músicas de Ataulfo.

Em plena ditadura da era Vargas é lançado o samba “O Bonde de São Januário”, um dos primeiros exemplos de samba que faziam a exaltação do trabalho e condenação da malandragem, algo sugerido pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda da ditadura Vargas), que na época se preocupava com a enorme quantidade de sambas fazendo apologia à vadiagem:

Quem trabalha é que tem razão
Eu digo e não tenho medo de errar
O bonde São Januário
Leva mais um operário
Sou eu que vou trabalhar

Antigamente eu não tinha juízo
Mas resolvi garantir meu futuro
Vejam vocês
Sou feliz vivo muito bem
A boemia não dá camisa a ninguém

Ataulfo intérprete

Em 1941 Ataulfo faz sua estreia como intérprete, lançando um disco 78 rotações com os seus sambas “Leva, Meu Samba…” e “Alegria na Casa de Pobre”.

No ano seguinte acabou gravando ele mesmo uma música que havia sido recusada por outros cantores, “Ai que Saudades da Amélia”, com acompanhamento de seu grupo Academia do Samba e introdução do bandolim de Jacob Bittencourt (Jacob do Bandolim). Foi um grande sucesso no carnaval e também uma grande polemica. Alguns enxergaram Amélia como uma mulher submissa.

Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um pobre rapaz

Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo o que você vê, você quer
Ai meu Deus que saudade da Amélia
Aquilo sim é que era mulher

Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado dizia
Meu filho o que se há de fazer

Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia que era a mulher de verdade

“Ai Que Saudades da Amélia” era uma letra de Mário Lago musicada por Ataulfo. Foi inspirada em uma mulher real, Amélia dos Santos Ferreira, empregada de Aracy de Almeida. Ataulfo desfez a polemica dizendo que “Amélia é compreensão, é ternura, é vida. Não é um hino à submissão. Ela simboliza a companheira ideal, que luta ao lado do marido, vivendo de acordo com suas possibilidades, sem exigir o que ele não pode dar.”

Nos anos seguintes continua em plena atividade e muito sucesso, compondo e gravando com seu grupo (Ataulfo Alves e Suas Pastoras). Fez muitos shows, inclusive excursionando pela Europa e África. Dentre seus muitos sucessos estavam “Mulata Assanhada” (1956) e sambas dor de cotovelo como “Errei Sim” (1950) e “Pois É” (1954).

Em 1968 Ataulfo faz um samba em parceria com o polemico Carlos Imperial, a música “Você Passa e Eu Acho Graça”. Foi gravada por Clara Nunes no seu segundo LP, também intitulado “Você Passa e Eu Acho Graça”, seu primeiro álbum totalmente dedicado ao samba.

Ataulfo faleceu em 20 de abril de 1969 em decorrência de uma úlcera no duodeno, um problema que o acompanhava há quase 20 anos.

A vida e obra de Ataulfo Alves foi celebrada pelo jornalista Sérgio Cabral no livro “Ataulfo Alves: Vida e Obra” de 2009.

Na Cadencia do Samba

Sei que vou morrer, não sei o dia

Levarei saudades da Maria
Sei que vou morrer, não sei a hora
Levarei saudades da Aurora
Quero morrer numa batucada de bamba
Na cadência bonita do samba

Mas o meu nome ninguém vai jogar na lama
Diz o dito popular
Morre o homem, fica a fama
Quero morrer numa batucada de bamba
Na cadência bonita do samba

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