Da redação – Na madrugada de sábado (30) no município de Lábrea, no sul do Amazonas, a 700 quilômetros de Manaus, pistoleiros invadiram um seringal em São Domingos e mataram varias pessoas e um líder camponês, atearam fogo nas casas do local onde vivem cerca de 140 famílias, maioria originárias de Acrelândia, e que vivem da extração da borracha e de pequenas lavouras. Segundo a Pastoral da Terra quatro pessoas foram assassinadas, três corpos foram encontrados no meio da floresta com tiros pelo corpo quando tentavam fugir, Nemis Machado de Oliveira 53 anos é a única identificada pela polícia, ele foi atingida por tiros nas costas e na cabeça, este era o líder das famílias de Posseiros do Seringal São Domingos.
A região possui histórico de conflitos envolvendo grileiros, fazendeiros e madeireiros que possuem interesse no local. As famílias fugiram mata adentro e muitas pessoas ainda estão desaparecidas, acredita-se que estejam escondidas em municípios vizinhos. A presidente da CUT-Acre, Rosana Nascimento culpa o Incra por não apressar a emissão de titulo de terras, para ela a chacina era anunciada, “foram feitos acordos e outros compromissos, que agora estão descumprindo. Este tipo de violência acontece por causa da morosidade do Incra”.
Oliveira tinha comprado a área no seringal onde vivia com a esposa e três filhos, além da exploração da borracha ele fazia cultivos e criava animais, há pouco tempo ele e outras famílias descobriram que os documentos de posse eram falsos e as terras griladas, segundo Rosana “o Incra tinha feito a documentação para a arrecadação dessa área, chegou até receber o dinheiro do governo federal para fazer a regularização fundiária, mas abandonou o processo”.
A região é conhecida como “faroeste amazônico” devido a seus vários conflitos agrários e violência na disputa por terras que resulta em assassinatos e ameaças às famílias de sem-terra, além de grilagem, exploração ilegal de madeira e desmatamentos. O acesso a região é por um ramal de 50 quilômetros que começa na rodovia BR-364, estrada que interliga os estados do Acre e Rondônia. De acordo com relatos de moradores, existe até uma lista de pessoas marcadas para morrer. Segundo a própria Polícia Militar o crime no seringal foi uma ação de jagunços que envolve grileiros e conflitos fundiários.
De acordo com a agência Amazônia Real em entrevista a testemunhas dos crimes, seis homens armados e encapuzados começaram uma ação violenta contra as famílias do seringal São Domingos. Outra pessoa só não foi morta porque conseguiu escapar dos tiros, pulando num açude, escondendo-se numa área de mata por mais de duas horas, conforme declarou a testemunha. A mulher de Nemis, grávida, e os filhos foram obrigados a deixar a casa, apenas com a roupa do corpo, tendo que caminhar, por quilômetros, até chegar às margens da rodovia.
Sidney Miguel Andrade, 40 anos, diz: “Deixei minhas 75 cabeças de gado e toda a minha plantação toda a nossa vida, todo o fruto de nosso trabalho foi perdido assim. O cenário que a gente viu era de tristeza, de partir o coração. Os barracos de nossos amigos pegando fogo, nossas motos destruídas. Não sobrou nada.”
Dois posseiros que não quiseram se identificar conversaram com o AC Jornal (fonte da foto) relataram que só conseguiram escapar da morte porque se humilharam a ordem é de que todos deveriam deixar suas casas só com a roupa do corpo. “Saímos com vida pela graça de Deus. Eles diziam o tempo todo que estavam lá para matar e mataram mesmo”.
Alguns dias atrás foi assassinada a coordenadora do MAB, movimento de atingidos por barragens, Dilma Silva., seu marido Claudinor e um amigo do casal de forma brutal, por questões também ligadas a direito a terra na mesma região norte do país. Situação que vem ocorrendo com mais freqüência a partir de 2015 os números de homicídios e desapropriação de terras tem assumido categorias alarmantes e desesperadoras segundo moradores do local nos últimos meses.