Três recentes acontecimentos refletem a acentuação da polarização entre a esquerda e a direita no país e de como segmentos de ambos os lados reagem a esses acontecimentos.
O primeiro deles foi a renúncia do deputado do PSOL, Jean Wyllys, ao novo mandato de deputado federal para o qual foi eleito. Wyllys, que se encontra no exterior, em local não divulgado, afirmou que não pretende voltar ao Brasil.
Uma das principais lideranças LGBT do país, Jean Wyllys atribuiu a sua renúncia às ameaças de morte que vem recebendo. “Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa o que façamos por outros meios”, declarou no seu twitter.
Os outros dois acontecimentos vão no sentido oposto da decisão do deputado. Foram dois enfrentamentos contra grupos de extrema-direita vinculados ao MBL e que tiveram como protagonistas militantes do Partido da Causa Operária e de outros movimentos de esquerda.
No primeiro deles, o MBL convocou um ato de provocação ao governo cubano em frente ao consulado daquele país em São Paulo. No segundo, o mesmo MBL e seus afins chamaram um ato em frente a sede da UNE em São Paulo para protestar contra a entidade e contra o governo venezuelano.
Em ambos os casos, os fascistas do MBL foram expulsos pelos militantes de esquerda e correram em debandada, sendo que no ato da UNE foram se proteger atrás dos escudos e dos sprays de pimenta da PM.
A desenvoltura com que a extrema-direita ataca a militância de esquerda e os movimentos sociais é uma consequência direta do golpe de Estado de 2016 e que irá se agudizar com a eleição do fascista Bolsonaro. O problema que se coloca é o de como reagir diante dessa realidade.
A disputa entre diferentes setores golpistas pelo controle do governo federal trouxe à tona as relações da máfia bolsonarista com os grupos paramilitares do Rio de Janeiro, inclusive com o assassinato da vereadora Marielle Franco e com as ameaças ao próprio Jean Wyllys e sua família.
O que poderia parecer a primeira vista uma “novidade”, nada mais é do que os métodos pelos quais os fascistas se organizam. Os bolsonaristas são fascistas e têm a sua base de apoio justamente onde todo movimento fascista tem: nas forças de repressão do Estado capitalista e em um setor da classe média tradicionalmente de direita.
Fugir a essa realidade, inclusive fugir literalmente, só fortalece o fascismo. O movimento fascista tem por característica a absoluta ausência de ideologia ou, quando muito, a existência de uma ideologia de ocasião, por isso sua força reside na ação, nos atos de terror, fundamentalmente covardes, principalmente (em um primeiro momento) contra os grupos sociais mais indefesos, como os LGBTs.
O movimento fascista não pode ser tratado com contemporização. A cada ato fascista, a esquerda e os movimentos sociais tem que responder com mais força ainda. Nesse caso, o que tem que valer é a “lei de talião: olho por olho, dente por dente”. O que não só os fascistas, mas a própria burguesia que o alimenta mais teme, é a força coletiva dos movimentos operário e sociais.
É por isso que a decisão absolutamente individual de Jean Wyllys foi tão negativa. Ele sinaliza para o movimento que representa e para a própria esquerda que sob determinadas condições o que vale são os atos individuais e não a mobilização coletiva para derrotar os fascistas.
No oposto da atitude de Wyllys, os militantes do PCO e de outros agrupamentos de esquerda apontam a única saída progressista para derrotar os bando de fascistas: o enfrentamento. Essa é a política a ser seguida: diante das ameaças, dos ataques, das perseguições por parte da extrema-direita, a esquerda deve se unir deve se unir em comitês de autodefesa e em um amplo movimento de massas, independente da burguesia.