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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Método Guilherme Boulos

Acusar de “fake news”: nova tática da esquerda pequeno-burguesa

Na falta de argumentos, o Sr. Batata procura desqualificar o PCO de uma maneira extremamente caluniosa

Se não sabes rebater as críticas de teu interlocutor, dize que ele é mentiroso. Muito fácil. A direita sempre fez isso em toda a história mundial. Lógico: na falta de argumentos, acuse o outro de estar mentindo e ponto final.

A CIA patrocina golpes por todo o mundo? Teoria da conspiração. Os Estados Unidos impõem ditaduras nos países atrasados? Mentira.

Nos últimos anos, convencionou-se chamar a mentira de “fake news”. Como indica o próprio termo, em inglês, isso se originou nos EUA, com o objetivo exclusivo de cunhar essa expressão para torná-la uma manobra jurídica a fim de punir exatamente os que denunciam a burguesia e o imperialismo. Primeiro, como sempre, pegam a extrema-direita mais cachorro bravo – até porque esses são um tanto incômodos e com pouca expressividade política. Depois, utiliza-se contra a esquerda, verdadeiro alvo dessa operação.

Basta ver o que ocorre hoje nas redes sociais. Nos EUA, diversas páginas e contas no Twitter e Facebook foram censuradas por supostamente disseminarem “fake news”. Na semana passada, foi a vez de uma centena de contas de um movimento de extrema-direita serem apagadas, sob a desculpa de promoverem “teorias da conspiração”. No entanto, essas “teorias da conspiração” são verdadeiras: o “deep state” (“estado profundo”) norte-americano controla a política do País. Essa é a “teoria da conspiração”. Ora, quem não sabe que esse “estado profundo” nada mais é do que os serviços de inteligência e de segurança, a máquina de guerra interna e externa a serviço da burguesia? Pois a burguesia diz que isso é “teoria da conspiração”, logo é mentira e logo é “fake news”. Porque quem criou as leis de “combate às fake news” foram os órgãos do Estado burguês e são eles os que julgam, condenam e punem os “propagadores de fake news”.

Como o Brasil é um país controlado pelo imperialismo, particularmente o norte-americano, essas operações não tardaram a chegar aqui. E o roteiro é o mesmo: primeiro, o pau bate na extrema-direita cujo serviço não serve ou já foi prestado à burguesia. Diversos veículos e sítios bolsonaristas foram censurados. Agora, o alvo é a esquerda, essa sim com potencial de incomodar a burguesia. Poucas semanas atrás, contas de WhatsApp do PT foram apagadas por envio em massa de mensagens. Qual o problema de se enviar muitas mensagens? Ninguém que defende essa censura responde. Mas foram enquadrados por disseminarem “fake news”, por serem supostos “robôs”. Também não respondem qual o problema de se usar robôs para compartilhar mensagens, uma vez que hoje em dia tudo é feito de forma automatizada. Os bancos e operadoras de telecomunicação (geralmente aos quais não temos nenhum vínculo contratual) não enviam frequentemente mensagem a milhares ou milhões de pessoas por meio de robôs? Serão punidos? Claro que não.

A questão mais preocupante, no entanto, está relacionada com o que foi dito no início do artigo: tudo agora é “fake news”, caso você não saiba contra-argumentar com seu interlocutor. Censure-o, uma vez que não pode desmenti-lo.

E o pior: o que foi organizado para ser usado pela direita contra a esquerda está começando a ser usado pela esquerda contra a própria esquerda. O que ficou conhecido como a “Lei das Fake News” foi aprovado com voto integral de toda a esquerda parlamentar, na crença ingênua de que isso servirá para lutar contra a extrema-direita bolsonarista.

Mas não é só isso. Não é só de ingênuos que se forma um bloco de esquerda. Há um setor que sabe que precisa censurar quem não concorda e o critica. É a esquerda pequeno-burguesa e os identitários. 

Ah, os identitários! Quem não conhece xs lacradorxs que impedem os outros de emitirem opinião por que não teriam “lugar de fala”? Esses são mestres na arte de censurar. Se são criticados, logo dizem: “você é um branco cis hétero de cabelo liso e olhos claros, portanto não tem nenhum direito de querer impor sua opinião sobre o movimento; pare de nos oprimir, seu macho tóxico!”

Mas uma parte da esquerda pequeno-burguesa (que também é um tanto identitária) está se superando. Não basta mais calar a voz discordante. Agora é preciso puni-la.

É justamente o que começa a fazer o Psol, mais precisamente Guilherme Boulos, o Sr. Batata. Colocado contra a parede por ter apoiado, na prática, o golpe contra Dilma Rousseff, e por não fazer nenhuma análise crítica sobre a participação de seu pai no governo de extrema-direita de João Doria, o Sr. Batata diz que isso é “fake news” disseminada pelo “folhetim do PCO”, com algum financiamento por trás.

Não vou aqui rebater as falas alopradas de Boulos porque Rui Costa Pimenta já descascou o Sr. Batata na Análise Política da Semana desse sábado, a que vocês podem assistir ao final deste artigo.

A questão aqui é que o Sr. Batata, na falta de argumentos, procura desqualificar o PCO de uma maneira extremamente caluniosa. O Sr. Batata, agora descascado, assado e jantado, diz que não dá para levar a sério a imprensa do PCO, que faz uma campanha diária e sistemática pelo Fora Bolsonaro e fez o mesmo contra o golpe e pela liberdade de Lula (sempre na vanguarda dessas lutas). Para o Sr. Batata, a imprensa revolucionária não deve ser levada a sério. Quem deve ser levado a sério é a Folha de S.Paulo, na qual Boulos manteve uma coluna semanal entre junho de 2014 e março de 2017, justamente a partir da época do “Não vai ter Copa” até a consolidação do golpe de Estado. Em nenhuma de suas colunas, ele denunciou o golpe de forma minimamente contundente. Pelo contrário, desviou a atenção de seu público para questões ultrassecundárias. Bom, na Folha ele fez o papel de dividir e confundir a luta da esquerda e, depois de consolidado o golpe, foi dispensado, porque já não servia mais, posto que o objetivo era exatamente usá-lo para impedir a evolução da luta contra a derrubada de Dilma.

O mais perigoso, entretanto, é a acusação de “fake news” financiada por alguém. E, para se rebaixar ainda mais, comparar isso às “fake news” disseminadas pelos bolsonaristas com financiamento capitalista – o que está levando alguns setores da direita a serem perseguidos pelo Judiciário. O Sr. Batata, que apoia a caça às bruxas bolsonaristas nos processos de “fake news” e cujo partido é um dos maiores entusiastas de tais ações judiciais, quer agora enquadrar um jornal de esquerda, de um partido de esquerda, e jogá-lo para as garras do Judiciário golpista – o mesmo que foi um dos protagonistas no impeachment de Dilma e na prisão de Lula. 

Na situação política em que vivemos, de uma ditadura da extrema-direita, isso significa incentivar a Polícia Federal a atacar o PCO, pedir a repressão dos fascistas que controlam o regime contra a esquerda.

E o pior de tudo: enquadrar o PCO com base, curiosamente, em uma acusação falsa, a de que o Partido estaria sendo pago para disseminar “fake news”.

Resumindo: um cidadão sem argumentos acusa o adversário de mentir (“fake news”) por meio de uma… mentira! O PCO demonstrou, desde o início, lá em 2014, que o Sr. Batata era um elemento, no mínimo, confusionista, na luta da esquerda contra o golpe e que, em última análise, fez parte do movimento esquerdista que apoiou o golpe. “Pelo amor de Deus! Pelo amor de Deus!”, foi a resposta do Sr. Batata a essa lembrança. Logicamente, porque não há como esconder que Luciana Genro bradou o famoso “Viva a Lava Jato!” (que agora não há dúvida nenhuma de que era uma operação golpista e imperialista), ou que setores que hoje estão no Psol gritavam o “Fora todos” com faixas retratando Dilma e Lula junto com políticos da direita. Ou que o “Não vai ter Copa” foi um movimento contra o governo do PT em um momento no qual Dilma já sofria uma campanha golpista da direita.

Sobre seu pai, o Sr. Batata não fez mais do que defender enfaticamente o papel dele em um importante cargo dentro da administração do PSDB em São Paulo, no máximo tentando argumentar que se trataria de um cargo técnico que já é exercido “há quatro governos” – esquecendo-se de que todos esses quatro governos eram do PSDB.

O PCO não fez mais do que constatar fatos. E, com base nisso, a partir de uma análise realista e materialista, concluir que Guilherme Boulos é um político inofensivo para a burguesia e, mais ainda, sob seu controle, ao se aliar a expoentes da direita nacional como Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin, Tasso Jereissati e Luciano Huck (no evento do “Direitos Já” – um eufemismo para Direita Já -, mais um desdobramento da frente ampla com os golpistas).

Boulos foge desse debate. Perguntemos a ele: Sr. Batata, o que acha de realizar um evento amistoso em conjunto com Jair Bolsonaro, fazer uma frente junto com o presidente da República? Possivelmente, ele dirá que isso seria aliar-se ao fascismo. Ora, mas a união com aqueles membros do PSDB não significa uma aliança com eles? Seria, por acaso, o PSDB um amigo da esquerda e dos trabalhadores? Por que aliar-se com o PSDB?

Fica, assim, muito claro que Boulos esforça-se para ser um político próximo à burguesia e mesmo à direita e ao PSDB. Por isso também, quer pintar os tucanos de democratas, que seriam um partido de centro e não de direita. Porque fica muito feio para alguém que se diz de esquerda aliar-se dessa forma a um partido de direita, e da pior direita que existe no País, da direita tradicional da burguesia e do imperialismo, que deu o golpe contra Dilma e prendeu Lula e que saqueia em todos os seus governos o povo trabalhador.

Ou Boulos vai me dizer que isso também é “fake news”? Que não se alinhou ao PSDB ou que o PSDB não é tão podre assim?

Incomodada com uma coluna de Juca Simonard no Brasil 247, a equipe de campanha eleitoral de Boulos resolveu acusar o articulista de também estar propagando “fake news”, ao expor uma análise semelhante à do PCO sobre a candidatura do Psol em São Paulo.

Para a infelicidade de Boulos e de seu partido, contra fatos não há argumentos. Por isso não conseguem contra-argumentar. Por isso passaram a tentar desqualificar as críticas do PCO. 

A acusação de se tratar de “fake news” é o novo refúgio da esquerda pequeno-burguesa aloprada que não tem capacidade de debater ideias e que precisa esconder o que realmente é: o braço esquerdo da burguesia.

Boulos, Frente Ampla e as eleições - Análise Política da Semana - 25/07/20

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