Em entrevista à Folha de S. Paulo nesta terça (dia 30), o ex-presidenciável Ciro Gomes (por hora no PDT), escancarou seu caráter golpista, direitista e oportunista, deixando de lado os muitos disfarces usados durante a campanha eleitoral, na qual chegou em terceiro lugar, graças ao intenso apoio recebido de setores da burguesia golpista para retirar votos do PT.
Depois de ter declarado, ainda no primeiro turno, que “que choraria e deixaria a política se Bolsonaro ganhasse”, o candidato – que não derramou uma só lágrima e até comemorou a vitória da chapa do golpe militar – afirmou que não pode se “afastar agora da luta” e procura se apresentar – de fato – como uma “alternativa” ante o fato do País, segundo ele, ter ficado “órfão”. Tudo isso sem perder o típico cinismo dos políticos profissionais da burguesia ao afirmar que tem “sobriedade e modéstia”.
Depois de ter procurado se apresentar como candidato de esquerda, capaz de unir o centro (a direita burguesa) para derrotar a extrema direita apresentada por Bolsonaro, Ciro abandonou o País e se recusou a fazer campanha contra a vitória fraudulenta de Jair Bolsonaro. Para tentar justificar sua conduta em favor de Bolsonaro (que foi apoiado por três dos quatro candidatos a governador do “seu” partido no segundo turno), Ciro afirma ter sido “miseravelmente traído” pelo PT, particularmente por Lula e pelos que chamou de “seus asseclas” (lideranças petistas ligadas a Lula) por conta dos acordos feitos pelo partido com o PSB, cujo apoio ele disputava e com os quais esperava contar para cometer o estelionato de passar ao segundo turno como “candidato da esquerda”.
Afirmando que não declarou voto em Haddad porque não quer mais “fazer campanha com o PT”, o ex-candidato abutre, que esperava usurpar os votos de Lula, repetiu o que vem fazendo todos os políticos reacionários e de direita: disparou insultos e calúnias contra o ex-presidente Lula, de quem foi ministro, e que – segundo ele – o teria convidado para ser vice na sua chapa.
Ciro foi ex-executivo de confiança do vice-presidente da golpista FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional, que foi entregue em privatização a “preço de banana” no governo Itamar Franco, de quem foi ministro da Fazenda, como representante do PSDB, que elegeria na sequência Fernando Henrique Cardoso. Ele procura enaltecer a vitória fraudulenta da direita e distorcer os fatos, como faz toda a venal imprensa burguesa e os partidos golpistas ao afirmar que “Bolsonaro estava no lugar certo, na hora certa. Só o petismo fanático vai chamar os 60% do povo brasileiro de fascista”; buscando ocultar que o candidato de todos os golpistas – incluindo Ciro – teve o apoio de manos de 40% do eleitorado sendo, portanto, rejeitado (e não apoiado) por mais de 60% dos eleitores que votaram no PT, nulo, em branco ou se abstiveram no último dia 28.
Falsificando grosseiramente a realidade, Ciro pronunciou na entrevistas várias de suas bravatas como a que “se tem um brasileiro que lutou, fui eu. Passei três anos lutando”; buscando confundir sua “luta” para se tornar o candidato apoiado pela maioria da direita (no que não teve êxito e acabou suplantado por Bolsonaro que até mesmo seu partido apoiou, no segundo turno) com a luta real de amplos setores da esquerda, das organizações dos explorados contra o golpe de Estado que derrubou a presidenta Dilma, contra as reformas do governo golpista de Temer, contra a prisão de Lula etc. as quais ele sabotou e/ou se colocou do outro lado da “trincheira”, junto com Bolsonaro, Alckmin e toda a direita, por exemplo, defendendo a intervenção militar no Rio de Janeiro, afirmando que Lula não era preso político etc. etc.
Evidenciando que sua missão (muito bem paga pela burguesia que lhe tirou de uma situação de semi ostracismo) é a de continuar atacando o PT e toda a esquerda e buscar empurrar o partido para a direita, Ciro declara que vai continuar fazendo campanha contra o PT (“não quero mais fazer campanha para o PT”), se soma – mais uma vez – a Sérgio Moro e todo o judiciário golpista, com declarações de “Lula se corrompeu” e apoia explicitamente a cassação ilegal da candidatura de Lula (que abriu espaço para seu crescimento e para a vitória de Bolsonaro), afirmando que a fraude teria sido de Lula, que teria fraudado “a opinião pública do país, mentindo que era candidato”. Com o que endossa todo o processo fraudulento organizado pelos donos do golpe. Indo mais longe, acusa Lula (que ele não defendeu diante dos processos fraudulentos e da prisão) de traidor: “traição mesmo. Palavra dada e não cumprida, clandestinidade, acertos espúrios, grana”.
Mostrando que vai continuar trabalhando pela divisão da esquerda e pela sua capitulação diante da direita, ele afirma que vai “fundar um novo campo”, para cumprir a declarada vontade da direita golpista de que surja um novo bloco pseudo-esquerdista que lidere a ação capituladora da esquerda burguesa e pequeno burguesa na “oposição” ao governo Bolsonaro, que não questione sua legitimidade, que não denuncie o golpe e que não seja liderado pelo PT.
Dando atestado de idoneidade ao regime golpista, Ciro reafirma o funcionamento do regime democrático afirmando que não acha “que tem havido nenhuma ameaça à liberdade de imprensa até aqui”. “Por isso que digo que uma das centralidades do mundo político brasileiro deveria ser um entendimento amplo o suficiente para cumprir a guarda da institucionalidade democrática”, afirmou.
Sem a máscara de candidato, sem ter que tentar enganar eleitores de que é um candidato de esquerda e sem querer tentar tirar votos do PT, Ciro se mostra cada vez mais como aquilo que realmente é, um político burguês reacionário, a serviço do grande capital, do golpe de estado e da fraude nas eleições. Tudo isso para servir àqueles a quem serviu em toda a sua carreira política, seja nos partidos da ditadura (Arena, PDS), seja nos partidos neoliberais (PSDB, PMDB etc.), seja nos partidos sua esquerda burguesa (PPS, PDT), entre outros: o grande capital, o imperialismo, contra o povo brasileiro, suas verdadeiras lideranças e sua luta contra o golpe.