Depois de forte pressão da direita boliviana, do imperialismo e seus governos serviçais na América Latina, como o de Bolsonaro no Brasil, o presidente reeleito Evo Morales decidiu convocar novas eleições e, forçado pelos militares, acabou por renunciar.
Trata-se inequivocamente de mais um golpe de Estado na América Latina, em um dos poucos países em que havia um governo nacionalista burguês de esquerda. Desta vez, assumindo mais claramente um caráter de golpe militar e inclusive fascista, dada a violência com que a extrema direita avançou para cima da população e de membros do governo central e locais, incendiando casas, arrastando pessoas pelas ruas ou amarrando as mesmas.
O órgão mais visível na operação foi a Organização dos Estados Americanos (OEA), instrumento direto do imperialismo norte-americano para intervenção na América Latina. Mas também é preciso destacar a participação do governo brasileiro, atualmente nas mãos do fascista Jair Bolsonaro, e por trás dele os militares, que teve papel fundamental na articulação do golpe, agindo como preposto dos norte-americanos. Essa atuação é tal qual havia na época da ditadura militar, quando o Brasil era o centro organizador dos golpes de Estado e ditaduras na região, servindo inclusive como instrutor direto na tortura e repressão que havia nos demais países.
Diante dessa situação, a política seguida por Evo Morales foi errada, tanto antes como depois do golpe.
Primeiramente, sabendo da ameaça que pairava sobre ele, Morales procurou uma via de conciliação com a direita, em lugar de mobilizar a população para combatê-la. Iludido com a possibilidade de que o processo eleitoral fosse respeitado, entrou nele totalmente desarmado. Depois disso, capitulou e chamou novas eleições e, finalmente, renunciou diante do ultimato das forças armadas bolivianas.
Em nenhum momento procurou mobilizar a população, única força capaz de conter o golpe.
Tal política teve consequências desastrosas para a população, que acabou pega de surpresa, sem tempo de se preparar para conter adequadamente a ofensiva da direita.
Tanto é assim que os trabalhadores bolivianos saíram por conta própria às ruas para combater a extrema direita, com a qual têm experiência de longa data. A reação heroica, no entanto, acabou por ser desorganizada, pois teve que reagir diante dos acontecimentos, sem nenhuma preparação.
Diante da reação popular, as forças de repressão deram início a um massacre da população sublevada. Nesse momento, é de fundamental importância a formação de comitês de autodefesa e o armamento da população, para reagir à ofensiva tanto do aparato repressivo oficial, como da extrema direita boliviana.
No Brasil, é dever das organizações dos trabalhadores a denúncia do golpe de Estado e o oferecimento de todo o apoio que nossos vizinhos e irmãos bolivianos necessitem na dura luta que estão travando para derrotar a extrema direita e as forças golpistas comandadas pelo imperialismo, em especial o norte-americano.