Nos 80 anos do assassinato do revolucionário russo Leon Trotsky, uma questão relevante no debate sobre seu legado político é a formulação sobre a Revolução Permanente.
Antes de entrar na polêmica sobre a Revolução Permanente após 1923, é importante entender a questão fundamental sobre diferentes concepções sobre a Revolução Russa.
As três concepções da Revolução Russa
A questão candente no desenvolvimento do movimento revolucionário russo no século XIX e no início do século XX foi a definição sobre o próprio sentido do desenvolvimento russo e o caráter da revolução. O movimento narodnik ( populista) entendia que seria possível evitar que a Rússia passasse pelo capitalismo, e defendia a constituição de um socialismo com base na comunidade agrária. O posterior desenvolvimento do capitalismo na Rússia, ainda que de forma diferente da maneira ocorrida na Europa Ocidental evidenciou que não era possível evitar o capitalismo.
Por sua vez, no interior do Partido Social-Democrata Russo apresentou-se fundamentalmente três concepções. A primeira, a posição menchevique, que defendia que a revolução seria burguesa, e portanto a liderança deveria ficar a cargo da própria burguesia, e que o papel do proletariado seria apoiar a burguesia na sua luta democrática contra a autocracia. Somente em uma outra etapa estaria colocado a realização das tarefas socialistas.
A segunda posição foi apresentada por Lênin, líder dos bolcheviques, que defendia que a revolução teria um caráter burguês, mas que a burguesia não teria a disposição para liderar, pois estava comprometida com a manutenção do regime autocrático, abrindo mão do seu programa democrático burguês. Neste contexto, os operários teriam que fazer uma aliança com os camponeses, constituindo uma “ditadura democrática dos operários e camponeses” que faria as tarefas democráticas da revolução burguesa( entre elas, a questão agrária), que a burguesia se recusava a realizar.
Finalmente, a formulação de Leon Trotsky que junto com Parvus afirmou que a revolução teria caráter burguês, nas suas tarefas fundamentais, e como Lênin, assinalou que a burguesia não implementaria a revolução burguesa. A luta pelo poder deveria ser impulsionada pelos operários, apoiado nos camponeses. A revolução seria permanente, no sentido, que não ficaria restrita as tarefas democráticas, mas que avançaria na implementação de uma ditadura do proletariado, e colocando em movimento a luta por mudanças estruturas que colocariam em xeque o regime capitalista.
“ Para os países de desenvolvimento burguês atrasado e, em particular, para os países coloniais e semicoloniais, a teoria da revolução permanente significa que a resolução íntegra e efetiva das suas tarefas democráticas e de libertação nacional somente pode ser concebida por meio da ditadura do proletariado, que se coloca à cabeça da nação oprimida e, primeiro de tudo, das suas massas camponesas.” ( TROTSKY, Teses sobre Revolução Permanente)
A experiência da Revolução Russa de 1905, o “ ensaio geral” segundo Lênin, quando é constituído o soviets e sobretudo a vitoriosa experiência de 1917, comprovaram que a noção da Revolução Permanente desenvolvida por Trotsky era a chave explicativa decisiva para entender o processo revolucionário no seu conjunto.
“A ditadura do proletariado, que sobe ao poder como força dirigente da revolução democrática, se encontra muito rápida e inevitavelmente colocada perante tarefas que a forçarão a fazer incursões profundas no direito de propriedade burguês. No decurso de seu desenvolvimento, a revolução democrática transforma-se diretamente em revolução socialista e torna-se assim uma revolução permanente.” ( Trotsky, idem)
As teses de abril de Lênin, que indicava nenhum apoio ao governo provisório, a luta pela paz e terra para os camponeses representou a implementação tática da Revolução Permanente, uma virada decisiva que armou o Partido Bolchevique para a Revolução de Outubro.
Um dos pontos cruciais na teoria da Revolução Permanente é a perspectiva internacional da revolução. Na próxima semana iremos abordar o fator internacional, bem como de que forma as derrotas sofridas pelas revoluções na década de 1920 provocaram um pessimismo político que contribuiu para o aparecimento da teoria do “socialismo em só país” na URSS.