Seria equivocado dizer que a crise do governo golpista de Jair Bolsonaro começou agora. Essa é uma crise que se estende desde o primeiro dia do governo, resultado das circunstâncias que levaram o atual presidente ao poder: a prisão de Lula, a fraude eleitoral e o processo golpista de conjunto. Rigorosamente, a crise do governo Bolsonaro é a crise do regime golpista. Nesse sentido, a derrubada de Bolsonaro já era um fator presente na situação política até mesmo quando sua vitória na fraude eleitoral foi consolidada.
Nesse momento, porém, passados oito meses de governo, é possível dizer que a situação amadureceu. As condições estão preparadas para derrubar o governo golpista e o que é mais importante, para que a iniciativa nesse processo caiba às massas populares.
Se o governo nasceu impopular, fruto de uma fraude que foi capaz de elegê-lo tendo apenas cerca de 15% de apoio na população em geral, passado esse tempo, com o acúmulo de medidas impopulares, as declarações ofensivas ao povo, as denúncias contra o governo, as revelações dos vazamentos da Lava Jato, é impossível não perceber agora que o governo está no seu pior momento.
A estes fatores políticos somam-se as inúmeras manifestações espontâneas do povo em todos os lugares. Não é exagerado dizer que qualquer atividade que junte uma pequena multidão se transforma rapidamente em manifestação política contra o governo. O grito de “Fora Bolsonaro” – ou sua versão popular (“ei, Bolsonaro, vai tomar no c*”) – se alastra facilmente no meio do povo.
Esse fenômeno foi registrado já no carnaval, ou seja, três meses depois da posse de Bolsonaro, mas vem se intensificando. Nas últimas semanas foram dezenas de shows, festivais – apenas para lembrar os que foram registrados – com protestos contra o governo. Bolsonaro levou uma vaia homérica na final da Copa América e no jogo entre Palmeiras e Vasco. É importante dizer que a maior parte do público desses jogos era constituído por pessoas de classes média – graças ao preço dos ingressos – e que portanto, mesmo num setor social em que o bolsonarismo seria mais forte, embora não seja maioria, as manifestações contra o governo se desenvolvem com facilidade.
E se é assim em festivais culturais e jogos de futebol, nem falar das manifestações políticas. Em todas elas, embora as direções da esquerda pequeno-burguesa façam um esforço para desviar o foco da luta para questões parciais, a esmagadora maioria dos presentes adota a palavra de ordem de “Fora Bolsonaro”.
Seria ingenuidade acreditar que os 15% de base social que Bolsonaro tinha nas eleições se mantêm firmes depois de oito meses de governo desastroso. Ou seja, até mesmo a sua pequena base social está minguando.
Portanto, a correlação de forças está nesse momento favorável à luta das massas. Dizer o contrário é ir na contramão do que quer a maioria do povo. A tarefa do momento é convocar os trabalhadores e a população em geral a tomar as ruas com a palavra-de-ordem de “Fora Bolsonaro”. É preciso orientar as massas sobre o que fazer nesse momento em que a situação está amadurecida para derrubar o governo. Esse é o sentimento de amplos setores da população. Chegou a hora, sob pena de perdermos o momento favorável, o que poderá levar as massas a uma derrota: se a esquerda não toma a iniciativa, a direita já prepara uma ofensiva contra as organizações do povo.
É preciso sair às ruas para derrubar o governo e todo o regime golpista, exigindo eleições gerais, com Lula fora da cadeia e candidato.