O carnaval começou oficialmente na noite da sexta-feira, dia 21. As ruas foram tomadas por protestos espontâneos contra o governo Bolsonaro e os golpistas. O pré-carnaval já havia deixado clara essa tendência.
Ao contrário do que se apregoa nos meios pseudo-intelectuais de uma classe média – de esquerda e de direita – colonizada, distante da cultura popular, o carnaval é por excelência uma “festa política”. Desde as primeiras manifestações carnavalescas no País é possível verificar troças contra políticos, a situação social, a economia e por aí vai. O clima permissivo no carnaval é espaço fácil para a ironia, para piadas que são um prato cheio para a entrada da política na brincadeira.
Esse é um dos motivos que a burguesia nunca gostou do carnaval, embora como acontece com toda manifestação de massas, ela procure lucrar com ele. Na realidade, a burguesia tem horror ao povo na rua se manifestando, seja politicamente, seja culturalmente. povo na rua é perigoso para a direita.
Os foliões de 2019 e agora de 2020 mostraram que a direita sempre esteve certa em temer o carnaval. Uma enorme manifestação contra o governo de extrema-direita tomou conta das ruas nos quatro cantos do País.
Tirar o povo das ruas é o desejo da burguesia. Para isso, ela usa seus meios tradicionais: a polícia, o Judiciário, a censura, a propaganda negativa por parte da imprensa capitalista. No carnaval desse ano a polícia bateu demais, dispersou, prendeu, espacou e até se viu no direito de censurar músicas.
Mas houve um elemento paralelo que também foi usado pela direita contra o carnaval. O chamado “politicamente correto” serviu para colocar em prática um clima de controle policialesco e censura sob uma cobertura peseudo-esquerdista.
A esquerda pequeno-burguesa identitária apareceu com a ideia: não se pode cantar certas músicas (ou precisa se mudar as letras da músicas), não se pode usar determinadas fantasias, não pode isso, não pode aquilo, “denuncie!” Até aí, tudo não passava do velho besteirol esquerdista que procura adaptar o mundo aos seus preconceitos. Quem não se lembra do vídeo da pretensa candidata à presidência da República pelo PCdoB, Manuela D´Ávila falando sobre as fantasias que podem ou não serem usadas no carnaval de 2018?
O problema é que a direita, a burguesia abraçou a ideia identitária, que no fundo sempre foi dela. E esse ano foi possível ver que instituições estatais colocaram em prática a política identitária, que a imprensa golpista fez propaganda dessa ideologia. E tudo isso serviu para ajudar no clima anti-carnaval. A ponto de que um dos blocos mais tradicionais do País, o Cacique de Ramos no Rio de Janeiro, ter cogitado não sair à rua por conta das fantasias de índio. Isso apenas para ficar em um caso.
A esquerda e seu “politicamente correto”, usamos as aspas porque na realidade não há nenhuma política correta nessa ideia, serviu para ajudar a burguesia em sua campanha contra o carnaval. Apenas isso!