O dia de ontem começou com a imprensa golpista noticiando e repercutindo a declaração de Fernando Haddad de que, em conversa com Lula, os dois teriam decidido sair em caravanas pelo País, preparando a eleição presidencial de 2022.
Embora Fernando Haddad tenha afirmado que a ideia de Lula é preparar uma candidatura caso ele não consigo ter seus direitos políticos restabelecidos, a imprensa golpista e muitos setores da direita apresentaram a notícia como melhor lhe convêm: Haddad será o candidato do PT e Lula estaria desistindo de ser candidato.
A maneira de apresentar o fato, totalmente distorcida, mostra muito bem a quem interessa que Lula abra mão de ser candidato.
Direita quer Lula fora do jogo
O sítio de extrema-direita, O Antagonista, por meio de seu principal editor, Diogo Mainardi, afirmou que “Haddad tem tudo para ser eleito”. O Globo publicou matéria com o seguinte título: “Lula indica Haddad como pré-candidato do PT para presidente em 2022”.
A distorção da notícia mostra que a direita ficou aguçada com a ideia de que Lula pode desistir de sua candidatura. Na realidade, a direita força a barra nesse sentido, porque esse é o seu interesse.
A burguesia sabe que Lula é o único capaz de polarização a eleição e derrotar Bolsonaro. Além disso, uma candidatura de Lula inviabiliza completamente a manobra da direita de procurar lançar um candidato golpista com aparência de oposicionista.
Quando a imprensa golpista afirma que Haddad pode ganhar de Bolsonaro não significa que a direita irá apoiar Haddad nem mesmo que ela acredita que Haddad possa vencer. O que a direita quer é convencer o PT a abandonar Lula por uma candidatura muito mais fraca. Como ficaria estranho que a direita dissesse para o PT, lancem Haddad e não Lula, ela aparece dizendo que Haddad é um candidato com maior chance. A direita está tentando orientar as decisões do PT de fora, usando a imprensa.
O problema dessa tese é que a popularidade de Haddad não é dele mesmo, mas vem do apoio de Lula. Como seria possível, então, que Haddad tenha mais votos que Lula?
O correto é Lula ou nada
É inegável que a imprensa golpista está apresentando a declaração de Haddad e a suposta decisão de Lula de maneira distorcida. Não existe de fato um política de desistência de Lula em favor de Haddad.
A única conclusão concreta a que se pode chegar com a declaração de Haddad é que Lula decidiu sair com ele em caravana para fazer a campanha presidencial. O resto é especulação.
De qualquer modo, a notícia favorece uma explicação importante sobre a questão da candidatura de Lula.
A procura por um “plano B” ou um substituto, mesmo que a candidatura de Lula seja a prioridade, só serve para confundir a luta pelos direitos do ex-presidente.
É preciso ter uma palavra de ordem clara: restituição de todos os direitos políticos e Lula presidente!
Não se trata de uma reivindicação meramente eleitoral, mas de um plano de luta, de mobilização. A única maneira de conseguir que Lula seja candidato é arrancando esse direito na marrar, o que significa que será preciso mobilizar o povo.
A mobilização não permite palavras de ordem confusas. Levantar a reivindicação de “Lula candidato só se der, se não der será outro” tem a única serventia de gerar confusão e desmobilizar.
Por outro lado, a confusão permite que a direita intervenha nesse movimento, como já está fazendo. Diante de tal confusão, a imprensa golpista vai apresentar Haddad como candidato, mais ainda, como candidato capaz de vencer, e Lula como um derrotado, que não poderá ser candidato, que vai desistir.
A luta pela candidatura de Lula deve ser entendida como uma alavanca para a mobilização, um instrumento capaz de colocar o povo em choque contra o regime político golpista.
A direita não quer Lula candidato não apenas porque Lula tem grandes chances de ganhar a eleição. Se fosse apenas por um problema eleitoral, a burguesia pode lançar mão de muitas manobras para tentar vencer. A preocupação da direita é com o aprofundamento da polarização política que uma candidatura de Lula pode causar.
Por isso, o mais importante nesse momento não é pensar em manobras eleitorais, mas lançar um programa de luta pelos direitos de Lula, capaz de mobilizar o povo.
Se os direitos de Lula não forem restituídos, e há grande chance que isso aconteça, é preciso denunciar a ditadura e chamar o povo a se mobilizar contra ela, o que significa impor a candidatura de Lula à força.
Se pelo contrário, a esquerda se mostra disposta a aceitar a ditadura, com maior disposição ainda a direita irá manter a sua ditadura. Escolher um substituto de Lula nessas condições é a mesma coisa que dizer para a direita: “nós queremos Lula, mas se vocês não quiserem, nós aceitaremos de cabeça baixa”. Ou seja, no fundo, é jogar a decisão nas mãos da própria direita.
Nas eleições de 2018 esse mesmo erro foi cometido. O abandono da candidatura de Lula e a substituição por Haddad serviu para facilitar os planos da direita. Foi uma capitulação diante da fraude e da ditadura que colocou o candidato mais popular na cadeia, de maneira totalmente ilegal, simplesmente para que ele não fosse eleito.
O erro de 2018 não pode ser repetido. Lula ou nada significa não abaixar a cabeça diante da ditadura dos golpistas, mais ainda, significa enfrentar essa ditadura não apenas nas eleições, mas na mobilização.