O conturbado cenário político, econômico e sanitário nacional vem evoluindo rapidamente para uma situação de crise generalizada, envolvendo as mais diferentes forças vivas da sociedade. A chegada da pandemia do coronavírus, disseminando a epidemia por todas as regiões do território brasileiro, fez exacerbar todas as maiores contradições que já estavam em curso no país, em particular o cenário econômico, onde a burguesia vem aplicando uma política de ataques contra a economia nacional e de guerra contra a população trabalhadora e os explorados de uma forma geral.
No terreno político, os desatinos do presidente fraudulento Jair Bolsonaro vem se intensificando a cada dia, com o ocupante clandestino do Palácio do Planalto se colocando cada vez mais como protagonista e ator principal das ameaças golpistas. Bolsonaro tem comparecido às manifestações da extrema direita, onde são invocadas palavras de exaltação ao golpe e à ditadura de 1964, elogios aos militares golpistas e retorno do AI 5.
Neste último domingo, dia 19 de abril, mais uma dessas manifestações fascistas, de conteúdo nitidamente golpista foi levada a efeito em Brasília, nas dependências do QGE (Quartel General do Exército), onde mais uma vez Bolsonaro fez eco à histeria da malta reacionária que ali compareceu para exaltá-lo e reivindicar o golpe de Estado. No que diz respeito às reações que se seguiram à presença do presidente fascista às manifestações, uma enxurrada de declarações de “condenação” (!!!) se sucederam nas redes sociais, todas elas criticando o ato golpista e o apoio de Jair Bolsonaro à manifestação da extrema direita.
Da esquerda à direita, as dezenas de declarações contrárias ao apoio de Bolsonaro ao ato reacionário e direitista foi objeto de ampla veiculação em toda a imprensa golpista, que também “condenou” o ato, obviamente com as reservas habituais de quem apoiou a eleição fraudulenta do representante da extrema direita. Por parte da direita tradicional – a que hoje vem recebendo o codinome de “direita civilizada”, “democrática” – também houve, com o devido conteúdo retórico demagógico – condenações.
Merece todas as reticências e reservas as “condenações” vindas por parte deste setor, pois são estes que têm emprestado seu apoio, quase que incondicional, às pautas econômicas do bolsonarismo, que são, em toda a sua extensão e conteúdo, um ataque em regra à economia nacional e aos direitos dos trabalhadores, como se viu recentemente na votação da MP 905, que aprofunda ainda mais os ataques aos direitos trabalhistas. Por mais que a esquerda identifique nestes setores possíveis aliados na luta para conter os arroubos autoritários de Bolsonaro e até mesmo um possível apoio a um impeachment, a verdade é que não nenhuma possibilidade de levar adiante qualquer iniciativa, por mais moderada que seja, para alijar do poder o presidente fraudulento e fascista. Tratas-se de uma ilusão infantil acreditar que a direita parlamentar irá colocar em marcha qualquer plano que interrompa o ciclo de ataques do bolsonarismo à economia nacional e às massas populares.
Também é falso e sem credibilidade o apoio da direita ao isolamento social, pois o que se vê é uma enorme pressão para o relaxamento da quarentena, conforme anunciado pelo presidente da Fiesp, o bolsonarista Paulo Skaf. O empresariado direitista está em posição confortável dentro do congresso, muito bem representado pela direita “civilizada”, e não é daí que sairá qualquer ação ou iniciativa favorável aos interesses da maioria da nação, dos trabalhadores e do conjunto da população. Nunca é demais lembrar que não existe, na prática e no dia a dia, quarentena para os que precisam lutar pelo sustento de suas famílias. Esta é a realidade do trabalhador, do operário e da população explorada.
O fato é que enquanto a direita promove carreatas, marchas e manifestações golpistas, de defesa da ditadura, da tortura e dos generais assassinos de 1964, a esquerda permanece hibernada em seu sono profundo, trancafiada em seu confinamento, físico e também político. Quando aparece, quando coloca a cara na janela, é para apoiar os “panelaços”, que parece ser a única ação que a esquerda vê como forma de protesto e luta contra Bolsonaro e suas ameaças de golpe.
A adesão formal de determinados setores da esquerda ao “Fora Bolsonaro” (Psol, PT) não indica que esta mesma esquerda esteja disposta a mobilizar a população para a derrubada do governo fascistóide, pois nem mesmo para garantir atendimento e assistência médica às massas populares, diante do adoecimento crescente que vem atingindo a população pobre, há qualquer ação política concreta por parte da esquerda. Ao contrário, os sindicalistas vinculados a estes partidos fecharam as portas dos sindicatos e outros simplesmente entregaram as entidades para os governadores de direita, em nome da “unidade nacional” no combate ao vírus. Um escândalo; uma traição vergonhosa!
Fica a pergunta: se já estava difícil antes, se a esquerda se recusava a mobilizar pelo “Fora Bolsonaro” antes da epidemia, o que poderá ser feito agora para enfrentar as baionetas e os tanques dos generais golpistas???