Existe uma tendência no futebol brasileiro que não necessariamente vai se impôr completamente, porque existe uma luta sendo travada, mas é a transformação do futebol brasileiro em futebol europeu. É uma luta que diz respeito ao futebol europeu e seus grandes monopólios, como Real Madrid e Barcelona, que facilitam o domínio dos clubes pelos capitalistas. Como exemplo e sintoma disso, hoje podemos ter como comparação os times mais ricos do Brasil, Flamengo e Palmeiras, muito a frente dos outros demais clubes.
Financeiramente falando, a distância entre estes e outros clubes é grande já. Os times brasileiros não estão, ainda, na distância que os ricaços espanhóis ficaram a partir de determinado momento, em que ganhavam todos os jogos de goleada, batiam recordes de prêmios, tornando o campeonato um pontos corridos sem graça, em que a maioria não tinha nem vontade de ver os jogos porque já sabia como ia acabar.
Agora, já são dois anos em que Flamengo e Palmeiras venceram os torneios mais importantes da temporada. Em 2019, Flamengo foi campeão do Brasileirão e da Libertadores. Em 2020, o Palmeiras foi campeão da Libertadores e da Copa do Brasil, enquanto o Flamengo foi bicampeão. É uma hegemonia que vai se desenhando, mas ao mesmo tempo contraria o próprio futebol brasileiro, o mais competitivo do mundo, como deu pra observar nos pontos corridos em que tivemos diversos times na liderança e o torneio só se definiu na última rodada.
Nesse sentido, é preciso contar a história inteira: foram diversos movimentos dentro dos clubes, interligados e ao mesmo tempo na disputa pelo poder. O antigo Clube dos 13, sua posterior implosão, a disputa por modelos de negociação de direitos de TV, etc. Tudo isso passou, mostrando a ação do imperialismo nesse sentido, pelos escândalos e corrupção que mudaram a configuração da CBF (Confederação Brasileira de Futebol ) a partir de uma intervenção exterior e as questões da Copa do Mundo de 2014.
O imperialismo interviu na Copa no Brasil, pois não queria a vitória do futebol brasileiro sendo usada como trunfo eleitoral do Partido dos Trabalhadores, na época governo Dilma, que estava já num caminho para sofrer um golpe de Estado, dado pelos norte-americanos. Naquela época, setores menos esclarecidos da esquerda, como Guilherme Boulos, embarcaram na campanha imperialista do ”não vai ter copa”.
Foi assim que começou a ser desenhada a nova relação de força entre os clubes brasileiros. Se a relação já era desigual em 2003, lá na época do inicio dos pontos corridos, agora em 2021, com novos contornos como contratos exclusivos de direitos de transmissão da Libertadores e o regulamento da Copa do Brasil priorizando os times que já estavam na competição internacional.
Finalmente, a ”europeização” ou ”espanholização” do futebol brasileiro é um grande ataque a cultura nacional, ao esporte mais preferido do povo. Não se pode confundir uma boa fase de seu clube do coração com uma tendência proposital a monopólio das forças competidoras, como maneira de enfraquecer o próprio esporte nacional. A boa fase dos times faz parte da competição, mas existe uma ampla tendência dos capitalistas em acabarem com o futebol brasileiro.