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Fome e desemprego se somam

A partir de janeiro, 24 milhões não terão renda nenhuma

O fim do auxílio emergencial irá aumentar imediatamente a fome e a pobreza extrema e colocará mais 10 milhões no índice de desemprego

A comida foi cortada em 75% dos que recebem o auxílio emergencial quando o valor caiu de 600 para 300 reais. E 24 milhões vão ficar sem renda alguma a partir de janeiro. (Folha de S.Paulo, 20/12/20) Sem emprego, sem bico e sem auxílio, restará a solidariedade dos vizinhos e a fome. Vão se somar aos 10 milhões que já passavam fome em setembro, segundo levantamento feito à época pelo IBGE. (BBC, 25/9/20)

Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE, em 2017 e 2018, 10,3 milhões de brasileiros viviam em domicílio com privação severa de alimentos em 2017-2018; 36,7% dos domicílios tiveram algum grau de insegurança alimentar; metade das crianças menores de cinco anos moram em domicílios com algum grau de insegurança alimentar; mais da metade dos lares com insegurança alimentar grave, são chefiados por mulheres; 1,3 milhão estão no Nordeste. Essa pesquisa ainda não foi feita para 2019 e 2020, mas outros dados, como desemprego aumentando vertiginosamente e a redução dos direitos trabalhistas e sociais, indicam que os números são alarmantes e se transformarão em dramáticos em 2021. (Fiocruz, 20/10/20) Nessa pesquisa do IBGE o quadro da pobreza extrema no Brasil já era insuportável. “Segundo dados do IBGE, divulgados em 17 de setembro, o número de brasileiros que enfrentam insegurança alimentar grave subiu 43,7% em cinco anos. Em 2018 havia no Brasil 10,3 milhões de pessoas nessa situação, contra 7,2 milhões em 2013. Conforme a pesquisa, entre a população de 207,1 milhões, 122,2 milhões eram moradores em domicílios com segurança alimentar, enquanto 84,9 milhões viviam com algum nível de insegurança alimentar. Deste último conjunto, 56 milhões estavam em domicílios com insegurança alimentar leve, 18,6 milhões, insegurança alimentar moderada, e 10,3 milhões de pessoas em domicílios com insegurança alimentar grave.” (OutrasPalavras, 23/9/20)

Dos 107,9 milhões de brasileiros que solicitaram o auxílio emergencial, 67,9 milhões tiveram os pedidos aceitos. O número dos que foram rejeitados é enorme, corresponde a 41,3 milhões de pessoas que, mesmo precisando receber, não se encaixaram em todos os critérios da legislação. Os que fraudaram foram poucos, ao que parece só os 70 mil militares que receberam indevidamente e 10,7 mil políticos direitistas e familiares de prefeitos de partidos de direita.

De acordo com o Datafolha, em pesquisa realizada entre 8 e 10 de dezembro, com a queda no valor do auxílio, 75% reduziu a compra de alimentos, 55% cortou remédios, 57% diminuiu o consumo de água, luz e gás e 51% deixou de pagar as contas da casa.

O governo federal informa que neste ano o total de recursos destinado ao auxílio emergencial será de R$ 322 bilhões. Parece muito, mas, mesmo que esteja certo, esse montante não é nem uma pequena fração do que o governo destinou aos bancos desde março. Foi R$ 1,5 trilhão para fomentar o crédito e mais R$ 900 bilhões (podendo ter chegado ao dobro disso) para a compra de títulos podres em poder dos bancos desde a crise de 2008. (Auditoria Cidadã, 1/7/20)

O auxílio emergencial irá se mostrar nas estatísticas do período como um amortecedor da tendência ao aumento da desigualdade, ao aumento da fome e ao aumento do desemprego, mas seu fim, sem que as outras condições se alterem provocará uma calamidade. Segundo o economista do Senado Federal Pedro Fernando Nery, em entrevista ao IHU On-line de 21/12, “dez milhões deixaram de trabalhar em 2020, mas isso não se refletiu na taxa de desemprego porque boa parte não ficou buscando ativamente uma ocupação. Estavam no chamado desemprego oculto e agora irão para o desemprego aberto, que é o capturado nas manchetes de jornais”. Ao ser perguntado sobre quais os efeitos do fim do auxílio emergencial, respondeu: “Receio que o aumento do desemprego, da pobreza e da desigualdade seja rápido e para um patamar mais alto do que antes da pandemia. Ou seja, vamos sair de 2020, com a menor taxa já registrada para a pobreza extrema e para a desigualdade de renda (medida pelo Índice de Gini), para um 2021 em que esses indicadores devem ser os mais altos em algumas décadas. O desemprego provavelmente vai subir para um nível mais alto do que na recessão de 2015-2016.” (IHU, 21/12/20)

O desemprego continua aumentando, apesar das notícias forçadas pelo governo de que a economia está em retomada. As estatísticas oficiais do IBGE mostram um desemprego na casa dos 14,6% em setembro. Este número é muito menor que a realidade, já que expressa somente o número de pessoas que estavam procurando emprego na semana em que a pesquisa é realizada. As condições especiais de nosso tempo, com as pessoas tendo que ficar em casa e as empresas muitas vezes se encontram fechadas e, adicionalmente, com o auxílio emergencial amortecendo a necessidade de busca imediata de trabalho, fazem com que muitos deixem para procurar emprego em outro momento. A expectativa é que a partir de janeiro esse número cresça muito. Mas veja-se também porque esse número é pequeno frente a realidade nacional, como o resumo da pesquisa do IBGE de setembro (G1,27/11/20):

  • Mais 1,3 milhão de pessoas entraram na fila em busca de um trabalho no 3º trimestre frente ao segundo;
  • A taxa de desemprego subiu em 10 estados e ficou estável nos demais. Bahia (20,7%) teve a maior taxa e Santa Catarina (6,6%), a menor;
  • Taxa de desemprego foi de 12,8% para os homens e 16,8% para as mulheres;
  • Entre as pessoas pretas, a taxa foi de 19,1%, enquanto a dos pardos foi de 16,5%; a menor taxa foi a dos brancos: 11,8%;
  • O desemprego é maior entre os jovens, com destaque para a faixa das pessoas de 18 a 24 anos de idade (31,4%);
  • O contingente de ocupados atingiu mínima histórica de 82,5 milhões de pessoas;
  • Nível de ocupação foi de 47,1%; ou seja, menos da metade da população em idade para trabalhar está ocupada no país;
  • O número de desalentados (pessoas que desistiram de procurar emprego) bateu novo recorde, chegando a 5,9 milhões;
  • A taxa subutilização atingiu recorde de 30,3%, reunindo um total de 33,2 milhões de pessoas;
  • O número de pessoas com carteira assinada caiu 2,6% frente ao 2º trimestre, com perda de 790 mil postos;
  • O percentual da população ocupada do país trabalhando por conta própria foi de 26,4%.
  • A taxa de informalidade subiu para 38,4%, contra 36,9% no trimestre anterior, o que corresponde a 31,6 milhões de pessoas;
  • A massa de rendimentos dos trabalhadores caiu 4,9% (menos R$ 10,6 bilhões) em relação ao mesmo trimestre de 2019.

O que irá acontecer a partir de janeiro? Já se sabe que as condições de vida dos trabalhadores irão piorar e muito. A economia ainda estará empregando pouco. O que ainda não é um cálculo já dado é como a classe trabalhadora vai reagir e como isso vai repercutir na política. Se vai provocar mais uma vez o movimento que levou ao amortecedor social do auxílio emergencial, ou se ocorrerá outro conjunto de situações.

Já se sabe que o Estado está se armando, com mais polícias, com aumento de salários para os que estão envolvidos na repressão, com o Judiciário e com uma direita violenta assumindo prefeituras animadas com votações recentes. O quadro não é necessariamente de confronto, mas também não é de paz. A fome que se avizinha não deixará.

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