Um dos aspectos importantes da política de frente ampla elaborada no momento pela burguesia golpista no Brasil é procurar diferenciar a direita tradicional do bolsonarismo, como se a primeira fosse uma opção muito melhor para o povo do que o segundo. A manobra é feita de forma semelhante ao que foi feito nas eleições norte-americanas, ocorridas neste ano. Na ocasião, procurou-se pintar Donald Trump como a pior coisa que existia na face da Terra e convencer todos a votarem em Joe Biden, que é um direitista associado com os setores mais parasitários, belicosos, genocidas e criminosos da burguesia mundial. Foi falado repetidamente neste diário que Biden é apoiado pela família Bush e que em sua trajetória política pregressa, ele criou leis que aumentaram as penas para crimes como porte ou tráfico de drogas, além de apoiar todas as guerras e golpes do imperialismo.
Em terras nacionais, o “espantalho” é o atual presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro. A frente ampla, principalmente sua ala esquerda, procura atacar a política bolsonarista o tempo todo (apesar de nunca ter levantado o “Fora Bolsonaro!”), chamando-o de fascista, negacionista, assassino e irresponsável, o que é até correto. No entanto, desde o começo da crise do coronavírus, a esquerda se colocou totalmente a reboque da política dos governadores dos estados, em sua maior parte representantes da direita tradicional. Estes, por fazerem demagogia para a classe média com a pandemia, fazendo a propaganda do “fique em casa”, foram elevados ao patamar de “científicos” e “responsáveis”, apesar de nada terem feito pela população nesse período. Desse modo, figuras como João Doria ou Luciano Huck, acabam parecendo excelentes alternativas democráticas ao bolsonarismo.
No entanto, é preciso ter clareza do fato de que essa direita tradicional, representada por partidos como PSDB, DEM, MDB e outros, são os verdadeiros gestores do golpe de estado, que é a principal causa de todos os ataques que o povo brasileiro enfrenta no momento atual. Bolsonaro pode até ocupar a cadeira da presidência e ter se beneficiado do golpe de estado, mas os setores que realmente botaram em prática a derrubada do governo Dilma Rousseff em 2016 são esses que hoje são chamados de “científicos” e “democráticos.
O maior erro da esquerda no período anterior foi não saber se diferenciar dessa direita. O papel da esquerda não é apoiar as políticas da direita tradicional para procurar fazer uma oposição demagógica com o bolsonarismo, mas sim demonstrar para o povo o que realmente está acontecendo. Para o próximo período, é importante que a esquerda não incorra nesse mesmo equívoco. Daqui para frente, a questão política central serão as eleições presidenciais de 2022, e tudo indica que está sendo gestada uma gigantesca fraude eleitoral, nos moldes do que foi realizado em 2018. O principal aspecto dessa fraude é, da mesma foram que anteriormente, impedir a participação do principal candidato à presidência, que é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula é o candidato mais popular do país, com o maior número de votos e o único que tem alguma chance de impor uma derrota à burguesia golpista.
Diante desse cenário, a esquerda e os setores realmente democráticos devem se unificar na luta para a possibilidade de Lula ser candidato. Não adianta apenas dizer que “O Lula é um grande cara”, “O Lula tem que participar do processo”, “O Lula tem que ter uma voz ativa no processo”. Tudo isso não passa de uma capitulação. A única colocação que é realmente combativa e não é uma adaptação total aos golpistas é “Se a eleição acontecer sem a participação do principal candidato, é uma eleição farsa, fraudada e que não tem nenhum sentido de acontecer, senão o de sacramentar o candidato da direita golpista”.
Nessas próximas eleições, a função da esquerda não deve ser a de lançar um candidato qualquer e participar do processo, assinando embaixo de toda a manipulação golpista feita pela burguesia. A esquerda deve procurar desmascarar a farsa e a fraude eleitoral do golpe de estado, mostrar para o povo a manobra feita para impedi-lo de votar em seu candidato preferencial. A melhor forma de expor o golpe de estado para a população é justamente desmascarando as eleições fraudulentas. Se for feita uma campanha séria de defesa inabalável da candidatura de Lula em 2022, abre-se a possibilidade de uma mobilização popular para garantir essa candidatura e os direitos democráticos da população.
Além disso, é preciso denunciar todas as manobras da frente ampla e se delimitar claramente da burguesia golpista. Qualquer apoio a candidatos da direita tradicional, sob a falsa justificativa da luta contra o bolsonarismo, é uma verdadeira traição ao povo. A burguesia e a direita tradicional são inimigos, no mínimo, tão ruins contra o Bolsonaro. É preciso ter clareza na elaboração política e um aspecto importantíssimo disso é não se confundir com esses direitistas, cujos principais objetivos são arrancar o couro da população. A luta é contra o Bolsonaro, mas é fundamentalmente contra a burguesia brasileira, que deu o golpe de estado conjuntamente com o imperialismo, essa burguesia agora busca ludibriar a todos, procurando fazê-los votar em seus candidatos.