Reportagens da imprensa capitalista dão conta de que Baleia Rossi (MDB) está desesperado para manter a fidelidade de sua base de apoio a fim de garantir a maioria necessária para se eleger presidente da Câmara dos Deputados, a menos de uma semana para a definição do cargo.
Estaria havendo uma verdadeira debandada para o bloco que apoia o candidato Arthur Lira (PP), seu rival na sucessão de Rodrigo Maia (DEM). Deputados do PSDB, DEM, MDB, PSB e PT estariam “virando a casaca” a favor do candidato declarado do presidente fascista Jair Bolsonaro.
Nada mais comum, no entanto. Todos sabemos, inclusive os mais humildes dos cidadãos, que o Congresso Nacional funciona exatamente desta forma: o famoso “toma-lá-dá-cá”. Trata-se de uma briga constante por cargos, promoções, holofotes.
Os parlamentares, via de regra, são todos políticos fisiológicos. Nem mesmo a esquerda escapa dessa ratoeira. No início desta semana, Luíza Erundina denunciou o fisiologismo de seu próprio partido, o PSOL, sendo, ela mesma, uma exímia artista deste ramo.
Esse fato faz cair por terra a tese de que o bloco de Rodrigo Maia, que apoia Baleia Rossi, representaria os interesses democráticos da sociedade em contraposição aos interesses “autoritários” de Bolsonaro, representados pelo bloco de Arthur Lira.
Isso é defendido no manifesto assinado conjuntamente pelos presidentes dos partidos que estariam apoiando Baleia, incluindo o PT e o PCdoB. Diz o texto que a Câmara deve ser a “fortaleza da democracia no Brasil”, logicamente comandada pelo bloco de Maia, que seria a “luz” que combateria as “trevas” do bolsonarismo. “Enquanto uns cultivam o sonho torpe do autoritarismo, nós fazemos a vigília da liberdade”, reza o documento.
Pois vemos que, no meio da epopeia contra o fascismo, alguns dos heróis antifascistas abandonam o barco para deixá-lo afundar e bandeiam para o outro lado. É o caso, por exemplo, dos “socialistas” – não apenas antifascistas, mas socialistas! – do PSB. Nada menos do que 18 dos 31 deputados do partido têm preferência por Lira.
Qual o motivo de trocar a democracia pelo fascismo? Ou será que, de tantas discussões produtivas e civilizadas, esses deputados acabaram sendo convencidos de que, na verdade, os fascistas são democratas?
Logicamente que não há nenhum motivo ideológico para apoiar alguém nessa briga Baleia Rossi x Arthur Lira. Seriam nossos nobres deputados da República Federativa do Brasil idealistas sinceros? Negativo. A debandada que estamos vendo neste momento prova que esses senhores não passam de meras prostitutas de terno e gravata. Ou peças de leilão que são vendidas logo nas primeiras rodadas a quem der mais.
“Dou-lhe uma. Dou-lhe duas. Dou-lhe três. Vendido!”. E lá vai um deputado do PSB para o bloco de Arthur Lira.
O mais ridículo disso tudo é o fato de uma parte da esquerda brasileira continuar mantendo ilusões de que esses mesmos deputados irão encabeçar a luta contra o fascismo e a derrubada de Bolsonaro.
Até membros do PT estariam se bandeando para o bloco alegadamente bolsonarista. Onde está a luta contra o fascismo agora?
Esse episódio demonstra a furada que é a política de alianças com a direita, a mesma direita corrupta e bandoleira que votou em peso no impeachment criminoso de Dilma Rousseff em 2016 – está aí o livro-bomba de Eduardo Cunha para comprová-lo.
A frente ampla, que se vê também esboçada na Câmara dos Deputados, mostra-se uma armadilha mortal para a esquerda. A aliança com a direita não é mais nada do que a aliança com os maiores criminosos e traíras dentre todos os bandidos do País – incluindo os bandidos comuns, que têm mais escrúpulos do que os bandidos de colarinho.
A “luta contra o fascismo” e “em defesa da democracia” não passa, dito em linguagem popular, de conversa mole, ou de conversa fiada, para enganar os incautos. Trata-se de um pretexto retórico para embarcar nas mais espúrias alianças políticas em troca de cargos – que significam, logicamente, vultosos salários. O Congresso Nacional não é nada senão um gigantesco balcão de negócios em que burocratas estatais deitam sobre as mesas para exibir seus dotes aos capitalistas, a fim de receberem dinheiro em troca de apoio para subirem na carreira. E o mesmo fazem entre eles.
Pelo andar da carruagem, se a esquerda – que deveria, essa sim, prezar pelos princípios ideológicos, e não pelo “toma-lá-dá-cá” – mantiver a aposta de aliança com esses setores, obterá mais uma derrota para seu currículo desastroso que tem sido construído nos últimos anos.
É preciso deixar de lado a ingenuidade e entender a realidade. A Câmara dos Deputados é um covil. Não há ninguém disposto a lutar pela democracia ou em combater o fascismo. Até porque a maioria dos deputados que lá estão são responsáveis, em algum grau, pelo golpe final à democracia que constituiu o impeachment de Dilma e a ascensão de Bolsonaro.
A aliança da esquerda deve ser nas ruas, nos locais de trabalho e de estudo, com os sindicatos e organizações populares. Uma aliança com aqueles que, verdadeiramente, querem lutar contra o fascismo. É preciso abandonar, de uma vez por todas, as ilusões com a direita. Se não, será a direita disfarçada de democrática que irá abandonar a esquerda e deixá-la “chupando o dedo”. É o que estamos presenciando na luta pela presidência da Câmara.