Por mais que as políticas de criminalização sejam, praticamente, as únicas alternativas apresentadas pela esquerda e pelos movimentos de mulheres e feministas à sociedade, o efeito delas parece não eliminar, ou, pelo menos, coibir a violência contra as mulheres. Abrimos os jornais e o que vemos é que essa violência continua se avolumando mais e mais nas páginas policiais.
Casos de assédios, abusos e estupros continuam ocorrendo no ambiente de trabalho. Na grande maioria das vezes as mulheres ocupam cargos subalternos nas empresas, tendo, quase invariavelmente, como superiores indivíduos do sexo masculino. As mulheres trabalhadoras, além de estarem constantemente expostas à violência no ambiente doméstico e social de uma maneira geral, sofrem mais ainda seus efeitos no trabalho. Trabalhadoras, mais do que os homens, sofrem duplamente em seus empregos. São exploradas por servirem como mão de obra e subjugadas por serem mulheres. Muitas, especialmente as jovens, passam a ser objeto de desejo de seus colegas e superiores. Não raro, chefes se utilizam de sua posição para assediarem mulheres sobre seu comando e, como ocorre amiúde, recorrem ao estupro quando sua insistência e perseguição não surtem efeitos.
No dia 24 de outubro de 2019, uma jovem de 21 anos foi vítima de estupro por parte de seu superior imediato na Usina Presidente Vargas da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, RJ. O autor do crime foi preso em flagrante. A jovem passou por exames de corpo delito que confirmaram o estupro.
Segundo o jornal “O Dia”, uma amiga da vítima relatou que ela já sofria assédio por parte do réu há bastante tempo. Como as investidas não surtiam efeito, ele a levou para o almoxarifado, e a forçou a manter ralações sexuais não consentidas. O homem, de 38 anos, continua preso, de acordo com a Secretaria de Estado de Administração Carcerária.
No dia 02 de março, ao voltar ao trabalho após o término de seu afastamento determinado pelo INSS, a moça foi comunicada que fora desligada da CSN. Ela era jovem aprendiz e, segundo a empresa, seu contrato, que era temporário, expirara.
A amiga relata que a vítima está amedrontada e traumatizada, necessitando de continuar o tratamento psicológico e psiquiátrico a qual vem sendo submetida desde então. Além disso, desde que seu chefe foi preso, sofre constantemente ameaças por telefone. A garota não tem como arcar com as despesas médicas e a empresa não informou se arcará com elas, uma vez que com o término do contrato ela não mais contará com o Plano de Saúde oferecido pela CNS.
Apostar todas as fichas na criminalização e repressão da violência contra as mulheres, não só é uma política inócua, como contribui enormemente para o aumento da repressão policial, tão ao gosto da direita e no conjunto da sociedade.
Seria necessário que se criassem, nos locais de trabalho e nos bairros, comitês de defesa da mulher para orientar e acolher mulheres, assim como promover debates, os mais amplos possíveis, envolvendo não só as mulheres, mas toda a sociedade de forma democrática e popular para o combate a esse tipo de violência, seja doméstica, laboral ou social.
É preciso organizar um amplo movimento popular das mulheres para lutar por melhores condições de trabalho e que a elas fosse assegurada equidade de cargos e salarial com os homens. Ao mesmo tempo, é preciso travar uma luta contra a direita, a começar pelo próprio governo Bolsonaro, uma vez que são as contradições da sociedade capitalista, impulsionadas pela burguesia, que levam a todo tipo de exploração da mulher.