Boa parte da esquerda brasileira, em particular a esquerda pequeno-burguesa parlamentar, entrou de vez em uma campanha a favor de uma frente ampla puramente eleitoral com setores da direita para derrotar o bolsonarismo.
Repetem, assim, os mesmos erros indesculpáveis da esquerda na França e na Espanha, por exemplo, na década de 1930. A política foi a mesma: os partidos social-democratas e stalinistas entraram na onda da burguesia, que impulsionou uma frente popular para cooptar as lideranças dos movimentos operários e impedir que a classe trabalhadora lutasse de forma independente contra o fascismo.
Assim, as lideranças da esquerda fizeram os acordos mais espúrios e equivocados com a burguesia que, na verdade, adotou a estratégia de minar o poder da esquerda para fazer o fascismo avançar.
Na França, apesar de a esquerda quase entregar o poder à direita e aos fascistas – que estavam espalhados e organizados por toda a parte do país -, as diversas mobilizações revolucionárias dos trabalhadores obrigaram os fascistas a recuar. A burguesia teve de fazer uso da esquerda para conter a revolução, mas foi graças a essa mobilização revolucionária que, mesmo não alcançando o poder operário, levou à derrota do fascismo na França – que só chegou ao poder pela invasão da Alemanha nazista.
Por sua vez, a Espanha, no mesmo ano de 1936, viu a Frente Popular vencer as eleições. Logo em seguida, iniciou-se o golpe militar franquista. Em um primeiro momento, o golpe foi evitado na maioria das regiões do país devido à reação dos trabalhadores, armados em milícias. No entanto, as políticas erráticas do governo espanhol – justamente por ser um governo burguês, totalmente apoiado pela esquerda – fizeram com que o golpe prosseguisse e veio a guerra civil, que somente durou o que durou por causa da mobilização armada dos trabalhadores. Mesmo tendo como desfecho a vitória do fascismo, que implementou uma ditadura, esse exemplo mostrou mais uma vez o caminho correto para combater os fascistas: a mobilização revolucionária e radical da classe operária, e não a aliança com a burguesia. Esta, ao invés de ajudar minimamente, apenas atrapalha totalmente a luta contra a extrema-direita.
E é essa a frente que a esquerda deve formar para derrotar o fascismo: a frente entre as organizações populares e operárias, independente da burguesia, e não a frente ampla – ou frente popular -, que coloca a esquerda a reboque da direita. São iniciativas completamente diferentes e mesmo antagônicas. Uma tem o potencial de levar a vitória aos trabalhadores, não somente contra o fascismo, mas contra a burguesia como um todo. A outra, somente tratá a derrota para o conjunto dos explorados.