No dia 31 de outubro, o portal GGN publicou o artigo “Se fizer jornalismo, a Globo conseguirá ressuscitar a denúncia”, assinado por Luis Nassif. O texto, que trata da cobertura da Rede Globo sobre os desdobramentos do caso Marielle Franco, tem como objetivo indicar quais os caminhos que deveriam ser seguidos para a prática do jornalismo.
O artigo de Nassif começa apontando os supostos “erros de cobertura” realizados pelas Organizações Globo:
As Organizações Globo cometeram seu segundo grande erro de cobertura, fruto do descuido com a própria força. O primeiro, foi a tentativa de derrubar Michel Temer no episódio JBS. O segundo, agora, em cima de uma cobertura descuidada. Fiaram-se no inquérito que lhes foi vazado parcialmente. E não cuidaram sequer de checar os fatos com o próprio porteiro, e demais porteiros e moradores do condomínio de Bolsonaro.
Segundo Nassif, portanto, supostamente, a Rede Globo, principal órgão da imprensa burguesa brasileira, teria cometido erros por “descuidos”. Isto é, a Rede Globo teria falhado por não atender a determinados parâmetros técnicos para garantir a efetividade da reportagem.
Conforme defende o texto, esses erros seriam parte de um determinado “vício” adquirido recentemente no meio jornalístico por causa da Operação Lava-jato:
É o vício do jornalismo prato pronto, herdado da Lava Jato, que transformou a imprensa em mera publicadora de releases. Agora, é tratar de ressuscitar o morto, o jornalismo.
É necessário, no entanto, se opor às ideias defendidas pelo autor do texto em relação aos ditos “erros de cobertura”. Afinal de contas, a Rede Globo é uma empresa bilionária, que atua há décadas para atender os interesses dos capitalistas. Se há “erros” em sua reportagem, portanto, não é por um problema técnico, imperícia ou amadorismo – muito pelo contrário, é por excesso de experiência em como levar adiante uma propaganda reacionária e contrária aos interesses dos trabalhadores.
As Organizações Globo, inicialmente um modesto empreendimento jornalístico, viu seu patrimônio crescer rapidamente durante a ditadura militar. Obviamente, não se trata de uma coincidência: a Globo apoiou de todas as maneiras possíveis o golpe militar de 1964 e a sustentação do regime político que matou e torturou milhares de pessoas.
Passado o golpe militar, o empenho da Globo em atacar os trabalhadores e atender aos interesses dos patrões nunca cessou. Na campanha presidencial de 1989, por exemplo, na qual, pela primeira vez, concorreu, a nível nacional, o Partido dos Trabalhadores (PT), a Rede Globo “errou” diversas vezes para favorecer o candidato da direita, Fernando Collor, e para prejudicar a candidatura de Lula, liderança do movimento operário.
Os governos de Fernando Henrique Cardoso também foram marcados por uma série de afagos às Organizações Globo. Mesmo com o país na miséria, com pessoas literalmente morrendo de fome, a Globo encontrou condições para continuar crescendo.
Mais recentemente, a Globo atuou de maneira escancarada para que a direita tivesse sucesso em depor a presidenta Dilma Rousseff, o que acabou se concretizando no golpe de Estado de 2016. Por inúmeras vezes, a Globo “errou” ao omitir informações da quadrilha que armava o golpe de Estado, que incluía políticos como Michel Temer e Aécio Neves. Ao mesmo tempo, a Globo se mostrou bastante empenhada em promover a Lava-jato e prender o ex-presidente Lula.
A direita, que está tentando estabelecer um regime político com características ditatoriais, de modo a controlar as tendências à revolta dos trabalhadores, tem tentado criar, sob a base do mito das fake news, uma luta artificial contra as “notícias falsas”. Tais notícias, no entanto, sempre existiram – mas, nesse momento, se mostram como um pretexto para censurar órgãos de imprensa independentes, que não tenham condições de corromper o Poder Judiciário para ter seu direito de liberdade de expressão atendido.
O maior propagador de notícias falsas no mundo, no entanto, são os grandes monopólios da comunicação, entre os quais se encontra a Rede Globo. Por isso, é preciso abandonar qualquer tipo de consideração sobre os problemas “técnicos” em relação ao jornalismo de péssima qualidade feita pela imprensa burguesa e denunciar o seu caráter de classe: tem como único objetivo perpetuar a dominação da burguesia sobre os trabalhadores.