O ex-ministro e ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, publicou um artigo no sítio Brasil 247 chamado “A frente programática”. Mais correto seria dizer que efetivamente trata-se de uma carta aberta ao governador tucano de São Paulo.
Em seu texto, Tarso Genro se utiliza de diversos acontecimentos históricos e até marxistas para justificar a sua posição de apoio total e irrestrito da frente ampla para “combater” o bolsonarismo. E tenta dessa maneira dar uma repaginada na frente ampla com um novo nome: a frente programática.
Seus exemplos mostrariam supostas “frentes” entre a esquerda e liberais para combater um mal “maior”. Mas apesar das comparações em situações completamente diferentes, Tarso Genro busca justificar um acordo que não irá trazer nenhuma conquista para a classe trabalhadora e a única certeza é a derrota dos trabalhadores.
Tarso Genro vem intensificando a sua defesa da frente ampla. Desde o golpe de estado em 2016 e a ofensiva da direita contra o PT, Genro defendeu uma renovação no Partido dos Trabalhadores, chegando até a mudança de nome e a tradicional cor vermelha.
Após o golpe chegou a defender as forças armadas dizendo que não houve participação dos militares e que é uma instituição que apenas tinha simpatia na derrubada de Dilma Roussef e não ativamente na sua queda, inclusive com ameaças reais.
Em outro artigo, no ano passado, Tarso Genro defendeu abertamente a frente com a direita golpista.:
“Nós, da esquerda, precisamos determinar nossos compromissos e buscar convergências com outros campos políticos. Avaliarmos as condições das alianças e decidirmos unir (ou não) forças sociais, dependendo de cada situação concreta”
Segundo ele,
“Acho que a frente ampla do Uruguai é uma inspiração. É uma aliança composta por organizações sociais, partidos e personalidades”
o que afirmou para justificar que o PT deveria rever sua posição de hegemonia dentro da esquerda.
Neste início de ano chegou a escrever uma carta endereçada para o representante da extrema direita e conhecido com BolsoDoria, pedindo para o tucano fascista João Doria encabeçar a luta pela derrubada de Jair Bolsonaro da presidência da República.
O petista afirmou que estava motivado para escrever devido a manifestação de Doria de que a “união na luta contra a Pandemia precede todas as demais questões políticas na conjuntura”; contra o “o ódio exalado pelos dementes da base fascista do Presidente”, que tem sido direcionado a Doria, segundo Genro; e terceiro a gravação de um vídeo por Bolsonaro onde, segundo Genro, ele comete delitos de “difamação, ameaça e chamamento à organização de Milícias”. Ou seja, pede para o fascista Doria combater o fascista Bolsonaro.
A política proposta por Tarso Genro em seus diversos artigos pode até enganar os mais incautos, mas releva uma face extremamente perversa que é de colocar toda a classe trabalhadora a reboque da direita dita civilizada como Doria, Maia, Baleia, Temer ou até mesmo FHC. O petista pertence a uma ala direita dentro do partido que tenta de todas as maneiras isolar Lula e a ala ligada aos trabalhadores para conseguir seu objetivo de “virar” a página do golpe e apoiar a direita.
Essa unidade com a direita para combater o bolsonarismo não tem nenhuma luta, apenas se apoiar na direita para fazer campanha contra Jair Bolsonaro através das instituições que apoiaram o golpe e a ascensão fraudulenta a presidência.
E essa afirmação pode ser confirmada no fechamento do artigo de Genro onde ele diz
“Para isso, não devemos nem queremos dissolver nossas forças em um presente sem cor, mas sim prepará-las para emprestar cor ao presente cinzento. A Frente Programática para dirigir o país, costurada desde agora pelas formações de esquerda, tomará então as suas formas orgânicas. Formas definidas a partir de um programa unitário, que só poderá ser eficaz com o fim político do Cavaleiro da Peste, derrubado por um grande arco de alianças em defesa da vida e da democracia”.
A frente programática nada mais é que a frente ampla repaginada, onde a esquerda sem uma política própria e independente apenas irá ficar mais uma vez a reboque da direita e ajudar a consolidação do golpe de estado e no aprofundamento dos ataques a população. A mudança do nome vem bem a calhar após a derrocada da frente ampla nas eleições dentro do Congresso Nacional onde a direita civilizada foi comprada por Jair Bolsonaro e a esquerda pequeno burguesa ficou sozinha com os golpistas Baleia Rossi e Rodrigo Maia.
É preciso uma ampla denuncia dessa política e dos elementos pequeno burgueses que defendem aliança com a direita para derrotar o fascismo, mas que não tem nada de “luta” contra o fascismo e sim apenas de negociações de cargos e apoio nas eleições.