Na última terça-feira (25), o presidente ilegítimo Jair Bolsonaro divulgou um vídeo convocando uma manifestação contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). Ao mesmo tempo em que serviu para movimentar sua base de extrema-direita, essencialmente fascista e defensora de uma ditadura militar, a divulgação do vídeo serviu para aumentar ainda mais a crise em que o governo se encontra. Diante disso, tanto a esquerda nacional, que vem fazendo uma oposição extremamente moderada ao governo Bolsonaro, quanto a direita tradicional, que vem criticando superficialmente o governo para não ser associada com um iminente fracasso, decidiram reagir contra a iniciativa golpista do presidente ilegítimo.
Todas as declarações, no entanto, desde a esquerda petista, intimamente ligada ao movimento operário, até aos setores mais tradicionais da burguesia, diretamente ligados ao imperialismo, passando pela esquerda pequeno-burguesa centrista, como o PSOL, e pelo “centrão” abutre, como Ciro Gomes, apresentam o mesmo teor: a ameaça bolsonarista de instaurar um regime bonapartista deveria ser contrastada com a defesa das instituições burguesas: o Judiciário e o Congresso.
Justamente por causa dessa confluência entre os mais variados setores em uma luta contra Bolsonaro e em favor das instituições, o portal Brasil 247 publicou as falas de algumas figuras da política nacional e afirmou que essa operação estaria concretizando uma “frente ampla contra o golpe de Bolsonaro”. Em matéria do dia 26 de fevereiro, o portal destacou, entre outras, as seguintes falas:
Lula: “É urgente que o Congresso Nacional, as instituições e a sociedade se posicionem diante de mais esse ataque para defender a democracia”.
(…)
Haddad: “Bolsonaro, ao que tudo indica, cometeu crime de responsabilidade previsto na Constituição que jurou respeitar mas, certamente, nunca leu”.
Ciro: “Que o Congresso, sob as lideranças de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, e o STF, com todos os Ministros, saibam reagir a essa ameaça”.
Doria: “Devemos repudiar com veemência qualquer ato que desrespeite as instituições e os pilares democráticos do país. Lamentável o apoio do Presidente Jair Bolsonaro a uma manifestação contra o Congresso Nacional”.
Dessa maneira, fica claro que a ameaça bolsonarista está sendo utilizada para justificar uma operação tão golpista quanto: a “frente ampla”, repetidamente propagandeada por setores como Tarso Genro, da ala direita do PT, e Flávio Dino, do PCdoB. Essa frente consistiria, basicamente, na submissão de todo o movimento popular e operário a uma aliança composta — e, fundamentalmente, dirigida — por setores da burguesia tradicional — o chamado centrão, que foi responsável, em momentos anteriores, em que a polarização política era menos intensa, por aplicar a política neoliberal.
A aliança com esses setores — do qual o PSDB é o principal representante, visto que é o partido responsável por travar uma duríssima guerra contra a população de São Paulo por mais de duas décadas e pelo governo Fernando Henrique Cardoso, que conduziu o país a um colapso — não trará nenhuma vantagem para a esquerda. Muito pelo contrário: esses setores, uma vez que representam a burguesia e que se encontram completamente desmoralizados junto à população, já apoiaram Bolsonaro nas eleições de 2018 e estarão dispostos, a qualquer momento, a apoiar qualquer governo autoritário que o imperialismo decida impor.