Domingo (6), a Folha de S. Paulo publicou o que seria sua autocrítica em relação à cobertura do jornal sobre a operação Lava Jato. Sob o título “A Folha faz autocrítica”, a ombudsman do jornal, Flávia Lima, publicou o que seria o reconhecimento de um “erro”. Ela relata um almoço com ex-ombudsmans da Folha em que o diretor de redação, Sérgio Dávila, teria admitido que “o espaço dado pelo jornal às denúncias vazadas [relativas à Lava Jato] pela procuradoria é merecedor de críticas”.
Aparentemente, poderia parecer que a Folha está reconhecendo um erro. O problema é que a imprensa capitalista sequer acredita que houve um erro. A campanha pelo golpe de Estado era proposital e conscientemente dirigida ao propósito de perseguir o PT e a esquerda em geral, em benefício da direita golpista. Foi a campanha da Folha, junto com outros jornais reacionários, canais de TV e de rádio da direita, além de portais da internet, que alimentou a extrema-direita ao longo do golpe que levaria à derrubada de Dilma Rousseff, e que depois tiraria Lula das eleições fraudulentas de 2018, possibilitando a eleição de Jair Bolsonaro.
Imprensa foi cúmplice da Lava Jato
Mais adiante no texto, Flávia Lima afirma o seguinte: “Falando especificamente da Lava Jato, é possível dizer que a imprensa foi transformada, muitas vezes, em linha auxiliar da operação como uma estratégia de angariar suporte.” Essa consideração também visa confundir a realidade. A imprensa não “se transformou” em aliada da perseguição política realizada pela Lava Jato, e muito menos era uma “linha auxiliar”. Imprensa, juízes e procuradores agiam em conluio na perseguição política à esquerda e, especificamente, ao PT. A imprensa tinha o objetivo golpista de derrubar Dilma, de apoiar a prisão de Lula com uma campanha implacável e permanente, e de ajudar a fraudar as eleições de 2018, dando ares de legitimidade à farsa golpista.
Portanto, de forma alguma pode-se dizer que a imprensa burguesa foi simplesmente “linha auxiliar” da operação Lava Jato e de suas inúmeras ações arbitrárias, que destruíram qualquer possibilidade de alguém ainda ousar dizer que vivemos em um estado democrático de direito, sob pena que cair no ridículo. A Lava Jato estabeleceu o reino da arbitrariedade absoluta para a perseguição política golpista, e a imprensa foi cúmplice dessa operação. Imprensa, promotores e juízes tinham os mesmos propósitos e agiram de acordo com eles.
Reciclagem
O que a Folha de S. Paulo está fazendo é a mesma operação de tentativa de reciclagem que figuras da imprensa burguesa e determinados políticos também estão procurando fazer. No caso da imprensa, usou-se a parceria com o sítio The Intercept Brasil para a operação de reciclagem. A própria Folha, a revista Veja e Reinaldo Azevedo publicaram vazamentos em parceria com o Intercept para tentarem, depois de tudo que fizeram, aparecerem como democráticos. Do mesmo jeito, Michel Temer aparece chamando o golpe pelo nome: golpe. E assim por diante. Frente à possibilidade de queda do ilegítimo Jair Bolsonaro, esses setores se preparam para tentar se desvencilhar do golpe que promoveram no Brasil.