Em 2020, as lojas de eletrodomésticos Magazine Luiza ganharam bastante repercussão na imprensa nacional por anunciar um programa de treinamento exclusivo para negros. A medida de caráter unicamente demagógico foi bastante ridicularizada, ainda que muitos setores da esquerda ”identitária” resolvessem aprovar a propaganda de uma empresa capitalista, que assim como qualquer outra empresa capitalista, mais ainda da envergadura do Magazine Luiza, está metida em todo tipo de ataque contra os trabalhadores e, portanto, contra o povo negro.
Outras empresas observaram a repercussão que o episódio causou e resolveram apostar em um comportamento semelhante. A loja de cosméticos O Boticário também decidiu vender seu peixe iludindo os negros sobre a questão do racismo, pois anunciaram que não iriam mais utilizar o termo ”Black fridays”, mas sim ”Beauty week” , como se isso mudasse o fato de que seu dono é um grande apoiador do governo Bolsonaro e que isso fosse diminuir o número de negros mortos pelo coronavírus, pela polícia, pela fome, em nome de seus interesses enquanto burguesia.
O ano que passou foi especialmente notório por episódios de brutalidade policial contra negros. Vários deles registrados em câmeras, como os assassinatos de George Floyd, por policiais norte-americanos e de João Alberto, por seguranças privados e policial militar no Carrefour, em circunstâncias diferentes mas que se ligam no essencial: o genocídio do povo negro patrocinado pelo aparato repressivo estatal dos capitalistas.
É nesse sentido que iniciativas de cunho demagógico estão sendo feitas. O processo de trainee, alvo de críticas e ridicularização nas redes sociais, chegou ao fim com o ainda mais escatológico número. Entre 22 mil candidatos que passaram, foram apenas 19! Dezenove negros que serão contratados pela empresa, mostrando uma verdadeira palhaçada, uma ilusão que foi propagandeada como um grande avanço pela própria imprensa capitalista e por muitos setores ”identitários” da esquerda.
De acordo com a empresa, esta será a maior turma de trainees formada pela companhia. Como base de comparação, o programa do ano anterior, que seguia o padrão de mercado sem a temática racial, teve menos de 18 mil inscritos, com 12 selecionados. Fica claro que não há avanço algum, aumentaram 7 vagas! No Brasil, onde os negros são maioria e mais da metade da população está desempregada, este processo é um deboche do povo negro. O número é tão irrisório que 19 empregos para negros não resolve o problema dos negros nem dentro da própria empresa capitalista do varejo. O único objetivo é fazer propaganda enganosa do Magazine Luiza com os negros e com a esquerda pequeno-burguesa.
Por mais que se tente, com a imprensa burguesa colocando negros de classes intermediárias para fazer propaganda destas iniciativas de grandes empresas, fica óbvio que tais tentativas nessa etapa da situação política global mostram o desespero com que o imperialismo encara e trata a crise política em todos os lugares. É preciso denunciar a demagogia das grandes empresas, que fazem a política diversionista pró-imperialista do identitarismo ao mesmo tempo que promovem sua doutrina neoliberal que desemprega, extermina e mata de fome permanentemente os negros.