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"Fique em casa" para quem

O lockdown, na prática, não existe

A reportagem do DCO esteve nas ruas de São Paulo para mostrar a realidade da política de lockdown

Dentro da direita dita “científica” e de uma esquerda pequeno burguesa sem política para o trabalhador, o lockdown surge como uma “solução” para uma crise sanitária sem paralelo na história em relação à sua amplitude. Contudo, para quem circula nas grandes capitais, é patente que uma minoria da população – uma classe média privilegiada – consegue realmente ficar em casa. Um setor significativo dos trabalhadores continua utilizando o transporte público como metrô e ônibus, e para quem pode presenciar esse momento, sabe que a lotação não é nada diferente dos dias anteriores à pandemia. Enquanto um setor da população briga pelo “fique em casa”, para outra parte, sair de casa é simplesmente uma questão de sobrevivência. 

Não obstante, o setor que consegue ficar em casa, pois possui alguns privilégios de classe que lhes foram dados, ainda se propõe a perseguir e culpar uma parcela da população trabalhadora que se obriga a sair de casa para trabalhar. Este setor atrasado não consegue minimamente visualizar que para a população não é uma questão simplesmente de opinião ou vontade, mas uma questão básica da sobrevivência. 
E mesmo o isolamento social proposto pelos governos mostrou-se uma farsa quando olhamos para os números. No site In Loco, que acompanhou o isolamento social até o dia 24 de março deste ano via informações de GPS dos celulares, mostrou que em São Paulo o pico do isolamento ocorreu no dia 22 de março de 2020 – cinco dias após o decreto de quarentena –  com 62%. Dias após, no dia 31/03/2020 os valores já desceram dos 50%, com valores médios de 37% e os picos ocorrendo aos finais de semana. Porém, o que mais surpreende é quando olhamos nos dados da In Loco para o dia 2 de fevereiro: o isolamento já era de 38%, com uma média de 30%; pasmem! Mesmo antes do desespero da pandemia e antes mesmo até do Carnaval, já tínhamos um percentual de quase 40% da população ficando em casa. Isso evidencia que uma parcela da população já possuía o privilégio de ficar em casa mesmo antes da pandemia, e não foi de fato o lockdown que as manteve em casa. Aplicando uma matemática simples, podemos considerar que o isolamento social foi de apenas 20% no pico, e logo após 10 a 15%, com números muito otimistas. Vejamos no gráfico abaixo retirado do Mapa Brasileiro do Covid da Inloco:

O comportamento muito similar do gráfico ao longo do ano, mostra os picos nos finais de semana e os vales nos dias de semana. Também fica claro que a diferença gira em torno de apenas 10%.

O gráfico mostra claramente que o problema do isolamento não é decretar nada e nem fazer demagogia, mas paralisar a atividade econômica mantendo os rendimentos do povo pobre

Os governos federais, estaduais e municipais, que contavam com a sorte e não realizaram nenhum investimento real para o combate à pandemia, resultaram em uma política genocida para a população. Que fique claro: o tanto quanto se critica a política de falta de investimento do genocida Bolsonaro, a mesma quantidade podemos atribuir para os governadores de direita e até da esquerda pequeno-burguesa, como no caso da Bahia. Muito se falou contra Bolsonaro, que é realmente um criminoso contra a saúde pública, mas todos os governadores apoiaram a volta às aulas, por exemplo, e nada fizeram em relação à lotação do transporte público, estes mandatários são cúmplices do genocídio.

Outro ponto que salta aos olhos é a anestesia dos governos em promover a pesquisa da vacina nas mais de 100 instituições públicas brasileiras. Nenhum governo injetou o mínimo de dinheiro para a pesquisa do desenvolvimento de uma vacina nacional, numa típica política de ficar de joelhos diante do imperialismo e de total incompetência administrativa. 

O fato é que a maioria da população teve, está tendo e terá que sair às ruas em plena pandemia com transporte público lotado. Uma política de crueldade e de poucos investimentos no combate à COVID, que tornou o “lockdown” a única alternativa capitalista para a contenção do vírus, mas não contém o vírus, apenas busca impedir um colapso do atendimento médico, espaçando mais os casos. Os governos, no entanto, não buscaram uma solução que buscasse preservar as vidas de uma forma mais concreta.

Com um auxílio emergencial de apenas R$ 600,00 nos primeiros meses e diante de uma inflação de quase 100% nos artigos de primeiro consumo – como arroz, óleo e carne -, o desespero toma conta da população. Somamos ao caos estabelecido 14 milhões de desempregados formais, um número que é muito superior, visto que uma parte da população se jogou na informalidade – como entregadores de Ifood e Uber, e o recuo de 4,1% da economia em 2020. O país é um barril de pólvora no aguardo de uma centelha.

Mas o que já era quase o inferno na terra para a classe trabalhadora, não seria nenhum céu para o pequeno empresário. No lockdown, pequenos comerciantes são obrigados a fechar as portas, sem um auxílio real do governo e o código sanitário do Estado de São Paulo diz que um estabelecimento pode ser multado por não obrigar o uso de máscara em seu espaço físico no valor de R$ 5.278 por pessoa flagrada sem máscara, e o usuário, por sua vez, pode ser multado em R$ 551,00 por não usar máscara. 

A política de saúde pública dos governos não é ajudar a população a se cuidar, mas ameaçá-la e exigir dela o que não tem recursos para cumprir.

No “Sem lenço e sem documento” um setor da sociedade é posto à mercê da própria sorte. O trabalhador arrisca a própria vida na rua com o trabalho informal e o pequeno empresário sistematicamente abre falência – gerando mais desemprego. 

Quando o Diário Causa Operária saiu às ruas para conversar com vendedores ambulantes no período de lockdown de São Paulo, vimos que não é apenas o lockdown que dificulta o trabalhador mas também a repressão policial. Uma vendedora de máscaras – por volta de 50 anos  – na Zona Sul de São Paulo que preferiu não se identificar, declarou ao DCO que “não dá para ficar em casa, se a gente ficar em casa, morre de fome. A gente é obrigado a vir para rua e ainda correr da prefeitura e da Polícia Militar. Se eu ficar em casa eu passo fome. Não tem condições, com doença ou sem doença eu tenho que ir para a rua trabalhar”, e conclui que: “eu quero ficar em casa, mas com esse auxílio aí já era. Morre de fome mais rápido”.

Outro vendedor ambulante, que vende balas na avenida Paulista e também não quis se identificar, afirmou que “o lockdown realmente está atrapalhando, pela parte da circulação porque na verdade eu vendo as coisas e sobrevivo com as pessoas andando na rua independente que seja de carro ou a pé. Tanto o auxílio ou qualquer outra ajuda do governo não supre as minhas necessidades e a necessidade da minha família. Assim eu tenho que estar trabalhando, indo pra rua, vendendo as coisas e é uma coisa difícil”.

O trabalhador relata, ainda, que para “quem trabalha não tem essa de quarentena, pandemia, não tem nada. Está trabalhando da mesma forma. Só para você ter uma ideia, na 25 de março as pessoas estão trabalhando na rua sim, infelizmente.”

Tanto o auxílio ou qualquer outra ajuda do governo não supre as minhas necessidades e a necessidade da minha família. Assim eu tenho que estar trabalhando, indo pra rua, vendendo as coisas e é uma coisa difícil

Vendedor ambulante da Avenida Paulista

Para esses trabalhadores ambulantes, não há opção. Não existe a possibilidade de ficar em casa e fica claro que essa é a realidade desses e da maioria dos trabalhadores. No caso dos vendedores ambulantes, que todos os dias têm que enfrentar a repressão que os impede de trabalhar, a impressão que nossa reportagem teve é a de que o lockdown acabou servindo para piorar essa situação que sempre foi ruim. A vendedora de máscaras afirmou que a polícia ou a guarda aparecem o “dia inteiro” e que a partir das 10h ou 11h da manhã “a gente não trabalha mais. Só volta a trabalhar depois das cinco da tarde.”

Transporte público: tudo normal

É ainda mais cínico e segregatório o lockdown quando se anda no metrô de São Paulo no período da manhã, no horário de pico. No dia 24 de março, nossa reportagem registrou algumas imagens do metrô. Não há isolamento nenhum e as pessoas simplesmente precisam sair de casa.

Sem nenhum isolamento social para trabalhadores que não podem ficar em casa.

Metrô de São Paulo: Pressa e medo.

Sem contrapartida

Devemos ressaltar também, que durante a pandemia promoveu-se um ataque contra os direitos trabalhistas. Perdas significativas foram aprovadas no Congresso que aproveitou as portas fechadas dos sindicatos. Não é surpresa que a burguesia viu na pandemia uma oportunidade para atacar o trabalhador. 

Como este jornal já vinha falando desde o início da pandemia, o Estado burguês falido aplica uma política neoliberal de contenção de gastos públicos mesmo em meio à crise sanitária. Sem um forte investimento estatal, o resultado é que chegamos à casa de mais de 3.000 mortes por dia no Brasil, com uma média móvel crescente. No site oficial do estado de São Paulo os dados são caóticos:  “No dia 24 o cenário era de 30 mil pessoas hospitalizadas devido à COVID-19: são 30.359 internados, sendo 12.588 pacientes em leitos de Terapia Intensiva e 17.771 em enfermaria. Além disso, o estado registra hoje (24) recorde de ocupação em UTI com 92,3%, nunca antes atingida, sendo 92,2% na Grande São Paulo”. Parece uma piada macabra, mas os dados de São Paulo, que não podemos confiar, são melhores que outros estados onde a fila da UTI já ultrapassa 200 pessoas.

É um fato real que o Brasil até o final deste ano poderá se tornar líder de casos e mortes no mundo.

A população não pode mais acreditar que apenas uma política de isolamento social, que uma pequena parcela da população consegue realmente cumprir, irá resolver o problema da pandemia. Só com a ampla mobilização das massas e um programa legítimo para os trabalhadores é que poderemos diminuir as mortes e conseguir uma vacinação imediata e um auxílio digno para todas as famílias. Uma mobilização de massas pelo Fora Bolsonaro e todos golpistas é o caminho concreto nessa crise sanitária e também a única saída real para a classe trabalhadora.

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