A burguesia desenvolve estratégias ideológicas para passar a ilusão de que a sociedade capitalista é inclusiva. Bastaria que os indivíduos se esforçassem para atingir a tão sonhada prosperidade. A ascensão social estaria aberta a todos, independente de raça, gênero e origem social. A meritocracia seria a uma lei básica aplicável para todos.
Nesse esforço de ideológico surgiu a falácia do “empreendedorismo negro”. Segundo os representantes da burguesia, os negros teriam que ter criatividade para tornarem-se empreendedores e, com isso, ascenderem socialmente. Adriana Moreira, criadora da Feira Preta, afirma que o empreendedorismo faz a população negra emergir após 132 anos da abolição da escravatura no país. Ela coloca-se a si mesmo como um exemplo de empreendedora negra, uma prova de que basta ter as ideias corretas e esforçar-se para encontrar seu lugar ao sol na sociedade capitalista.
Quem propaga essa ideia do “empreendedorismo negro” é um inimigo do povo negro em seu conjunto. Não há qualquer inclusão social dos negros na sociedade capitalista, com ou sem empreendedorismo, uma vez que os negros são a maioria dos desempregados, subempregados e terceirizados; lotam as celas das penitenciárias, verdadeiros centros de tortura e extermínio; ocupam os postos de trabalho de menor remuneração; são sistematicamente assassinados pela polícia militar; sofrem com todos os tipos de preconceito e discriminação; são confinados nas periferias das grandes cidades, onde falta a infraestrutura social mais básica para a vida; sofrem com evasão escolar e trabalho infantil; experimentam forte repressão estatal aos seus costumes, cultura e religião. Frequentemente, os governos até mesmo propõem leis que buscam apagar as tradições históricas de luta do povo negro.
Essas iniciativas de tipo empresarial querem semear a ilusão de que os negros terão – um dia e por seus próprios esforços – lugar ao sol na sociedade capitalista. O que não é verdade. A ideologia do empreendedorismo busca maquiar a realidade de subemprego que atinge o povo negro. A demagogia cultural salta aos olhos, quando Adriana refere-se ao “consumidor negro” que deve criar uma forma de mercantilizar sua própria cultura, isto é, transformá-la em uma mercadoria para compra e venda no mercado. Caberia aos negros encontrar o elemento cultural de maior valor de troca do momento.
Os negros precisam travar uma luta política contra a sociedade capitalista e não buscar uma adaptação, ou seja, um lugar dentro dessa sociedade marcada pelo racismo, exploração e opressão. O empreendedorismo negro é uma estratégia pérfida para esconder a realidade.