A jornalista Cynara Menezes, do sítio Socialista Morena, publicou coluna no último dia 28 de outubro, sobre o resultado das eleições na Argentina. Com o título “Caiu o primeiro: derrota de Macri anuncia mudança de ventos na América do Sul”, a jornalista mostra sua euforia com a vitória eleitoral de Alberto Fernandes contra Macri.
“A ‘onda neoliberal’ começa a ser derrotada por seu próprio projeto econômico, propulsor da desigualdade e da recessão. Com a queda de Mauricio Macri neste domingo, a esquerda inicia sua volta ao poder pela Argentina”, afirma Cynara Menezes. Mas será que é disso que se trata? Vejamos.
É inegável que a Argentina foi levada a um desastre econômico e social pelos quase quatro anos de política neoliberal imposta por Maurício Macri após o golpe eleitoral que o colocou no poder. É inegável também que essa situação econômica levou o país ao ponto de ebulição social.
Uma ebulição que poderia tranquilamente ter levado a Argentina ao que passou recentemente o Equador e ao que está passando seu vizinho Chile. Mas no caminho disso tudo havia as eleições presidenciais que serviram como uma espécie de válvula de escape da revolta política das massas. Esse fato não significa, no entanto, que o país esteja fora da rota de protestos massivos que estão tomando conta do continente e esse deve ser uma primeira conclusão a ser tirada. As eleições, como é mais ou menos natural, canalizaram a revolta popular, mas temporariamente, sem terem – no entanto – resolvido ou mostrado como vão resolver quaisquer dos problemas fundamentais das massas agravados pelo governo neoliberal.
Desse ponto de vista não há dúvidas que a derrota de Maurício Macri representa uma derrota da direita no continente e pode enfraquecer a direita em outros países, como o Brasil. Esta derrota é a expressão de uma revolta das massas argentinas contra a política neoliberal e desmascara a impopularidade da direita golpista de modo geral.
Essa conclusão, porém, é muito diferente do que acredita Cynara Menezes e boa parte da esquerda que apresentou a eleição na Argentina como uma “mudança de rumo” para a América Latina ou como diz Cynara Menezes “novos ventos”.
Dizer que a vitória eleitoral de Fernandes é uma virada na tendência política geral no continente é uma simplificação e mais ainda uma demonstração da ilusão nas eleições.
Duas coisas precisam ser ditas. Primeiro que a direita golpista até o momento não parece disposta a abrir mão do poder político conquistado pela onda de golpes no continente. No Equador e no Chile, os governos acuados não caíram e procuram através de repressão e manobras se manter no poder. Se a “onda neoliberal” estivesse revertida, dificilmente esses governos teriam se sustentado. Nesse sentido, há a possibilidade de a direita na Argentina colocar em marcha o método golpista à la Aécio Neves com impeachment de Dilma Rousseff ou agora Carlos Messa na Bolívia.
A segundo é que o imperialismo procure controlar Fernandes, transformando-o num nome confiável para os capitalistas. Daí a reunião cordial feita entre ele e Macri já no dia que se seguiu ao resultado eleitoral. Fazer isso com Fernandes não seria tarefa tão difícil, já que o vitorioso é um representante de uma ala mais à direita do peronismo que inclusive havia saído do governo Cristina com críticas, coisa que a imprensa de direita faz questão de ressaltar. Fernandes não é um político com uma base social como os Kirchner ou, mais distantes ainda do que se dá com Lula e o o PT no Brasil, o que dificulta a burguesia de chegar aqui a algum acordo político.
O que acontece no Chile e aconteceu no Equador são exemplos mais reais do que pode acontecer no Brasil. As eleições na Argentina, não são o modelo mais confiável, pelo contrário, confundem o panorama político. A ilusão nas eleições leva à paralisia e à derrota.