Após um período de quarentena, muitos militantes dos partidos da esquerda institucional (PT, Psol, PCB e PSTU) finalmente abandonaram o confinamento dos seus lares e flexibilizaram o “# fique em casa” e saíram às ruas em diversos lugares nas manifestações do último domingo (7/2). Entretanto, apesar dos partidos de esquerda ter o vermelho como uma cor caraterística da sua luta, como uma identificação, como um emblema do socialismo, não se viu os “socialistas” com suas bandeiras e nem vestidos de vermelho. Por que será?
As manifestações tiveram pessoas e faixas em preto como predominantes. Evidentemente, que o movimento pela democracia realizado pelas torcidas organizadas, em especial pela torcida corintiana, já utilizava o preto, inclusive com marca característica. Por sua vez, os jovens que se reivindicam anarquistas têm a indumentária preta como a expressão política tradicional. Os participantes do movimento negro resolveram adotar o preto como parte do protesto “vidas negras importa” que tem uma amplitude colossal após o assassinato de George Floyd em Minneapolis nos Estados Unidos.
A questão não é a presença do preto, mas porque da ausência do vermelho, uma vez os militantes dos partidos de esquerda estavam participando dos atos e passeatas.
Durante a semana que precedeu o dia 7 de junho, após o ato organizado pelas torcidas na Avenida Paulista em São Paulo, a imprensa burguesa fez ostensiva campanha contra a convocação de atos contra Bolsonaro. A própria esquerda “ antifascista” alegava que não poderia sair as ruas para não dar “ pretextos” para a campanha golpista de Bolsonaro, por sua vez, os “ defensores da vida” que não movem uma palha contra o genocídio devido a pandemia do Covid-19 pediam para não ter atividade em rua para não “ aumentar as mortes”.
Após muita controvérsia o PT e o PSOL resolveram integrar as manifestações de ruas, o que gerou contestações no interior desses partidos. No PT, a direita do partido fez campanha contra a participação (Camilo Santana, governador do Ceará e o Jaques Wagner, senador Bahia declararam-se contra). Por sua vez, enquanto Boulos procurou estrangular o movimento por dentro, Marcelo Freixo, cinicamente declarou que “apoiava”, mas não iria.
Então, despois dessa enxurrada de senões, uma parcela dos militantes do PT, PSOL e de outros partidos como PCB e PSTU foram as manifestações, e na maioria dos casos de preto, visando esconder o vermelho ou seja não ter uma identificação política clara e se diluir nos atos. Essa ausência de bandeiras vermelhas por parte da esquerda é a repetição do “abaixe as bandeiras” de 2013.
O curioso é que durante a semana, um dos instrumentos “argumentativos” dos partidos da esquerda institucional foi a sórdida campanha contra os “baderneiros” e os “infiltrados”, usando o “fantasma de 2013” de maneira conveniente para defender manifestações pacíficas, quer dizer controladas.
A repetição da “tragédia de 2013” é promovido pela esquerda em 2020, que abandonam o vermelho e escondem seus símbolos. Dessa forma, o abandono do vermelho é uma maneira desses partidos (PT,PSOL,PCB e PSTU) se adaptarem a pressão da imprensa e da burguesia contra a esquerda. Em alguns lugares, os próprios partidos de esquerda procuram enquadrar os que levavam bandeiras como em manifestação em Recife.
Nos atos coxinhos, em especial nos bolsonaristas, a utilização do verde amarelo, apesar de forma alguma representarem remotamente a defesa do nacionalismo é uma “ tradição” que extrema direita procura fomentar. O uso das camisas amarelas, quase sempre da seleção brasileira de futebol, é uma maneira de se contrapor a esquerda, e ao PT em particular, no mote anticomunista que “ a nossa bandeira jamais será vermelha”.
Somente depois de muita luta, sobretudo depois das manifestações contra o golpe em 2016 e pela liberdade para o ex-presidente Lula, que os militantes do PT passaram a levantar as bandeiras e voltar a usar o vermelho. Entretanto, a política de “virar a pagina do golpe” e “contra polarização” da direita do PT, PCdoB, com a adesão PSOL tem refletido novamente na “ fobia” em usar o vermelho.
O PCdoB, principal fomentador da frente ampla com a burguesia, apresentou inclusive a política de se “disfarçar” de coxinha em 2019 nos atos contra os cortes da educação. Recentemente, chegaram a esconder o nome do partido no “movimento 65”. Nas manifestações em junho de 2020, o PCdoB não saiu ás ruas contra Bolsonaro, preferindo lives com FHC e outros golpistas.
Do mesmo modo que em outras questões, abaixar a bandeira e abandonar o vermelho não são aspectos irrelevantes, mas são fortes indicações da confusão predominante na esquerda. Procurar esconder-se, dilui-se ou adapta-se indica o aprofundamento da capitulação da esquerda institucional a pressão da opinião pública burguesa.