O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), conhecido por apoiar a intervenção da polícia militar nos morros cariocas e por receber o apoio da Rede Globo nas eleições municipais de 2016, veio às redes sociais na última semana para defender o criminoso bloqueio do perfil de Donald Trump no Twitter:
E o Twitter botou uma focinheira no Trump. Vamos precisar de outra para o Brasil @Twitter.
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) January 9, 2021
A declaração é clara. Para Freixo, um monopólio censurar um presidente da República, ainda mais do País mais importante do mundo, é algo a se comemorar. E, no que depender dele, o mesmo deveria acontecer com o presidente ilegítimo Jair Bolsonaro.
A base desse tipo de argumento é que Trump seria um fascista, e que contra o “fascismo”, qualquer coisa seria válida. Essa concepção, contudo, é absurda.
Não existe uma luta contra o fascismo em abstrato. O “vale tudo” sempre é a luta entre um determinado setor da sociedade contra outro. No caso do Twitter, isso é bastante simples. Trump não está sendo combatido pela esquerda, através de uma ferramenta colocada acima da luta de classes. O presidente norte-americano foi censurado por um setor da burguesia imperialista, que resolveu sancioná-lo porque sua política é muito débil no sentido de levar adiante a política neoliberal.
A censura do Twitter, portanto, é o movimento da classe antagônica à classe operária em defesa clara dos seus interesses. Se assim é, por que haveria motivo para comemorar? Quem ganha com esse tipo de situação é o próprio Twitter e o setor que o controla: o imperialismo. E se o imperialismo é inimigo da classe operária mundial, responsável por milhares de golpes e conspirações, incluindo o golpe de Estado de 2016 no Brasil e a vitória eleitoral de Bolsonaro, a esquerda não tem coisa alguma a ganhar. Pelo contrário: quando o imperialismo quiser se voltar contra a esquerda, contará com um Twitter fortalecido, capaz de impor uma censura absoluta a qualquer setor rebelde.
Atualmente, os interesses dos setores que controlam o Twitter são os mesmos que defendem o futuro governo Biden. Isto é, o governo oficial da indústria armamentista e do mercado financeiro. Com a ditadura das redes sociais contra Donald Trump — que, embora de extrema-direita, expresse a revolta contra o regime político —, o imperialismo encontrará um terreno limpo para impor a política genocida do Partido Democrata.
O caso brasileiro conserva muitas semelhanças. Bolsonaro, embora seja um fascista, que foi apoiado circunstancialmente pela burguesia para derrotar eleitoralmente o PT, não é um governante que tenha a plena confiança do imperialismo. E, neste sentido, há um interesse em fomentar um ataque da própria burguesia a seu governo.
Mas se foi a própria burguesia — inclusive os setores mais pró-imperialistas — quem levou Bolsonaro ao poder, por que então ela estaria interessada em entregar o poder à esquerda? Evidentemente, se chegar ao momento em que a direita parta para um ataque mais direto a Bolsonaro, isso só acontecerá quando a burguesia sentir confiança suficiente em substituir Bolsonaro por outro direitista, como João Doria, Luciano Huck ou Rodrigo Maia.
A torcida de Marcelo Freixo, neste sentido, é a favor de João Doria e Luciano Huck, e não do povo brasileiro. É a chamada política da frente ampla, que busca colocar a esquerda a reboque dos setores que deram o golpe de 2016. Ao mesmo tempo em que fortalece o lixo golpista que quer se reciclar se apoiando na esquerda, Freixo ainda defende o mesmo programa do bolsonarismo: a censura e a repressão contra os inimigos do regime.