Nos atos do dia 8 de Março, Dia da Mulher Trabalhadora, novamente foi possível assistir a ação de determinados setores da esquerda pequeno-burguesa que se comportam como proprietários das manifestações de rua.
Em mais de um caso, ou as militantes do PCO simplesmente não puderam falar no carro de som do ato ou tiveram que brigar muito para falar. Em outros casos, os “donos do ato” tentaram inclusive impedir que fosse colocada a palavra de ordem de “fora Bolsonaro”.
Em São Paulo, a representante do coletivo de mulheres do PCO Rosa Luxemburgo só conseguiu falar depois de muita insistência. A justificativa de uma das denominadas “organizadoras” do ato foi a de que o PCO não tinha participado da reunião de “construção” do ato. O problema é que também o PCO e o coletivo Rosa Luxemburgo não foram convidados para tal reunião, o que revela a farsa da justificativa, já que a tal “construção” do ato não passa de um esquema em que se junta a corriola da esquerda para impor o que será feito no ato. Em Belo Horizonte, sob a mesma justificativa, as “construtoras” do ato não deixaram o PCO falar.
Essa situação não aconteceu apenas com o PCO. A deputada federal do PT-DF Erika Kokai, que saiu nas ruas defendendo o fora Bolsonaro, teve dificuldades para falar no ato. Em Londrina, os organizadores do ato – ou poderíamos chamar de “construtores” do ato – tentaram impor que apenas as palavras de ordem deles fossem levadas para a manifestação, tentando proibir que fosse falado o “fora Bolsonaro”.
Em todos esses casos trata-se de uma censura por parte daqueles que se acham donos do movimento. Na realidade, a esquerda pequeno-burguesa entende tudo como uma grande disputa eleitoral. Para esses setores da esquerda, uma manifestação não é um momento de unidade entre diferentes organizações e pessoas para lutar por uma política comum, mas um terreno de propaganda eleitoral.
Nada mais natural para uma esquerda pequeno-burguesa que tem como principal ideologia a crença de que as instituições do regime – eleição, parlamento, Judiciário etc – podem ser “disputadas” e melhoradas, o que alimenta a sua principal atividade que é justamente a participação na eleição. Logicamente que no final das contas tal ideologia acaba servindo não apenas para sustentar o regime político burguês podre, mas para sustentar alguns poucos oportunistas que se beneficiam dos cargos em questão.
Esse é o fundamento da censura nos atos, encoberta por discursos como o de que seria preciso “construir” a manifestação para poder falar. Como se uma mobilização não fosse composta por diversos setores que estão em movimento para defender determinada política.
A tal “construção” do ato – recentemente discutida por esse Diário em polêmica com a youtuber Sabrina Fernandes – é uma armadilha criada pela esquerda pequeno-burguesa para obrigar que grupos ou indivíduos que não fazem parte de sua própria panelinha se enquadrem na política imposta por ela. Se há reunião para organizar o ato, ela não é divulgada, se tiver sorte e participar da reunião, eles vão tentar obrigar a pessoa ou o grupo a aceitar qualquer tipo de imposição absurda, e assim por diante.
Os atos não são propriedade de ninguém e as manifestações de rua devem ser amplas, em torno de todos aqueles que efetivamente defendem os pontos comuns pelos quais está sendo feita uma mobilização. Isso é ser minimamente democrático. Todos podem falar e todos são bem vindos.
Essa censura é uma tentativa de controlar o ato, de impedir que as palavras de ordem e as diferentes políticas possam ser expressas democraticamente.