Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Atitude criminosa

A esquerda está ajudando na consolidação da ditadura bolsonarista

A ação colaboracionista com a direita, ao invés de combater Bolsonaro, fortalece o conjunto da burguesia, cujo programa político indica cada vez mais para o fechamento do regime

Por Eduardo Vasco

Em artigo anterior, afirmei que a crise atual é um divisor de águas para a esquerda. De um lado, os que compreendem a necessidade da mobilização e organização popular e que estão colocando suas ideias em prática, e de outro aqueles que usam a desculpa do coronavírus para se esconder embaixo da cama.

Mas a esquerda que faz coro com a propaganda burguesa, sem nenhum questionamento, e pede para se ficar em casa e esperar a crise passar para depois combater o governo Bolsonaro, na verdade, não adota uma política de inação. Ela fica em casa e tem uma política: a desmobilização popular, por um lado, e, por outro, os acordos com a direita. Isso é ainda mais criminoso do que simplesmente não fazer nada.

É característica da esquerda pequeno-burguesa a crença nas instituições capitalistas. O que vemos hoje no Brasil não tem nada de novo. O século XX é repleto de exemplos idênticos. Os social-democratas e stalinistas abaixaram a cabeça para o fascismo na Itália, na Alemanha, na França, na Espanha. Primeiro, traindo as lutas revolucionárias dos trabalhadores e apelando a uma política famigerada de reformas por meios das instituições burguesas, que jamais se realizaram ou que foram efêmeras, logo em seguida varridas do mapa pela contrarrevolução fascista. Nesse processo, a política comum adotada pela social-democracia e pelo stalinismo foi a colaboração de classes, os acordos com a chamada “direita liberal” para derrotar o fascismo. E, em todos esses casos, as frentes populares, ou frentes amplas, fracassaram miseravelmente, o acordo de salvação nacional contra o fascismo salvou apenas a direita e o fascismo e devastou a nação e a esquerda.

A história se repete hoje, mais uma vez. E a esquerda não aprendeu a lição. Não consegue romper com a crença nas instituições burguesas, que deram o golpe contra a esquerda ao derrubarem o PT do governo, prenderem sua principal liderança, matarem uma vereadora e empossarem um presidente fascista. Toda a “direita liberal”, também conhecida como “centrão”, participou dessa conspiração. E o que os social-democratas e herdeiros do stalinismo propõem como política? A aliança com esses setores, a “frente ampla” que englobaria todo o mundo contra Bolsonaro. Englobaria o pai e a mãe de Bolsonaro contra Bolsonaro. Englobaria a sombra de Bolsonaro contra Bolsonaro. Englobaria o Bolsonaro em um dia bom contra o Bolsonaro em um dia ruim.

A aliança com aqueles que têm exatamente a mesma política central de Bolsonaro, isto é, a política neoliberal, a venda do País para os grandes monopólios internacionais, a submissão total ao imperialismo, o ataque aos direitos democráticos, a repressão aos movimentos populares, a fome e a miséria. O apoio a Doria, que foi eleito governador de São Paulo com um discurso nazista e com o suporte de Bolsonaro. O apoio a Witzel, o Hitler carioca. O apoio a Mandetta, quem expulsou os médicos cubanos do Brasil. O apoio a Caiado, assassino de sem terra. O apoio a Maia e Alcolumbre, representantes dos grandes banqueiros, empresários e latifundiários. O apoio a Fernando Henrique Cardoso, agente do imperialismo que destruiu o Brasil e deixou milhões na miséria. O apoio a Luciano Huck, que quer ser o novo FHC. O apoio à Rede Globo, maior indústria de mentiras da história do País, promotora de todos os golpes e perseguições contra a esquerda e ataques aos direitos do povo.

É com esses que a esquerda – PT, PCdoB, PSOL – quer se aliar. Uns dizem claramente; outros, nas entrelinhas. Tudo isso para o quê? Para combater Bolsonaro. Para lutar contra Bolsonaro. Para “barrar” Bolsonaro. Para dar um “basta” em Bolsonaro. Mas não para derrubar Bolsonaro do governo. Nem para isso! Não que, se a intenção fosse derrubar Bolsonaro, isso beneficiaria a esquerda – os que entrariam no lugar dele seriam quem? A esquerda, minoritária nessa frente ampla? Lógico que não, a direita e extrema-direita golpistas que já dominam o Congresso Nacional e todas as instituições da República. Mas nem isso a esquerda quer. Recusou-se a adotar a palavra de ordem “Fora Bolsonaro” – o PT declarou-se contrário a ela, o PCdoB sequer tocou no assunto.

A aliança com a direita mãe e pai do fascismo é aplicada a cada dia. Para isso não existe “fica em casa”. A esquerda fica em casa quando é para mobilizar o povo, mas quando se trata de fazer acordos e apoiar a direita, ela sai de casa com todo o orgulho e vontade.

Até mesmo os sindicatos filiados à CUT, dominada pela política conciliadora do PT, aderiram à frente ampla. As burocracias sindicais oferecem as sedes de seus sindicatos para os políticos da direita utilizarem a seu bel-prazer, ao mesmo tempo em que fecha as portas à sua base operária.

Tudo isso não é mais do que uma ajuda para que os governadores da direita e extrema-direita, bem como o próprio governo federal (do fascista Bolsonaro, a quem eles dizem combater) aperfeiçoem seu aparato burocrático de controle e repressão sobre a população.

A pretexto de combater o coronavírus e garantir a quarentena, a direita está aplicando uma política gradual de fechamento do regime, limitando as liberdades democráticas (reunião, manifestação, expressão – combate às “fake news” –, privacidade etc.). Drones, câmeras de vigilância, monitoramento através dos aparelhos celulares, censura na Internet, proibição de manifestações, aumento exponencial da polícia nas ruas, multas, prisão e borrachada em quem se aglomerar. Claro, apenas em quem se aglomerar para se manifestar, porque as aglomerações no transporte público não são apenas permitidas mas incentivadas, a fim de que os trabalhadores vão ao trabalho para encher os bolsos dos patrões, ao mesmo tempo beneficiando a máfia dos transportes com menos ônibus em circulação para diminuir os gastos dos empresários.

O estado ao qual chegamos é extremamente crítico. O coronavírus veio para dar um empurrãozinho na crise econômica, que era inevitável e previsível. Crise econômica significa desestabilização total do regime capitalista e perda de dinheiro da burguesia, que precisa evitar ao máximo a ruína. Para isso, recorre ao Estado. E o Estado recolhe todo o dinheiro público, que em teoria deveria servir ao conjunto da população, para resgatar os grandes bancos, símbolo máximo do capitalismo. Logo, se o Estado já não dava nada para o povo, agora é ainda menos. Se não morrer de doença, o povo vai morrer de fome. Mas ninguém quer morrer assim. Logo, há que fazer alguma coisa, rebelar-se. É para isso que a direita está preparando todo o aparato repressivo do Estado: para conter a rebelião. Os drones, câmeras, policiamento, censura, multas, prisões, leis, não são para proteger a população do coronavírus. São para proteger os capitalistas da população.

Um Estado que caminha para anulação das liberdades democráticas. Que caminha para o estado de sítio – em vários lugares a direita adota ou ameaça adotar essa medida. Que caminha para o controle total da população. Esse é o Estado que a direita almeja. Na Hungria, Viktor Orbán ganhou plenos poderes do Parlamento. Oh, céus, mas as instituições nada fizeram para barrar a implantação de uma ditadura de Orbán! Não conseguimos convencer os parlamentares de que Orbán é mau!

No mundo todo as instituições se deslocam a ritmo acelerado para a direita. Não tem mais o Macron liberal, o Trudeau esquerdista, a Merkel democrática, o Pedro Sánchez socialista. As medidas tomadas no mundo todo indicam a intensificação da repressão estatal para salvar os lucros dos grandes monopólios imperialistas e conter a movimentação das massas que resultará da política de arrocho e saque ferrenhos durante e após a pandemia.

Se, após a crise de 2008, os golpes e a ascensão da extrema-direita já indicavam que o imperialismo estava disposto a jogar a cartada do fascismo, agora as evidências estão ainda mais claras. E o fascismo não é a loucura de um líder populista, mas a política de Estado do conjunto da burguesia.

Bolsonaro não cai. A frente ampla da esquerda com a direita contra Bolsonaro serve, na verdade, para manter Bolsonaro. E pior: para fortalecer a direita e a extrema-direita de conjunto, ao realizar um pacto no qual a esquerda se submete à política geral da direita ao mesmo tempo em que desmobiliza totalmente os trabalhadores. Trata-se de uma traição das mais vergonhosas da história da esquerda nacional à classe operária.

O povo pede em uníssono o “Fora Bolsonaro”. Só faz isso das janelas e de manifestações espontâneas e desorganizadas porque a esquerda se recusa a organizar esse embrião de rebelião popular. O povo não quer morrer de doença – tanto Bolsonaro como os aliados da esquerda, Doria, Witzel, Maia e Mandetta não fazem nada contra o coronavírus – e nem de fome. Uma parcela pequena da esquerda, em geral mais ligada aos setores de base (com exceção de Manuela D’Ávila e Guilherme Boulos, que têm alguma aspiração eleitoral nessas ações) demonstra que quer fazer alguma coisa quando monta brigadas de distribuição de mantimentos na periferia. Mas, infelizmente, caridade por si só não resolve nada. O que é preciso fazer – e a esquerda se recusa a fazer – é organizar politicamente as massas empobrecidas para enfrentar a situação de completo caos social e econômico.

É preciso ir ao encontro do povo para armá-lo a fim de combater e reverter a tragédia que se avizinha. Porque, no andar da carruagem, e se depender da ação colaboracionista da esquerda, o que virá a seguir será a fome, a doença, a morte. E o fascismo.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.