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Capitulação

A esquerda e o golpe (Parte 1): a defesa da farsa do Mensalão

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O Diário Causa Operária inicia uma série de artigos com o objetivo de recapitular o papel desempenhado pela esquerda durante o processo golpista. Com um presidente ilegítimo no poder, comandando uma política genocida diretamente responsável pela morte de pelo menos 157 mil brasileiros, o regime dedicado a destruição de diversos direitos vem se articulando desde o processo do chamado Mensalão.

Alimentado por uma campanha massiva impulsionada pelos órgãos da imprensa burguesa, o caso do Mensalão levou os setores mais desorientados da esquerda a uma submissão completa diante da burguesia. Por oportunismo ou inépcia, esses setores desempenharam um papel importante para a direita, através da confusão da classe trabalhadora no período.

“Fora todos”

Em artigo assinado por Zé Maria, em 26/09/2012, o PSTU defende o processo político do Mensalão, que à época, atacava o PT, buscando jogar alguns de seus principais dirigentes no cárcere, entre eles, Zé Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares. Todos acabariam condenados e presos.

Diz a nota do PSTU que “o STF está frente ao desafio de, além de condenar aqueles contra os quais haja provas de corrupção no processo em curso do mensalão, também julgar com celeridade, e condenar aqueles contra os quais haja provas de corrupção no processo de mensalão de Minas. Isso para não falar de tantas outras denúncias paradas nos escaninhos da Justiça brasileira. Se não o fizer, estará apenas confirmando mais uma vez o caráter político, e não jurídico, da atuação dos tribunais em nosso país.” 

A própria nota, ao mencionar a possibilidade de se confirmar “mais uma vez, o caráter político da atuação dos tribunais em nosso país”, dá pistas do erro de cálculo no caso, uma vez que reconhece tratar-se de uma situação recorrente (“mais uma vez”). Ainda assim, demonstrando uma inocência incompatível com a atividade política, o PSTU torce para o “STF julgar com celeridade, e condenar” os acusados, uma preparação do famigerado “fora todos”.

Atualmente no PSOL, Valério Arcary também fez coro aos ataques da direita contra os principais dirigentes petistas, notadamente Zé Dirceu, declarando em 2015 que “Zé Dirceu não tem a minha clemência. Não haverá perdão para o mal que ele fez à esquerda brasileira”, (“Zé Dirceu”, 07/08/2015). Acrescentando que Dirceu “cometeu crimes”, Arcary procura fazer uma crítica à esquerda mas tudo o que consegue é corroborar a campanha de fundo moral contra um homem marcado pela burguesia, por um viés ultra sectário.

O caso do PSTU não é o único mas exemplifica as capitulações da esquerda diante da burguesia, que se tornaram emblemáticas no processo farsa do Mensalão, criado pela direita para intervir na luta de classes. O atual partido de Arcary, PSOL, tem muitas contribuições nesse sentido.

“Orgulho de ser expulso por Zé Dirceu”

Com assinatura do então presidente Ivan Valente, o PSOL publicou uma nota em agosto de 2012 onde expressava “seu repúdio à corrupção”, acrescentando que para “evitar que escândalos como esse se repitam, é preciso aprovar uma reforma política que impeça o financiamento privado das campanhas com punição drástica aos doadores e receptores”.

A defesa da criminalização do financiamento privado mereceria um destaque à parte, dado os acontecimentos mais recentes envolvendo a política do partido mas para fins desta matéria, o padrão pequeno-burguês interessa mais. Especialmente por que a política do PSOL, tal qual a nota do PSTU, esquece que vivermos em uma sociedade de classes, onde punições drásticas não passam de armas da burguesia para intervir no processo político e levar adiante um regime de terror.

Com base quase exclusivamente no ambiente acadêmico, não é possível que falte ao PSOL informação da história brasileira para saber que defender o Mensalão e atacar “as opções do Governo Lula e do PT em favor de uma ‘governabilidade’ baseada em relações fisiológicas e de dependência financeira”, não fariam bem algum à população, apenas e tão  somente à burguesia.

Um dos fundadores do partido, Babá ganhou as páginas do bolsonarista Gazeta do Povo, que reproduzindo matéria do O Globo, afirmou que Dirceu foi o “subcomandante do mensalão” (“Deputado Babá diz que Lula foi o comandante do ‘mensalão’”, 30/11/2005). Deputado federal pelo PSOL, Babá acrescentou ainda, para deleite da imprensa burguesa, que “Dirceu já está cassado pela sociedade brasileira, que não aceita o achincalhe das mentiras; a defesa de Dirceu é toda baseada em mentiras”

Candidata do PSOL nas eleições de 2014, Luciana Genro declarou durante uma entrevista feita pela Folha e o portal UOL que teria “orgulho de ter sido expulsa do PT pelo Zé Dirceu, que hoje está preso”. Em 2012, no Facebook, Genro  publicou a seguinte mensagem:

“O julgamento do mensalão ainda não terminou, mas alguns fatos já emergiram, claros como o dia: o mensalão existiu, houve compra de votos de parlamentares, esta compra de votos ocorreu durante votações importantes, sendo a mais controversa delas, a reforma da previdência, em 2003. Estes fatos indignaram o Brasil, empurrando o STF a acelerar o julgamento dos  réus e, ao que parece, a decidir por penas elevadas.”

A submissão política do PSOL à burguesia produziu ainda uma declaração grotesca vinda de um partido que se diz defensor dos direitos humanos, vinda de um parlamentar psolista de Natal:

“Se o país fosse mais sério, José Dirceu era para estar preso. Porque tem uma condenação pelo Supremo de 10 anos e 10 meses e eu não sei, de fato, o que ele vem fazer em Natal. Fazer debate com petistas, e com quem mais participar. Só que, para debater o quê? Ensinar o quê? Talvez fosse melhor ele fazer esse debate em Alcaçuz (penitenciária de segurança máxima), porque ele iria aprender um pouco mais lá com os colegas dele que estão presos”. Nesses termos, o então vereador da capital do RN pelo PSOL, Sandro Pimentel (atualmente deputado estadual no RN), referiu-se ao petista José Dirceu, para criticar a ida de Dirceu a um evento do PT ocorrido na capital potiguar em março de 2013.

A declaração acima foi publicada no Jornal Hoje (atualmente fora do ar) e repercutida por diversos órgãos de imprensa locais, entre eles o Blogue Serrinha de Fato (“Vereador do PSOL, Sandro Pimentel dispara: ‘Se o país fosse sério, Zé Dirceu era para estar preso’”, 05/03/2013).

Padrão pequeno burguês

A dependência da esquerda pequeno-burguesa à burguesia é um fato muito presente e facilmente identificado no período do Mensalão até o momento atual. Essa subordinação levou a posições políticas desencontradas, das quais a adesão acrítica às campanhas de caça às bruxas são um dos mais destacados devido às consequências trágicas para os trabalhadores.

Dos processos do Mensalão, a direita evoluiu para um sistema de ataques severos contra a classe trabalhadora, que não se beneficiou em nada com a caçada implacável a Dirceu mas sofreu os piores reveses da ascensão da extrema-direita, pagando, inclusive, com pelo menos 157 mil mortos e 74 milhões de desempregados.

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