Um golpe uníssono

A esquerda e o golpe (2): a luta contra Dilma, não contra o golpe

A esquerda pequeno-burguesa atuou com a direita, ao invés de chamar o povo a lutar contra o golpe. Desde o início, era preciso unir a esquerda para derrotar a direita.

Dando sequência à série de artigos acerca do papel da esquerda durante o processo golpista, buscaremos, aqui, demonstrar o alinhamento da esquerda com a direita e seu papel como coadjuvante na derrubada do PT. Em meio aos ataques da direita e a sórdida campanha da imprensa golpista contra Dilma Rousseff, eis que surge a esquerda pequeno-burguesa como força auxiliar, embora com uma roupagem esquerdista, da cavalaria reacionária da direita.

Voltemos a roda da história até o período em que o PT, sob o governo de Dilma, recuava e buscava uma trégua com a direita. À época, a pressão para que o governo atendesse aos interesses dos especuladores e dos grandes capitalistas era enorme. Dilma, no entanto, buscou conter a famigerada direita através de concessões e aprovação de medidas antipopulares. Esse recuo teria um alto custo e – de fato – a fatura seria impagável para o PT. O governo do PT, àquela altura, passara a desempenhar o papel que a égide de Zeus cumprira na luta contra os titãs. Os ataques iniciados na farsa do “mensalão do PT” (2005), invariavelmente, culminariam em um desgaste do partido. Derrotada nas eleições de 2014, a direita não tinha condições de implementar sua cartilha de terra arrasada. A nomeação de Joaquim Levy como ministro da Fazenda no final do primeiro mandato de Dilma, em novembro de 2014, demonstrava a capitulação do PT diante da direita. O golpe estava em marcha; restava criar as condições para a derrubada do governo. Até o momento – deixemos claro, a esquerda pequeno-burguesa nada fizera para mobilizar as bases contra o golpe que estava em marcha.

Levy, representante dos banqueiros, logo deu a linha econômica a seguir. Naquele momento, uma parte da esquerda, principalmente setores do PSOL e Boulos defendiam que era preciso “lutar contra os ajustes de Dilma”; Boulos chegou a dizer que o governo era “indefensável” e outros como Luciana Genro, dirigente do MES, corrente do PSOL, diziam que Dilma deveria ser derruba. Não seria exagero algum afirmar que boa parte da esquerda nem sequer viu o golpe: mais, o apoiou. Lembremos dos dizeres de Luciana Genro em entrevista ao portal gaúcho clicRBS.

“Discordo totalmente. Eu até compreendo que tem gente que está imbuída desse desejo de defender a democracia. Os líderes do PT estão brincando com as palavras, dizendo que há golpe . Nós não estamos numa ameaça democrática, de fechamento das liberdades. Temos uma democracia bem precária, racionada. Mas essa democracia não está ameaçada”

A confusão tomou conta da esquerda pequeno-burguesa; abalada e desorientada, serviu como esteio à direita. Zé Maria, dirigente do PSTU, chegara a escrever artigo defendendo o processo político do Mensalão, o qual buscava encarcerar dirigentes do PT; entre eles, Zé Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares – que acabariam condenados e presos injustamente. Tratemos, por ora, de examinar um excerto de artigo do PSTU intitulado “Às ruas! Fora Dilma, fora Temer, fora todos eles!

“Enquanto a enorme maioria do povo quer que esse governo dos banqueiros se vá agora mesmo, PT, PCdoB, PSOL foram lá votar no “Fica Dilma”. Juntaram-se, ao lado deles, os que foram comprados pelo governo e por Lula, e entregaram o que venderam: o voto contra o impeachment. Sim, porque houve outros comprados que não entregaram a mercadoria. No dia seguinte, Lula e Dilma sentiam-se tristes com as traições, decepcionados com aliados “171” de carteirinha do tipo Maluf ou Tiririca e outros palhaços sem graça deste circo de horrores”.

Segundo a agremiação morenista, o PT, PCdoB, PSOL ao votarem (alguns deles, como o PSOL, apenas de modo simbólico) no “Fica Dilma”, venderam-se ao governo. Resta saber a quem o PSTU foi vendido? Ao pedir o “Fora Dilma”, o PSTU se colocou ao lado dos golpistas. Deixemos que o PSTU diga a quem serve e complemente sua tarefa ao lado da direita…

“Não temos por que aceitar e, menos ainda, defender que fique Dilma até 2018, como defendem PT, o PCdoB e, também, o PSOL. Se o povo elegeu e foi traído, tem de ter o direito de tirar. Nem podemos aceitar que assuma o vice Michel Temer, do PMDB, que foi eleito junto com Dilma, fazendo as mesmas promessas às quais traiu no dia seguinte à eleição. Ele é envolvido em corrupção até o último fio de cabelo, não tem apoio popular e não nos representa”.

Por sua vez, o blogueiro da moda na esquerda pequeno-burguesa, Jones Manoel, que hoje defende a frente ampla, afirmou o seguinte, no artigo “Cena política e impeachment: a correlação de forças – Parte I”, publicado em dezembro de 2015 no Diário Liberdade:

Longe de existir uma articulação golpista, a realidade é até esse momento o que se desenrola são grupos políticos (como o PSDB) lutando por seus interesses específicos sem respaldo das classes dominantes nacionais e do imperialismo – um cenário bem diferente da Venezuela, por exemplo. A histeria governista que convoca “os movimentos sociais e a esquerda” para a rua pela democracia e contra o golpismo não tem qualquer base séria numa análise concreta de classe.

Diante dos fatos, não há dúvidas. A esquerda pequeno-burguesa atuou com a direita, ao invés de chamar o povo a lutar contra o golpe. Desde o início, era preciso unir a esquerda para derrotar o inimigo comum que é a direita. O erro da esquerda que apoiou o golpe foi avaliar a situação sem compreender a luta de classes em curso. Sem uma análise concreta, esses setores confundiram o panorama político e avaliaram a forma tomada pela luta de classes sem, contudo, se dar conta do conteúdo que a engendrava. Como já dizia Karl Marx, “se a aparência e a essência das coisas coincidissem, a ciência seria desnecessária”. Gostando a esquerda pequeno-burguesa ou não, o PT se apoia sob poderosas forças sociais do movimento operário e popular. Cabe a nós, empurrar essa base social mais à esquerda para que através da experiência se supere as contradições inerentes ao desenvolvimento da luta de classes.

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