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Um balanço dos atos

A esquerda e as perspectivas da mobilização pelo Fora Bolsonaro

Em um certo sentido, os últimos atos serviram para esclarecer a situação política

Foto: UOL

Após quatro semanas de atos nos finais de semana, tendo como eixo central a luta pelo “Fora Bolsonaro” e contra a direita bolsonarista que tomava conta das ruas, os quais foram precedidos de outras mobilizações que pressionaram no sentido de quebrar a paralisia da esquerda durante a pandemia, é importante fazer um balanço da situação e traçar perspectivas que nos permita avançar na luta.

Isso se torna ainda mais necessário quando o País ultrapassa as marcas de 51 mil mortos e 1.050.000 infectados pelo coronavírus, com estudos estimando que são, no mínimo, 75 mil óbitos e mais de 6 milhões de infectados, diante da subnotificação/falsificação dos governos de direita; quando – pela primeira vez em nossa história – temos mais desempregados do que empregados no País; o endividamento das famílias alcança recordes, chegando à casa dos 70%; cresce em milhões o número de famintos e miseráveis. Essas condições impõem a necessidade real, para os explorados e suas organizações, de enfrentar a situação com uma proposta de luta.

Em certo sentido, os últimos atos serviram para esclarecer a situação política.

Uma primeira conclusão, já evidenciada na etapa anterior, é que a grande maioria das direções da esquerda burguesa e pequeno-burguesa mantêm a posição, anunciada publicamente no período anterior, de ser contra o “Fora Bolsonaro”. Da mesma forma, a “oposição” burguesa que ataca – muito moderadamente – o governo não quer a sua derrubada, mas apenas estabelecer uma pressão sobre ele ou mesmo “controlá-lo”. E apresenta, para isso, as mais diversas considerações.

Fica evidente que boa parte dessa esquerda adotou apenas formalmente o “Fora Bolsonaro” (com variantes). Tinha a ilusão de que a direita fosse também adotar o “Fora Bolsonaro”, diante do agravamento da crise econômica, assim como só resolveram adotar o “fora Temer” quando havia uma crença de que a Rede Globo e outros setores da direita iriam caminhar no mesmo sentido. Alimentam, ainda, a ilusão de que será possível, por exemplo, que o Congresso Nacional golpista antecipe as eleições, as quais poderiam dar lugar a uma nova vitória da esquerda.

O principal argumento contra a mobilização e contra as manifestações de rua, agora, é a situação sanitária: o medo de contaminação pela pandemia. Isso, muito claramente, surge como puro pretexto para ser contra mobilização, por contra da política de setores da esquerda que defendem a frente ampla, ou seja, a aliança com setores da burguesia golpista que não querem, de modo algum, tirar Bolsonaro, nem que haja uma forte mobilização contra ele.

Fica claro que esses mesmos setores que “protestam” contra as manifestações pelo “Fora Bolsonaro”, acusando-as de promoverem aglomerações e espalhar o vírus, nada fazem diante do fato de que milhões de trabalhadores estão sendo obrigado a se “aglomerarem” todos os dias no transporte coletivo, nos locais de trabalho, no comércio que reabre, etc.

Esses mesmos setores que se opõem a qualquer mobilização real (que nunca vão além de atividades virtuais) serão os mesmo que lançarão mão de todos os recursos possíveis para “ir às ruas” tão logo seja dada a largada para a campanha eleitoral, para conquistar o voto de milhões de pessoas que não “estão na internet”.

A prova cabal disso é que a imensa maioria da esquerda que não faz nada para convocar as manifestações e a maioria de suas lideranças sequer comparecem ou expressam apoio aos atos pelo “Fora Bolsonaro”.

A direita se colocou numa posição de total defesa de Bolsonaro, como se vê pela atuação das Polícias estaduais contra os atos que chegam a ter de duas a 10 vezes mais policiais do que manifestantes; manifestantes esses que são proibidos e atacados em vários lugares, também pelo judiciário – como em São Paulo – onde se estabeleceu multa de R$ 200 mil contra entidades que convocassem o ato na Avenida Paulista, no último domingo.

Essa direita “progressista”, a maior responsável pelo golpe de Estado, pela própria ascensão de Bolsonaro ao governo, dentre outras atrocidades, vê o ataque dos manifestantes e torcedores contra os bolsonaristas como algo perigoso para eles. Julga que, provavelmente, esses bolosnaristas de rua podem ser úteis aos seus propósitos em algum momento, como o foram quando precisaram atacar a direita e colocá-la na defensiva para impor o golpe, prender Lula etc.

Nessas condições, a mobilização das torcidas que colocou os protestos e a atividade que vinha sendo desenvolvida pelos comitês e pelo PCO, em uma nova etapa, foi contida, como se vê na redução (na maioria dos lugares) do público participante dos atos. O ato de Brasília, no último domingo, foi uma espécie de velório. Depois de ter realizado o maior ato do País (com cerca de 3 mil pessoas no dia 7, a Capital Federal teve um ato menor, diante da  anunciada “ocupação” do Planalto pelas torcidas, cujas direções  – com apoio da esquerda que nunca quer mobilizar e de outros setores confusos – tentaram impor, sem sucesso, um conjunto de regras limitadoras para a mobilização, como a de que a esquerda não levantasse suas bandeiras no ato. Essas direções não levaram nem mesmo 10% do público prometido para o ato, mas acabaram fazendo parte (independentemente de sua vontade) da operação de contenção dos atos, promovida pela direita, pela Polícia e por setores da esquerda.

Ficou evidente que uma parte da esquerda, defensora da frente ampla – como o Psol, de Guilherme Boulos – entrou no movimento (em alguns lugares) para fazer o serviço da direita, para defender seus próprios interesses e e/ou ter ganhos imediatos e por suas próprias ilusões, contribuindo para quebrar a mobilização imediata, como vinha ocorrendo. No entanto, não quebraram a mobilização em geral.

Trata-se de um retrocesso temporário, uma vez que as causas que motivam os protestos, sua necessidade, só fez crescer ante o agravamento da crise.

É preciso rearticular a mobilização a partir de um amplo debate entre os setores da esquerda, movimentos, torcidas e comitês que se colocam no terreno da mobilização. É preciso, também, ultrapassar os limites da esquerda em “quarentena”, que tem medo que a mobilização ultrapasse os estreitos limites de sua política de “ações” no interior do regime político. Esses setores são incapazes de conter a ofensiva da direita contra os trabalhadores, justamente porque estão articulados com esses ataques junto com Guedes e Bolsonaro.

Uma questão fundamental, além da continuidade e ampliação dos atos de rua, é o fortalecimento dos Comitês de Luta em todo o País.

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