Um debate da maior importância tem sido travado no interior da esquerda brasileira. Estamos falando da recente polêmica da “homofobia” nos estádios de futebol, assunto que levou o PCO para os Trending Topics (assuntos mais comentados) do Twitter. Em matérias anteriores, como esta e esta, discutimos o assunto sob as perspectivas da liberdade de expressão e da luta da direita contra o futebol brasileiro, respectivamente. Já nesta polêmica, vamos nos concentrar sobre o caráter reacionário da esquerda que defende o encarceramento em massa da população pobre, ou seja, a esquerda “chave de cadeia”.
Antes de mais nada, precisamos destacar o fato de que pela sua própria natureza de classe – trata-se de uma esquerda pequeno-burguesa – esses setores caem na propaganda imperialista da “democracia”. Assim, ouvimos com frequência que não se pode defender a ditadura do proletariado, afinal, é uma “ditadura”, mas aceitar a “democracia” burguesa, que na realidade é uma ditadura de classe ferrenha da burguesia contra a classe operária. Curiosamente, ao mesmo tempo em que se posicionam à favor da “democracia”, esta mesma esquerda acaba se aliando ao bolsonarismo, sem perceber que, quando apoia a política de encarceramento, seja sob qual pretexto for, acaba jogando água no moinho do próprio Bolsonaro e da extrema-direita.
Quando ouvimos esta esquerda falar em democracia, temos que ter em mente que ela está falando deste regime atual em que vivemos, profundamente denegerado, nada sequer parecido com o conceito, hoje antiquado, de democracia. Quer dizer, caso de fato defendesse algo remotamente parecido com uma democracia, a defesa do direito à irrestrita liberdade de expressão e o direito ao armamento do povo, para impedir o massacre sistemático da população pobre nas mãos da polícia, deveriam ser defendidas incondicionalmente. Afinal, como sintetizou Lênin, a “única forma de democracia é um fuzil no ombro de cada trabalhador”. Democracia, para ela, é o povo desarmado e a polícia armada até os dentes, preparada para lotar ainda mais os já infernais presídios brasileiros. Somente elementos que não tem qualquer contato com a classe operária do país poderiam defender uma política de encarceramento, aumentando ainda mais a população carcerária de um sistema que é uma máquina de moer pobres.
É curioso que, esta mesma esquerda que diz defender a democracia, defenda a política da censura e do encarceramento quando convém. A esquerda brasileira está em uma encruzilhada. Se não consegue defender sequer os direitos democráticos elementares da própria democracia burguesa, com pode defender o socialismo? Ou o socialismo seria algo inferior ao próprio regime capitalista ou tudo não passa de uma política de ocasião.