No dia 10 de fevereiro, o Partido dos Trabalhadores (PT) completou 40 anos de fundação. Com uma grande festa no Rio de Janeiro, os militantes e dirigentes do partido celebraram a quarta década do maior partido de esquerda do Brasil, que chegou a governar o país durante metade do tempo entre o fim da ditadura militar de 1964-1985 e o golpe de Estado de 2016. A ocasião propiciou que alguns dirigentes e ideólogos vinculados ao PT viessem a público para apresentar seu balanço da atuação do partido ao longo dos anos.
As declarações mais significativas vieram de Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul pelo PT, ex-ministro do governo Lula e pai de Luciana Genro, liderança de uma das alas mais reacionárias do Partido Socialismo e Liberdade. Em entrevista cedida ao portal UOL, pertencente à Folha de S. Paulo, Genro teceu várias críticas ao partido ao qual (ainda) é filiado e disse que não iria à festa de aniversário no Rio de Janeiro.
A entrevista, na qual Tarso Genro se debruça sobre diversos temas, apresenta, de maneira geral, uma tese muito bem definida: a de que o PT deveria mudar para ser mais aceito pelo regime político. Essa, no entanto, não é uma opinião própria de Tarso Genro: é a formulação de uma política que é praticada, ainda que de maneira sorrateira, por uma ala do partido, a ala direita do PT. Afinal, por mais que setores como Humberto Costa (PE) e Rui Costa (BA) estejam agindo frequentemente de maneira contrária aos interesses de suas bases, esses setores, diferentemente do que acontece com Genro, dependem da autoridade do ex-presidente Lula no partido, o que faz com que evitem entrar em atritos em público com as alas mais esquerdistas do PT.
Na entrevista, Tarso Genro defendeu que o PT procurasse organizar uma frente ampla aos moldes da experiência realizada no Uruguai. Essa frente, que freiou a esquerda em um momento bastante favorável para o desenvolvimento de uma política nacionalista, não contribuiu em nada para evitar que o Uruguai caísse nas mãos da direita neoliberal, aliada com a extrema-direita: nas eleições de 2019, o candidato da frente ampla foi derrotado em meio a ameaças de elementos ligados às Forças Armadas.
Para Genro, o PT teria de deixar de ser protagonista na oposição ao governo Bolsonaro. Teria, por algum motivo desconhecido, que se curvar perante partidos sem qualquer vínculo com a classe trabalhadora, como o PDT, ou ainda para partidos que são, legitimamente, representantes da burguesia.
A ala que Tarso Genro quer, de fato, mudar o PT. Mas mudar, para eles, significa destruir o partido: acabar com sua influência na classe operária e transformar em um “novo partido”: um partido sem estrela, sem vermelho e — no fim das contas — sem Lula. Essa é, afinal, a única maneira de colocar PT a reboque da burguesia e, dessa forma, garantir que o regime político tolere o partido. Pode ser que esse tipo de operação faça com que Tarso Genro e outros elementos filiados ao PT consigam manter seus privilégios no regime político. Mas definitivamente a “mudança” no PT seria um desastre para os trabalhadores e todos os setores envolvidos na luta contra o governo Bolsonaro.