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Opinião

A dinâmica atual da crise capitalista

A velocidade da mudança entre ciclos econômicos, com períodos maiores de depressão e empobrecimento, se alterou nos últimos anos

Que o capitalismo está em crise todo munda sabe. As diferenças é que alguns tentam sempre convencer o resto que as crises são externas ao capitalismo. A culpa é dos outros. Tentam esconder que a crise é característica do sistema capitalista. No caso atual, a pandemia é um elemento externo importante, mas ela não explica a crise econômica, nem estabelece sua dinâmica. No editorial do DCO de ontem (3/1/21) vimos que as dívidas pública das principais economias mundiais ultrapassam e muito os respectivos PIB (Produto Interno Bruto).

Essa situação não é fruto da pandemia. A dívida externa dos países oprimidos disparou ao longo da década de 1970 e foi estourar nos anos 1980, mostrando seu caráter no aprisionamento desses países pelos interesses imperialistas. Á época, o bicho papão que a imprensa burguesa usava para assustar o povo era o Fundo Monetário Internacional, que servia de reserva para amenizar crises entre países e bancos, ofertando pacotes de dinheiro em troca de condições que esses países deveriam seguir, privatizações, entrega de riquezas naturais e várias outras chantagens. Com o FMI as dívidas não acabavam, cresciam e passavam para outros credores.

Mas o sistema da dívida também se manifestava nos países imperialistas. Mas lá as origens eram outras e sua dinâmica também. O financiamento da corrida armamentista da Guerra Fria era um elemento importante para a manutenção do crescimento capitalista, já que se mantinha com ela a mesma dinâmica dos períodos de guerra, com altos investimentos estatais em indústrias ligadas ao esforço militar. Além disso, os EUA mantiveram em nível elevado os conflitos militares no pós guerra. Em 1950 a guerra da Coreia, logo em seguida a guerra do Vietnã, assim por diante. Na verdade, depois da Segunda Guerra Mundial não houve período de paz no mundo. Isso envolvia fortemente os EUA, mas também todos os países imperialistas em um esforço bélico que tinha sentido para a manutenção do poder no mundo e como elemento anticíclico de manutenção das taxas de lucro no sistema.

Após o grande crescimento verificado no mundo com o fim da Grande Guerra, quando ocorreram grandes investimentos na reconstrução da Europa e do Japão, o modelo monopolista e centralizador foi preservado com o estouro de guerras regionais e compras imensas de produtos de empresas que passaram a se chamar de multinacionais e transnacionais. Isso se deu concomitantemente ao crescimento do mercado financeiro como motor e veículo de pagamentos entre países e grandes empresas. A fase imperialista do capitalismo alcançava então seu auge, com o capital financeiro controlando os demais setores da economia. Concentrando ainda mais o poder econômico nas mãos de poucos.

A instabilidade do sistema passou a ser elemento corrente, mais até que as crises periódicas, caracterizadas como momento de depressão dos ciclos econômicos. O dólar passou a ser a moeda internacional após 1945, mas até 1971 sua conversibilidade em ouro era fator de segurança para os que negociavam com essa moeda. Não suportando a necessidade de emissão em massa e a pressão sobre as reservas americanas, em 15 de agosto de 1971 o governo norte-americano, sob a presidência de Richard Nixon, abole unilateralmente o padrão-ouro e a moeda norte-americana mantém-se como meio de troca internacional sem lastro. O poderio militar norte-americano era e ainda é o principal garantidor da moeda dos EUA.

O endividamento dos EUA passou, nesse processo de crise, a ser um elemento importante para a credibilidade do dólar frente as demais moedas. Mas a partir do início da década de 1990, quando os EUA superaram a barreira dos 70% na relação entre a dívida e o PIB, a instabilidade econômica norte-americana passou a ser elemento essencial para definição do valor de troca do dólar. Na crise de 2008 o endividamento dos EUA ultrapassou a casa dos 80% e a partir de 2012 o limite dos 100% passou a ser favas contadas. Depois da década de 1990 a relação dívida PIB passou a compor tema fundamental dos debates entre Republicanos e Democratas nas campanhas presidenciais.

É difícil reconhecer a crise atual como um momento de um novo ciclo econômico, pois a continuidade que se estabelece entre a crise financeira global de 2008 e os dias atuais é muito forte. Tirando a China e os países produtores de petróleo, que tiveram componentes próprios para justificar o comportamento de suas economias, a maioria dos países tem enfrentado um processo de instabilidade continuado depois de 2008. Na Europa vimos um processo agressivo do imperialismo sobre as economias atrasadas do Sul do continente, que se manifestou na forma de crises políticas intensas nos países mediterrâneos, e também em tensões entre as principais economias, levando até ao rompimento entre Reino Unido e União Europeia.

Há um forte entrelaçamento entre as economias centrais. Uma parte importante do financiamento da dívida norte-americana é garantido por capitais da China. Por isso, apesar de ser um elemento crítico nas tensões entre os dois países e mostrar a força que a China pode ter sobre a dinâmica econômica dos EUA, também mostra a dependência dela, pois é de seu interesse que os EUA não entrem em um processo de descontrole monetário. Pelo menos, segundo a burocracia chinesa, que isso não ocorra antes de 2050, data em que o Plano Econômico Chinês estabelece como marco de sua mudança do segundo para o primeiro lugar entre as potências.

O momento atual da crise mundial está cobrando muito dos arranjos comerciais e empresariais feitos entre as empresas monopolistas internacionais ao longo das últimas duas ou três décadas. Cada empresa líder dos consórcios agora precisa recuperar rapidamente taxas de lucro que estão declinando e querem fazê-lo mesmo que à custa de suas parceiras. Um setor onde isso se observa com clareza é o da indústria automobilística, que se transformou em um intrincado novelo de acordos comerciais globais que envolve um pequeno número de empresas montadoras centrais, mas dezenas de milhares de médias empresas supridoras de partes. Acrescente-se a isso que uma das estratégias das empresas centrais está sendo acelerar o processo de mudança do padrão tecnológico do setor, mesmo muito antes que se esgotem os benefícios financeiros do padrão atual ainda baseado em combustível fóssil.

Ao se alongar a crise de 2008, o padrão dos ciclos econômicos típicos do capitalismo, que envolve a alternância de crescimento, estagnação, crise e recuperação, se altera nesta década, tendo ocorrido um processo de crescimento muito tímido e atabalhoado nesse período, com a exceção da China e do sudeste asiático, que manteve permanente um período de pequenos ciclos anuais caracterizados pela instabilidade financeira e pelo crescimento das dívidas públicas.

Por isso, a retomada econômica que se estima que ocorrerá no momento pós pandemia não será de euforia, como já ocorreu em crises anteriores. O achatamento do ciclo econômico se mesclará com outro fator importante deste período, a forma em que os países financiaram a economia da pandemia.

O que a pandemia trouxe de novidade neste ano que passou foi a necessidade urgente de medidas de transferência de renda para parcelas da população que ficaram sem rendimentos por conta do isolamento social demandado pelas instituições sanitárias em vista do alto número de mortes. Mas em valores correntes, o custo dessa transferência de renda não foi maior no financiamento de trabalhadores. O afrouxamento monetário, que ocorreu em todo o mundo, gerou uma forte pressão sobre o caixa dos governos essencialmente no financiamento que foi dado aos seus sistemas financeiros nacionais e às grandes empresas (empresas aéreas que ameaçavam falir, empresas automobilísticas entre outras).

A dívida gerada nesse ano foi um pouco maior que a tendência de endividamento desses países mostrava na última década. Mas está sendo suficiente para gerar iniciativas de repassar para a população parte do déficit de 2020. Por isso, na Europa principalmente, já se fala em crescimento de impostos e redução de gastos. Não se sabe, porém, se a vontade de cobrar rapidamente da população parte da dívida vai ter base política para se sustentar. O empobrecimento da população trabalhadora nos países imperialistas é visível, mesmo que não seja tão dramático quanto o empobrecimento da população dos países atrasados.

Dessa forma, o que podemos ter nesse período de recuperação econômica pós pandemia é, além de uma aceleração dos planos da China de se tornar a protagonista principal da economia mundial e das tensões bélicas pelo mundo, a retomada de um período longo de continuidade da crise. A ondulação dos ciclos clássicos passará a ser diferente, com colinas menores e vales mais profundos. Uma longa crise econômica em meio a outras graves crises de repercussão mundial (crise climática, crise migratória, aumento de guerras regionais, crises financeiras setoriais).

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