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Afonso Teixeira

Tradutor, formado em Letras pela USP e doutorado em Linguística com tese em tradução. Tem formação como músico, biólogo e cientista político.

A desonestidade intelectual de Olavo de Carvalho

Todo aquele que deseja torcer a realidade para que ela dê respaldo ao pensamento dele é, na realidade, um idiota.
E idiota é o livro que Olavo de Carvalho escreveu para doutrinar idiotas. Quem compra um livro com o título de O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota é porque reconhece a si próprio como idiota.

Um dia, porém, sentindo-me um pouco idiota, resolvi folhear o livro de Carvalho para ver se produziria algum efeito sobre mim. Ali, encontrei, por acaso isto:

A principal missão dos outros povos (exceto os alemães, os húngaros e os poloneses) é perecer no Holocausto revolucionário… Esse lixo étnico continuará sendo, até o seu completo extermínio ou desnacionalização, o mais fanático portador da contrarrevolução. (Karl Marx)

Sem indicação de fonte.

Então, fomos às fontes.

A sociedade está passando por uma silenciosa revolução, a qual deve ser submetida, e a qual não mais toma conhecimento da existência humana que destrói, tanto quanto um terremoto em relação às casas que subverte. As classes e as raças, fracas demais para dominar as novas condições de vida, devem ceder. Mas pode haver algo mais pueril, míope, que os pontos de vista daqueles economistas que acreditam sinceramente que este lastimável estado transitório não significa nada além da adaptação da sociedade às propensões aquisitivas dos capitalistas? Na Grã-Bretanha, o funcionamento daquele processo é mais transparente. A aplicação da ciência moderna remove a terra dos seus habitantes, mas concentra as pessoas em cidades industriais. (MARX, artigo para o New Yorker Daily Tribune, de 22.3.1853)

Mas, vejam só, a citação de Olavo de Carvalho é, na verdade, uma colagem de um trecho de Marx, com um trecho de Engels:

Como ocorreu essa divisão de nações, qual foi sua base?

A divisão ocorre de acordo com todas histórias anteriores das nacionalidades em questão. É o início da decisão sobre a vida ou morte dessas nações, pequenas ou grandes.

Toda a história inicial da Áustria até os dias atuais é prova disso e 1848 a confirmou. Entre todas as grandes e pequenas nações da Áustria, apenas três porta-estandartes do progresso tiveram um papel ativo na história, e ainda mantém sua vitalidade — os alemães, poloneses e magiares (húngaros). Logo, eles são agora revolucionários.

Todas as outras grandes e pequenas nacionalidades e povos estão destinadas a perecer em pouco tempo na tempestade revolucionária mundial. Por essa razão, elas são agora contrarrevolucionárias. (ENGELS, Neue Rheinische Zeitung, janeiro de 1849)

Se juntarmos os dois artigos em um só, teremos isto:

“As classes e as raças, fracas demais para dominar as novas condições de vida, devem ceder. […] estão destinadas a perecer em pouco tempo na tempestade revolucionária mundial.”

Comparemos o trecho, retirado de dois artigos diferentes, com a citação impressa no livro de Carvalho:

A principal missão dos outros povos (exceto os alemães, os húngaros e os poloneses) é perecer no Holocausto revolucionário… Esse lixo étnico continuará sendo, até o seu completo extermínio ou desnacionalização, o mais fanático portador da contrarrevolução. (Karl Marx)

Olavo de Carvalho substitui, desonestamente, “grandes e pequenas nacionalidades” por “lixo étnico”, coisa jamais dita por Marx ou por Engels, em qualquer um de seus escritos.

Por outro lado, a expressão “holocausto revolucionário” foi tirada de um documentário de direita sobre Marx, no qual se usa o termo “holocausto” em lugar de “tempestade”.

Um historiador honesto deveria dizer que a “tempestade revolucionária” já havia passado. Foi a revolução europeia de 1848. Engels, portanto, falava de algo já ocorrido. O que dá sentido completamente diferente ao trecho na maneira como foi citado.

Há, portanto, na citação de “Marx” feita por Olavo de Carvalho, três procedimentos desonestos. 1. União de dois trechos desconexos entre si; 2. Falsificação dos termos empregados por Marx; 3. Citação indireta, a partir de uma fonte que não é isenta.

E, por que Olavo de Carvalho faz isso? Pois ele não se conforma com a existência de intelectualidades que colocam em risco as ideias dele. Como dissemos no início, aquele que deseja torcer a realidade para que ela dê respaldo ao pensamento dele é, na realidade, um idiota. E é isto que Olavo de Carvalho é: um idiota. Pois ele faz o impossível. A realidade nunca se dobra às ideias. As ideias, sejam quais forem, é que devem dobrar-se à realidade. Caso contrário, desmancham no ar.

E se Olavo de Carvalho é um idiota, que escreve para idiotas, só arregimenta em redor de si, idiotas, como o Ministro das Relações Exteriores do Brasil e seu presidente da república, Jair Bolsonaro.

O Brasil está bem servido. Idiotas no governo, seguindo um idiota que vive no estrangeiro.

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