O presidente fascista Jair Bolsonaro declarou na última terça-feira, 29, em encontro com apoiadores nos jardins do Palácio da Alvorada, o seu medo de uma possível revolta popular. Diante da crise econômica aprofundada pela crise sanitária com a pandemia da covid-19, Bolsonaro comentou que aproximadamente 20 milhões de pessoas estarão sem renda a partir de 2021, estando incluídas nesse grupo trabalhadores informais, moradores de rua e beneficiários do Bolsa Família. Tal situação de crise social e econômica poderia, do ponto de vista do presidente, ser aproveitada pela esquerda para “incendiar” o país.
Em um governo de constante crise desde seu início, sendo alvo de críticas de várias partes, incluindo de setores da direita e da burguesia, Bolsonaro, ao mesmo tempos que reclama das críticas, procura adotar uma postura defensiva e conciliatória diante da pressão que os capitalistas fazem sobre ele no momento por conta do programa social Renda Cidadã, elaborado para substituir o Bolsa Família. Apesar de todo o ultraliberalismo da agenda econômica de seu governo e de nos últimos anos ter surfado com o restante da direita na onda do discurso moralista de que o Bolsa Família era compra de voto feita pelos governos do PT, Bolsonaro vê no auxílio-emergencial e no Renda Cidadã uma oportunidade para tentar aumentar sua popularidade.
A adoção de um programa de distribuição de renda gera incômodo na burguesia, já que no contexto atual o pacto de classes foi rompido a partir do Golpe de 2016 e, portanto, os capitalistas querem a aplicação de um programa altamente neoliberal, que acabe até mesmo com os poucos direitos que a classe trabalhadora brasileira conseguiu durante os governos petistas. É essencialmente por conta desta política econômica que a burguesia apoia Bolsonaro.
Tentando chegar a uma conciliação com seus patrões, os capitalistas, e com demais setores que o criticam, o presidente procura alertar sobre o barril de pólvora sobre o qual seu governo está: “Nós temos que ter uma alternativa para isso, porque senão os problemas sociais serão enormes, mas tudo que o governo pensa, ou gente ligada ao governo, ou líderes partidários pensam, isso aí transformam-se em críticas monstruosas contra nós”, afirmou Bolsonaro. Ainda na fala do presidente,“se esperar chegar em 2021 para ver o que vai acontecer, podemos ter problemas sociais gravíssimos no Brasil. Eu estou falando problemas sociais que é uma forma educada para falar distúrbios sociais, que a esquerda pode aproveitar-se disso e incendiar o Brasil”. Apesar de toda a política de terra arrasada feita pelo governo, os capitalistas ainda não estão plenamente satisfeitos com Bolsonaro, como o próprio deixou transparecer ao comentar “alguns falam, pega dos precatórios, vende as estatais… Vender estatal não é de uma hora para a outra assim não. É um processo enorme, e você tem que ter um critério para isso, você não pode queimar estatais, você tem que vender a estatal por uma finalidade”
Bolsonaro demonstrou também preocupação com sua sobrevivência política ao falar “para o pessoal do mercado [financeiro], não estou dando recado para vocês não. Se o Brasil for mal, todo mundo vai mal. Aquele ditado “estamos no mesmo barco” é o mais claro que existe no momento. O Brasil é um só. Se começar a dar problema, todos sofrem. Nós queremos obviamente estar de bem com todo mundo. Nos ajudem com sugestões, e não com críticas. Quando tiver que criticar alguém, não é o presidente: é quem destruiu o emprego de mais de 20 milhões de pessoas. Não queiram estar em meu lugar, agora eu vou fazer o possível para buscar a solução, e digo mais, eu vou com uma máxima militar: pior que uma decisão mal tomada é uma indecisão. Eu não vou ficar indeciso”.
Apesar das recentes pesquisas de satisfação mostrarem uma suposta subida de aprovação de seu governo e de regularmente precisar incitar sua militância visando salvar sua imagem, Bolsonaro com esses comentários mostra seu medo com a revolta dos trabalhadores. A tendência a mobilização nas ruas pela derrubada de seu governo já foi expressa recentemente no atos antifascistas ocorridos em junho, que foram principalmente convocadas pelas torcidas organizadas com a intenção de expulsar os bolsonaristas das ruas.