Em recente entrevista concedida ao jornal argentino Página 12, o ex-presidente do Equador, Rafael Correa, hoje exilado na Bélgica, denunciou, sem meias palavras, que existe uma decisão por parte do imperialismo norte-americano em “exterminar a esquerda fisicamente” na América Latina.
“Eles me querem morto fora do país ou prisioneiro no país e me matam lá”, assim se referiu Correa sobre a tentativa do governo golpista equatoriano em extraditá-lo sob a acusação de ser responsável por um sequestro fracassado na Colômbia, em 2012, de um ex-aliado político, Fernando Balda, que havia se passado para a oposição.Aos moldes da operação lava-jato no Brasil, a acusação é tão farsesca que nos seis anos decorridos desde o suposto sequestro, com exceção de Balda, não foi levantada nenhuma acusação contra Correa ou membros do seu governo, inclusive da parte da polícia colombiana e nem pelos supostos sequestradores.Com o golpe de estado, essa condição mudou. Para condenar o ex-presidente, uma juíza de nome Daniela Camacho valeu-se de um inquérito da polícia colombiana que teria identificado e-mails entre os supostos sequestradores e funcionários do médio escalão do governo e o depoimento do próprio Balda. Sem provas, arbitrariamente, a juíza condenou
Quaisquer semelhanças com os processos da lava-jato brasileira não são meras coincidências. O também ex-presidente Lula sobre uma perseguição ditatorial do judiciário brasileiro sem nenhum prova de crime. Tanto no Brasil como no Equador, o ônus da prova cabe a vítima e não ao acusador. Essa é uma característica fundamental dos regimes de exceção.
Toda a América Latina está ameaçada ou já sofreu o golpe de estado. Cada país, diante das circunstâncias foi imposto de uma maneira pelo imperialismo, o cabeça do golpe.
No Brasil, procuraram manipular as eleições de 2014 com Aécio. Diante da derrota eleitoral, partiram diretamente para o golpe com o impeachment da presidenta Dilma.
No Equador, o golpe saiu das entranhas do próprio governo. Lenin Moreno já havia sido vice em um dos governos de Rafael Correa. Correa foi seu maior cabo eleitoral. Mal consumada a vitória, traiu Correa e seu partido e correu para os braços afetuosos do imperialismo. Iniciou uma campanha de perseguição ao ex-presidente e ao vice de sua própria chapa. Tomou de assalto o partido, Alianza País, e os expulsou. Jorge Glas, o seu vice, foi acusado de corrupção, deposto, condenado e encontra-se preso. Rafael Correa teve que exilar-se.
Em outros países da América Latina as situações são parecidas. Nos que resistem ao golpe, como Venezuela, Bolívia e Nicarágua, a ofensiva imperialista não mede esforços para estrangulá-los, inclusive com a ameaça iminente de intervenção militar.
Com os golpes, a situação é crítica, como denuncia Correa, figuras como ele próprio e Lula podem ser assassinados a qualquer momento e a perseguição à esquerda será cruel. Como afirmou, ainda, sobre a CIA (o imperialismo), “A decisão é exterminar a esquerda fisicamente”.
A esquerda latino-americana e em particular a brasileira não tem o direito de brincar de eleições. Se são capazes de fazer o que fazem com líderes populares como Lula e Correa, o que dirá com o povo trabalhador.
É preciso reagir, organizar as forças populares nos comitês de luta contra o golpe e de autodefesa. Apenas uma política justa, que trabalhe com a perspectiva da independência absoluta dos partidos que se reivindicam de esquerda, dos sindicatos e movimentos populares com a chamada “democracia” burguesa, ou seja os próprios golpistas, será capaz de abrir uma saída progressista para todo o continente.