Uma das polêmicas mais recentes em torno do governo Bolsonaro é o destino do ex-ministro da saúde, o general Eduardo Pazuello. No dia 27 de maio, o general da ativa participou de um ato pró-Bolsonaro no Rio de Janeiro e, abraçado com o próprio Bolsonaro, acabou por desrespeitar o Estatuto dos Militares e o Regulamento Disciplinar do Exército ao “participar de manifestações coletivas de caráter político”. Tal fato normalmente resultaria em uma punição por parte do alto comando do exército.
Bolsonaro, opondo-se a qualquer ato nesse sentido, chegou a pedir ao comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que não aplicasse nenhuma punição. Sem uma resposta definitiva do comando das Forças Armadas sobre o destino do general, a imprensa burguesa espalha aos baldes a afirmação de que os comandantes militares se opõem a Bolsonaro, uma vez que a possibilidade de punição ficou no ar mesmo após a nomeação de Pazuello para ocupar o cargo de Estudos Estratégicos da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, diretamente subordinada a Bolsonaro.
Antes de reproduzir as palavras da imprensa burguesa, é prudente analisar as grandes questões que pairam sobre os fatos no momento: qual o contingente bolsonarista dentro das Forças Armadas? A cúpula das Forças Armadas está realmente contra Bolsonaro? É evidente que, caso existam, os comandantes militares que se opõem a Bolsonaro dentro da Cúpula Militar são uma minoria. Um exemplo nítido de bolsonarismo dentro deste setor é o próprio ministro da defesa de Bolsonaro, o general Braga Netto, conhecido por ser altamente bolsonarista.
Como visto, ainda no caso Pazuello, a cúpula militar apenas tenta preservar sua imagem. Um fato que sustenta isso foram todas as declarações super-contestáveis feitas pelo general durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, além de sua ferrenha defesa do fascista Bolsonaro. Nada impede (e nada aponta que seja o contrário) que a cúpula do exército esteja a favor de Bolsonaro mas, apesar de o apoiarem, este, com suas declarações e ações extravagantes e exageradas, chama muita atenção, o que acaba por dar margem para uma pressão por parte da burguesia dentro das Forças Armadas.
Outra questão fundamental relacionada ao caso Pazuello é a pressão vinda das bases do exército, ou seja, a pressão de baixo para cima. De caráter bolsonarista, não há indícios que esse setor tenha, em algum momento recente, mudado de opinião — muito pelo contrário, os indícios indicam que a popularidade de Bolsonaro nas bases das Forças Armadas aparece em uma escalada crescente. Junto a isso, é possível afirmar que os comandantes militares não podem simplesmente ir contra uma tropa com a posição pró-Bolsonaro.
É importante ressaltar que isso representa um perigo para os trabalhadores e para o povo brasileiro em geral. A dominação da extrema-direita sobre o aparato militar e policial é a etapa fundamental para que estes setores se apoderem do Estado, ou seja, para um golpe militar. Outro passo seria apenas a espera da formação de uma conjuntura política favorável a esta situação.
É necessário que qualquer tentativa neste sentido seja respondida à altura. Como dito anteriormente, não existem indícios de que o alto comando das Forças Armadas esteja contra Bolsonaro e, mesmo que uma minoria esteja, esta não pode simplesmente ir contra as bases. Neste sentido, é importante ressaltar que o governo Bolsonaro em si, como já visto desde o começo de seu governo, é uma grande ameaça aos trabalhadores. Ainda nesta linha, as mobilizações ocorridas no dia 29 de maio precisam continuar, com a predominância da palavra de ordem “Fora Bolsonaro” e “Lula presidente”.