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A crise do PO argentino: um retrato da situação do trotskismo mundial

O que para muitos parecia impossível de acontecer está ocorrendo no tradicional Partido Obrero da Argentina: seu fundador e principal dirigente por décadas, por várias vezes candidato presidencial do Partido, Jorge Altamira, está sendo expulso (segundo o próprio) ou se retirando do PO (segunda a direção atual do Partido).

O Comitê Nacional do Partido Obrero, da Argentina, divulgou Nota Oficial, no último dia 29, em que “considera que o grupo dirigido por Altamira resolveu romper com o Partido Obrero para formar sua própria organização“.

Como assinala a própria Nota, a “consideração” não é resultado de uma decisão anunciada pelo ex-dirigente principal do PO, mas de uma interpretação da atual direção do Partido, segundo ela mesma reconhece no documento, diante “das resoluções votadas em uma ‘assembleia de militantes'”, que não teria sido anunciada aos organismos partidários, no qual Altamira e seu grupo, teriam resolvido “dar um passo fracional final e sem retorno, resolvendo que atuarão de modo público com suas próprias posições, dividindo a unidade de ação do Partido“.

Em declarações públicas de Altamira e no documento divulgado com a assinatura outros ex-dirigentes do PO (Marcelo Ramal, Juan Ferro e Daniel Blanco, entre outros), no entanto, a versão apresentada é outra. Alegam ter o apoio de quase 800 militantes daquela organização e se reivindicam como uma “fração pública do Partido Obrero“.

Segundo Altamira “há uma atitude inaudita da direção que afirma que eu saí Partido Obrero. É absurdo, não saí do PO, pelo contrário, intensifiquei a militância“, que também denuncia a “existência de uma grande quantidade de expulsões em todo o país“.

Muito além de um enfrentamento burocrático

Nos documentos publicados por ambas as partes e nas declarações à imprensa burguesa – sempre satisfeita em divulgar a divisão no interior de um partido de esquerda – ganham destaques as acusações de ambos os lados acerca da violação dos direitos democráticos dos militantes, da violação dos estatutos do Partido, da acusação de que a politica da outra ala enfraquece o Partido etc.

Na coletiva de imprensa realizada pela direção do PO, no dia de ontem, destacou-se que “no mês de abril realizou-se o XXVI Congresso do Partido Obrero“e que a “orientação sustentada por Altamira e seu grupo não triunfou e que não foram eleitos para compor o Comité Central“. Acusam, então que Altamira teria “decidido ignorar o Congresso: as campanhas e palavras-de-ordem aprovadas, a direção eleita, os organismos partidários etc. o que, segundo essa ala majoritária, ” equivale a desconhecer a vontade dos milhares de militantes do PO“.

Acusam ainda Altamira e seu grupo de alinharem-se ao kirchnerismo, por conta de que os mesmos, estariam defendendo “participar das eleições provinciais e nacionais com a palavra-de-ordem ‘Fuera Macri’“, o que segundo eles “colocaria o  PO coletando votos para el kirchnerismo”.

Altamira e seu grupo  por sua vez, em seu documento “Por qué una fracción pública del Partido Obrero“, (de 11/06/19), depois de assinalarem que o “Partido Obrero atravessa uma crise política inquestionável” apontam que o “caráter desta crise está determinado pela tentativa explícita de romper a continuidade histórica do partido – ou seja seus princípios  sua estratégia e seus métodos” destaca que “a expressão grotesca desta política é a proscrição política de Altamira no interior do partido; o estabelecimento de um comitê de censura na imprensa [do partido]; a proibição de suas palestras sobre o Cordobaço (…;) a supressão de qualquer menção à sua pessoa (….) para menosprezar que ele foi um dos principais organizadores da nossa intervenção nessa greve histórica, como ocorreu no Argentinaço. Se trata de expresões grosseiras de uma política que tem um carácter de conjunto“.

Acusam a direção de métodos burocráticos, de impedir o debate no interior do Partido e  um suposto eleitoralismo de participar das eleições tendo com objetivo apenas a busca de uma bancada no Congresso, o que é refutado pela direção como sendo uma “uma manobra que delata uma reviravolta antieleitoral

 

PO: vítima de uma corrupção eleitoral

 

A crise evidencia uma completa decomposição do Partido Obrero, com o explicito uso de métodos podres, antidemocráticos, tão comuns aos partidos burgueses e pequeno burgueses, inclusive da esquerda, maquinas eleitorais dominadas por suas direções e pelos seus patrocinadores.

Nestas condições, com argumentos genéricos, Altamira e seu grupo – alguns dos quais há bem pouco integrantes destacados da direção do PO – não assumem qualquer responsabilidade. Apenas reivindicam um debate público, democrático, sem destacar que isso nunca foi feito assim, dessa maneira. E que a política atual eleitoral do PO, de aliança com partidos da esquerda pequeno burguesa oportunistas, sem uma política de classe revolucionária, foi introduzida e defendida no Partido sob a liderança do próprio Altamira.

É por demais evidente que o PO – que por muitas décadas buscou se construir sob a base de uma politica revolucionária, principista, se opondo à orientação oportunista das correntes morenistas (dirigidas e/ou influenciadas por Nahuel Moreno, dirigente histórico do MAS argentino) foi vítima de uma corrupção eleitoral, resultado de uma politica equivocada de unidade da esquerda nas eleições, tendo objetivo principal e exclusivo, conquistar alguma vantagem eleitoral que permita promover ou eleger alguns dos seus dirigentes, num autêntico vale tudo eleitoral, tão comum na política burguesa e que a esquerda pequeno burguesa copia por todos os lados.

Essa politica oportunista levou o PO, como fazem todos os partidos que adotam esta perspectiva estranha à perspectiva revolucionária do marxismo, a abandonar qualquer perspectiva classista e até mesmo a adotar a politica reacionária de buscar uma frente indireta com a direita como se viu no alinhamento com a posição do imperialismo de apresentar como alvo principal os partidos e governos nacionalistas  que a direita chamava a combater com suas campanhas “contra a corrupção”, usada como arma para derrubar tais governos por meio de golpes, pelas mais variadas vias, como se viu em quase toda a América Latina (Honduras, Paraguai, Brasil, Equador, Argentina etc.) e em outros continentes (Ucrânia, Egito etc.).

Para os defensores dessa política (como o PSTU e o PSOL, no Brasil), o PT de Lula e Dilma, seria a mesma coisa que o PSDB e o DEM; os Kirchner`s seriam a mesma coisa que Macri, ou até piores. Diante disso, esses setores, deixando de lado a politica tradicional do marxismo, adotaram a politica de defender o “fora todos” e até de afirmarem que a derrubada dos governos da esquerda burguesa que chegaram ao poder no começo desse século, como parte da gigantesca crise do neoliberalismo, seriam o caminho para vitória o avanço da esquerda eleitoralmente ou até da revolução.

 

Diante do golpe de Estado

 

Essa política fez com que todos esses partidos morenistas e também o PO, que os acompanhou, não se levantassem contra os golpes de Estados orquestrados pelos imperialismo no Brasil, na Argentina etc.

Altamira que conduziu essa política, junto com parte da direção atual, agora, diz que a esquerda argentina faz a mesma coisa que a esquerda brasileira que não se opôs ao golpe (obviamente ocultando a posição revolucionaria e única do PCO). Critica a direção do seu Partido e toda a esquerda por não ter se oposto ao golpe e não ter defendido o “Fora Macri”. Busca fazer uma revisão da política anterior de se aproximar da direita contra kichernirismo, sem assumir qualquer responsabilidade sobre essa orientação e seu caráter reacionário, antitrotkista, contra-revolucionária.

Isso quando ele mesmo endossou essa política reacionária como nos artigos “Lula é vítima de sua própria política” e “Sem Lula é fraude”, nos quais repete a tese defendida pela esquerda pequeno burguesa argentina brasileira de que o PT e Lula são os principais responsáveis pela derrubada do governo Dilma e mesmo pela condenação do ex-presidente pelos juízes burgueses.  Como escreveu-se aqui nesse Diário, ” a máxima altamirista é que a culpa é da própria vitima“.

(continuaremos).

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