Dias atrás escrevemos um artigo sobre o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o suposto racismo na obra de Monteiro Lobato. O livro “Caçadas de Pedrinho”, clássico da literatura nacional, é considerado racista e portanto não deveria figurar entre as obras do Programa Nacional Biblioteca da Escola, do Ministério da Educação. É bom lembrar que, tempos atrás, outra ação no Judiciário procurava permitir a alteração da obra nas partes consideradas racistas.
Dissemos que o método da censura de obras é, à parte as boas intenções, invariavelmente reacionário. As boas intenções se encontravam nos nazistas quando queimavam o que chamavam de “arte degenerada”. Tudo o que não fosse considerado dentro do padrão de pureza ia parar na fogueira. A mesma coisa foi feita na Inquisição.
Alguém poderia protestar dizendo que tanto no nazismo como na Inquisição as intenções eram opostas às daqueles que buscam a censura com a justificativa moral do combate ao racismo. Poderíamos concordar com os que argumentam nesse sentido, mas apenas na medida subjetiva do problema. Objetivamente trata-se da mesma coisa.
Não é possível estabelecer um parâmetro moral, ou seja, subjetivo, para uma obra. Se abro a possibilidade de censura contra algo que minha moralidade reconhece como mau, automaticamente estou dando essa possibilidade para outro que entende a moralidade de maneira oposta à minha. No final das contas, vence quem for mais forte. Quem vai decidir o que será ou não censurado e digno de ser moralmente aceitável será o setor social com mais força, ou seja, a burguesia.
Portanto, a única arma dos oprimidos é a liberdade de expressão irrestrita, incondicional. A censura não apenas é um instrumento inócuo, ele é a arma do opressor contra o oprimido e este nunca deve fortalecer essa arma.
Conforme o esperado, setores da esquerda pequeno-burguesa recorreram à histeria quando tiveram contato com a posição deste Diário sobre o tema. Na ausência de argumentos, gritaria, ofensas e calúnias,, o que apenas confirma a tese de que o método da censura é bolsonarista. E conforme apontamos no artigo anterior, o atual ambiente reacionário produzido pela extrema-direita influencia invariavelmente a classe média, incluída aí a classe média esquerdista.
Ao melhor estilo bolsonarista o militante do PSOL, Douglas Belchior, preferiu usar as calúnias: “@PCO29 é uma piada. Racistas sem vergonha. Eles e os amigos deles”. Ficamos sem saber qual exatamente seria a piada, também porque racistas. Para a esquerda pequeno-burguesa, assim como para a direita, não precisa argumentar. Bastam as calúnias. O Psolista não tem o poder do direitista STF, mas também tenta calar o adversário usando a força. É o método da direita.
As pessoas têm todo o direito de achar as obras de Monteiro Lobato racistas. Têm todo o direito também de acusar Lobato, que morreu em 1948, de racista. Temos o direito de discordar de tudo isso. Mas o que está em jogo não são as considerações e interpretações que cada um possa ter dele, um dos maiores escritores brasileiros do século XX. O que está em jogo é saber se devemos dar ao Estado burguês o poder de censura e se isso traria algum ganho para o movimento negro. Está claro que não.