O golpe de Estado na Bolívia realizado pela extrema-direita está levando a um enorme enfrentamento entre os trabalhadores e a burguesia com grande violência. A renúncia de Evo Morales com a justificativa de evitar um “banho de sangue” não evitou essa situação e está levando a um agravamento e um massacre do povo boliviano e perseguição sistemática a lideranças sindicais e populares.
Após a renúncia, a direita tomou parte na repressão e a população se enfrentou contra a polícia nas ruas. O enfrentamento é enorme e a violência das forças policiais e as milícias fascistas resultou em grande número de feridos de trabalhadores. Mesmo assim, em alguns locais a população derrotou as forças policiais e os golpistas tiveram que colocar os militares nas ruas para reprimir ainda mais a população.
A partir daí não se tem informes de números de feridos ou mortos. A direita tomou conta dos meios de comunicação e persegue a imprensa de esquerda. Mas há relatos e vídeos de extrema violência, prisões e pessoas desaparecidas e os enfrentamentos continuam, apesar do toque de recolher dado pelos militares golpistas.
A população está resistindo ao golpe e as manifestações estão cada vez maiores, e há até delegacias que foram totalmente destruídas pela população porque os policiais foram um dos principais apoiadores do golpe contra Evo Morales. A medida que esse movimento de ofensiva contra os golpistas cresce, a violência da direita e dos militares vai ser ainda maior.
A política infantil da esquerda: desarmar a população
A direita golpista conta com todo o aparato militar e forças policiais fortemente armados contra milhares de manifestantes com disposição de derrotar o golpe, mas armados de paus, pedras e fogos de artifício. Numa luta extremamente desigual para o lado dos trabalhadores.
A esquerda se recusa a fortalecer os trabalhadores em armar a população. O golpe de Estado que derrubou Evo Morales seria muito mais complicado para a direita, ou poderia ser evitado se a população estivesse armada. Apesar de todos os indicativos, provas e situações a esquerda pequeno-burguesa continua numa política infantil e moralista de negar o direito ao armamento da população e o direito à autodefesa.
O caso da Bolívia colocou por terra o argumento da esquerda de apoio as instituições para garantir seus direitos, o judiciário contra a direita golpista em defesa da democracia e até mesmo de uma ala esquerda dos militares. Quando a direita se sentiu confiante em derrubar Evo Morales conseguiu fazer com certa facilidade, passando por cima de instituições, da Constituição e de todo aparato burocrático estatal. A situação se agravou pois não houve reação do governo e sabia que a população estava desarmada.
Exemplo venezuelano
Um bom exemplo é a Venezuela. Diante dos ataques e até das ameaças de invasão dos EUA ao país, os chavistas, corretamente, colocaram em prática um plano de armamento da população. O governo de Nicolas Maduro anunciou que pretende chegar a dois milhões de milicianos na Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) até o final de 2019, em uma clara demonstração de que tem plena consciência de que é preciso aumentar o armamento dos trabalhadores para a luta contra a direita golpista e a possível invasão do imperialismo.
A milícia é formada por trabalhadores venezuelanos atuam em bairros, cidades, favelas, no campo que faz um serviço de segurança e autodefesa. Isso mesmo com boa parte do exército formada por integrantes chavistas.
Um dos principais motivos na direita e no imperialismo em ser vitorioso nas suas tentativas de golpe é que boa parte da população está armada.
Armando o povo para a luta
Apesar da política conciliadora de Evo Morales e do seu partido, o MAS, buscando uma impossível convivência democrática com a direita, respeitando a oposição fascista e racista e as forças policiais, cedendo espaço, como por exemplo aceitar a intervenção dos golpistas da OEA (Organização dos Estados Americanos) nas eleições, a direita realizou o golpe.
Para implantar sua política entreguista e contra a população, a direita – se tiver condições – vai reprimir duramente os trabalhadores que não vão aceitarem a retirada de seus direitos e a entrega das riquezas do país para o imperialismo. Assim como fez no Chile, nos anos da ditadura fascista de Pinochet. A esquerda baixar a cabeça e ceder para os golpistas não tornarão os golpes mais “humanos” e menos sangrentos.
A esquerda tem que armar o povo e fazer campanha por esse direito fundamental, e a única ferramenta possível de evitar os ataques da direita e de avanço do fascismo. Só o povo armado e mobilizado pode contra-atacar e derrotar os golpistas e o imperialismo.