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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Pacto Ítalo-Soviético

A aliança esquecida entre Stálin e Mussolini

A burocracia termidoriana não fez acordos apenas com Hitler. Antes, já era aliada de longa data do fascismo italiano

É famoso o acordo que Josef Stálin fez com Adolf Hitler, em 23 de agosto de 1939, conhecido como Pacto de Não-Agressão Germano-Soviético, ou Pacto Ribbentrop-Molotov (os sobrenomes dos ministros de Relações Exteriores da Alemanha e da URSS, respectivamente).

Essa aliança, que faria Lênin arregalar os olhos e se remexer em seu mausoléu nos muros do Crêmlin, levou a uma intensa crise no seio do movimento comunista internacional. Afinal, como poderia o primeiro estado operário do mundo, símbolo da luta contra a burguesia, se aliar com o maior de todos os inimigos que a classe operária já enfrentara?

A desculpa propagandeada pela máquina de mentiras da burocracia soviética era de que o “gênio” que controlava o PCUS estava, ao mesmo tempo, evitando uma guerra contra os nazistas e alertando as potências imperialistas ocidentais de que não deveriam mexer com a União Soviética, porque esta tinha poderosos aliados.

O fato é que essa traição execrável do marxismo e de todo o movimento socialista levou a uma forte desilusão de dezenas ou centenas de milhares de militantes honestos que acreditavam que a revolução socialista libertaria o homem de sua opressão e construiria um mundo onde não houvesse exploradores. A aliança da URSS com o nazismo confundiu até mesmo parte da vanguarda revolucionária da época. Muitos comunistas, desacreditados, passaram, inclusive para o lado da reação.

Mas Stálin já havia traído a revolução há muito tempo. Não só por ter sabotado a possibilidade da tomada do poder pela classe operária na China, na Espanha ou na França. Ele já tinha uma aliança com o fascismo.

O Pacto Ítalo-Soviético

A primeira nação ocidental a reconhecer a legitimidade do governo soviético que nasceu da Revolução de Outubro de 1917 foi a Itália, em 7 de fevereiro de 1924. Foi nessa data que os dois países estabeleceram relações diplomáticas.

Benito Mussolini e os fascistas já dominavam o país havia dois anos. O fato de iniciarem relações diplomáticas, um estado operário liderado por um partido revolucionário e uma nação controlada pelos fascistas, não é, por si só, algo condenável. No entanto, há que entender as consequências desse acordo.

Em 1926 e 1927, a União Soviética fornece a maior parte do óleo combustível que alimenta a frota de guerra italiana (Maria, Jean-Jacques. Stalin, p. 336). A aliança é justificada por Arturo Mussolini, irmão de Benito, no Giornale D’Italia: é absurdo travar uma luta com a URSS “na medida em que o bolchevismo é invencível em sua cidadela e tem direito à existência” (Idem).

A frase de Arturo é apenas retórica demagógica. Para os fascistas, a burocracia soviética, enquanto ajudava a dar sustentação à ditadura de Mussolini, tinha direito de existir. Mas o bolchevismo não! Ao menos, não na Itália. Ainda em 1926, todos os membros do Partido Comunista no parlamento italiano são presos, e os socialistas expulsos. A partir daí, a ditadura mussoliniana se endurece ainda mais e no mesmo ano o PC é posto na ilegalidade, seus dirigentes são exilados ou presos (como Antonio Gramsci) e milhares de militantes são enviados para campos de concentração ou assassinados.

Tudo isso, sob os olhos de Stálin e da III Internacional, que já mantinha o PCI sob estrito controle.

Ao invés de romper relações com a Itália, de intervir contra o extermínio dos comunistas e do movimento operário ou ao menos de negociar uma anistia, Stálin continua seus negócios com os fascistas.

Um Tratado de Amizade, Não-agressão e Neutralidade é assinado em 2 de setembro de 1933 (Paier, Anton. Sazonov, Vladimir. “From the Comintern to Putin: Russian ties with Italy”, 2019). Esse pacto permite uma maior aproximação militar entre os dois regimes. Já em maio daquele ano, Itália e URSS haviam acordado uma cooperação econômica para permitir o avanço de metas de industrialização, o acesso de Roma ao óleo combustível soviético e o fornecimento de apoio italiano nas áreas de aviação, automobilística e naval.

Quatro meses depois, a imprensa soviética repercute a visita de uma missão militar a Roma, relatando as palavras do então embaixador no país latino, Vladimir Potemkin: “gratitude pela atenção excepcional dada à missão soviética pelo comando e governo italianos.” Por sua vez, um general italiano diz que “o exército italiano tem um sentimento mais profundo que o sentimento profissional habitual em relação ao Exército Vermelho. Esses sentimentos se fortaleceram como resultado do Pacto Ítalo-Soviético” (TASS, setembro de 1933).

Depois disso, os contatos se mantiveram, ao ponto de representantes do exército e da marinha italianos terem passado duas semanas na URSS. Ainda em 1933, um submarino italiano esteve no Mar Negro e embarcações soviéticas em Nápoles.

A cooperação militar com a burocracia contrarrevolucionária soviética ajudou a Itália a fortalecer suas forças armadas. Em 1934, Mussolini empreendeu a invasão da Abissínia (atual Etiópia) e promoveu uma guerra genocida que assassinou 500 mil africanos, com o uso de armas químicas e intensos bombardeios contra os indefesos etíopes.

O Tratado de Amizade, Não-agressão e Neutralidade foi quebrado somente em 22 de junho de 1941, quando a Itália declarou guerra à URSS.

Assim como ocorreu com Hitler, Stálin foi um aliado de Mussolini durante anos, tendo a aliança se desfeito não por iniciativa da URSS, mas sim dos fascistas. Além dos milhares de italianos, alemães, etíopes, europeus orientais que sofreram com a invasão nazista, 20 milhões de soviéticos também foram vítimas da agressão hitlerista com apoio de Mussolini. A camarilha stalinista guarda essa culpa consigo até hoje, em seus túmulos.

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