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Lenda viva do jazz

90 anos de Sonny Rollins, o último dos gigantes do jazz

O saxofonista tenor Sonny Rollins nasceu em 1930. É um dos mais influentes músicos do jazz, tendo passado pelo hard bop, free jazz e jazz-funk.

Neste dia 7 de setembro o saxofonista tenor norte-americano Sonny Rollins completa 90 anos. Ele foi um dos mais influentes músicos do jazz em todos os tempos. Ao longo de 70 anos de carreira passou por todas as fases mais importantes e complexas do gênero, iniciando-se no bebop, passando pelo hard bop e se aprofundando nos estilos mais vanguardistas do jazz. É considerado um dos maiores improvisadores do estilo.

Com 90 anos de idade, Sonny Rollins é o último dos gigantes do jazz ainda vivo. Infelizmente ele não toca mais o seu amado instrumento desde 2012 por causa de problemas respiratórios. Mas o seu legado é imenso, com dezenas de álbuns sob o seu nome e dezenas de outros como músico acompanhante.

Nascido em Nova York

Walter Theodore “Sonny” Rollins nasceu em 7 de setembro de 1930 na cidade de Nova York. Cresceu no distrito de Sugar Hill em Manhattan e se encantou com a música logo cedo, especialmente pelo jazz. Através dos discos de seus pais descobriu a música de Fats Waller e Louis Armstrong, o que o fez descobrir seu amor pelo saxofone. Com 7 ou 8 anos ganhou o seu primeiro saxofone, um alto, trocando por um sax tenor aos 16 anos na esperança de conseguir imitar seu ídolo, Coleman Hawkins. O sax tenor acabaria por ser o seu instrumento definitivo. Coleman era um dos ícones de um novo estilo, o bebop. Outro ídolo era o saxofonista alto Charlie Parker.

Rollins também teve aulas de piano. Durante seu tempo no colégio tocou e conviveu com lendas do jazz como Jackie McLean, Kenny Drew e Art Taylor. O talento de Sonny ficou evidente desde muito cedo, tanto é que seu vizinho, Thelonious Monk, se tornou seu mentor, com Sonny frequentemente praticando no apartamento de Monk. Após se formar no colégio em 1947, Rollins começou sua carreira profissional. Suas primeiras gravações foram feitas em 1949 como músico da banda do cantor bebop Babs Gonzales. Também gravou com nomes como Bud Powell, Fats Navarro e Miles Davis.

Prisão

Aos 20 anos, em 1950, Sonny foi preso por uma acusação de assalto à mão armada, condenado a três anos de cadeia e mandado para a prisão de Rikers Island, onde ficou 10 meses. Dois anos depois voltou a ser preso por violar sua condicional. Desta vez, a acusação foi por posse de heroína.

Em 1955, Rollins se internou no Federal Medical Center em Lexington para tratar de seu problema com drogas. Foi submetido a um tratamento, então ainda experimental, com metadona. Conseguiu se livrar do vício e em seguida se mudou para Chicago onde morou com o trompetista Booker Little. Como muitos músicos no mundo do jazz, ele pensava que o uso de drogas melhorava o desempenho em seu instrumento, especialmente depois de testemunhar as performances de Charlie Parker.

Em 1954, Sonny ganhou um grande destaque quando três de suas composições (“Airegin”, “Oleo” e “Doxy”) foram gravadas por Miles Davis e seu quinteto, músicas que foram reunidas no LP “Bag’s Groove”.

No verão de 1955, Rolling teve uma nova breve passagem pelo quinteto de Miles Davis. Em seguida se juntou ao quinteto liderado por Clifford Brown e Max Roach, gravando álbuns como “Clifford Brown and Max Roach at Basin Street” (1956) e “Sonny Rollins Plus 4” (1956, este creditado a Sonny Rollins).

Em junho de 1956, o trompetista Clifford Brown e o pianista Richie Powell foram mortos em um acidente de carro. Rollins continuou tocando com Max Roach e lançando vários álbuns importantes pela gravadora Prestige Records. Nesse ano lançou ainda o fabuloso álbum “Tenor Madness”, creditado ao Sonny Rollins Quartet, formado por Paul Chambers (baixo), “Philly” Joe Jones (bateria) e Red Garland (piano). A faixa título trazia um dueto com Joe Coltrane, a única ocasião em que os dois músicos gravaram juntos. Ainda em 1956, Sonny grava o álbum “Saxophone Colossus”, que só seria lançado no ano seguinte. O álbum incluiu a faixa “St Thomas”, um calipso, que se tornaria uma de suas canções mais famosas. “Saxophone Colossus” acabou se tornando, merecidamente, um apelido famoso de Sonny.

O surgimento do hard bop

“Saxophone Colossus” é um dos discos fundamentais de um estilo que viria a ser conhecido pelo nome de hard bop, um desenvolvimento do bebop. O bebop revolucionou o jazz em meados dos anos 40, quando músicos como Charlie Parker, Thelonious Monk, Charlie Christian, Clifford Brown e Dizzy Gillespie, cansados das limitações do swing, criaram novas maneiras de improvisação, expansão das harmonias e ritmos muito mais acelerados. Foi uma maneira de criar uma forma de jazz que “os brancos não conseguiriam imitar”, já que naquele momento a cena de jazz tinha muitos músicos brancos, que dominaram uma música que veio do povo negro. O bebop foi, de certa maneira, uma maneira de retomar o jazz para os negros.

O hard bop foi um estilo derivado do bebop, uma mistura do bebop com as influências do R&B (rhythm & blues), gospel e blues. Alguns viam o hard bop como uma reação ao cool jazz e ao jazz que era executado na Califórnia e outros locais mais ensolarados. O estilo surgiu no momento do declínio do bebop e ascendência do muito mais popular rhythm and blues, um estilo muito mais simples e acessível. Dentre os expoentes do hard bop estavam Horace Silver, Charles Mingus, Art Blakey, Cannonball Adderley, Miles Davis e John Coltrane.

1957 é um ano importante para Sonny Rollins, que decide não renovar contrato com a Prestige e passa a trabalhar como músico freelancer, negociando cada álbum com uma gravadora diferente. Nesse ano, lança três álbuns de estúdio e um ao vivo pelo selo Blue Note, então uma das principais gravadoras independentes de jazz. Os discos de estúdio eram “Sonny Rollins”, “Sonny Rollins Vol.2” e “Newk’s Time”. Nesta época, os músicos que acompanhavam Rollins mudavam em velocidade rápida. O disco ao vivo “A Night At The Village Vanguard” foi gravado no pequeno clube de jazz localizado no Greenwich Village, onde o saxofonista fazia uma residência. No início da temporada no Village Vanguard, a banda de Rollins era um quinteto. Mas ele acabou dispensando um trompetista e em seguida o pianista. Quando chegou o momento da gravação, a banda havia se reduzido ao trio de Rollins e mais Wilbur Ware (baixo) e Elvin Jones (bateria), sem nenhum instrumento harmônico como o piano. Rollins já havia estreado este formato de trio sem piano no seu álbum “Way Out West”. Ele descobriu que se sentia muito mais livre para improvisar sem um instrumento que impusesse acordes.

Movimento dos direitos civis

1958 foi o ano de outra gravação histórica de Rollins, “Freedom Suite”, novamente gravado no formato de trio de sax, bateria e baixo. A faixa título, uma peça de 20 minutos, é uma composição que reflete o crescente interesse em política de Rollins, um sintoma do movimento dos direitos civis, que começa a crescer entre o povo negro norte-americano e que vai culminar na década seguinte.

Esta música foi inspirada pelo episódio do “Little Rock Nine”, um grupo de nove estudantes negros da Little Rock Central High School em 1957. Nesse episódio, a Guarda Nacional do estado de Arkansas foi acionada pelo governador do estado, Orval Faubus, para impedir que os estudantes negros pudessem frequentar a escola, uma clara tentativa de perpetuação da segregação racial. Esse conflito racial só foi resolvido com a intervenção do governo federal. Desse modo, “Freedom Suite” se tornou a primeira canção instrumental de protesto.

Hiato para novos estudos

No período entre o verão de 1959 e o outono de 1961, Sonny Rollins se retirou temporariamente da cena musical. Ele se dizia frustrado com as suas próprias limitações e nesse período se dedicou extensivamente a praticar, muitas vezes de 15 a 16 horas por dia. Ele tocava diariamente na Ponte Williamsburg, próximo à sua casa, para evitar perturbar uma vizinha que estava grávida, continuando a rotina mesmo após o nascimento da criança. Este período de estudo se encerrou em novembro de 1961, quando Sonny começou uma residência no clube Jazz Gallery no Greenwich Village.

Seu álbum de volta foi “The Bridge”, um de seus discos mais vendidos. Neste disco, ele tem o acompanhamento de Jim Hall (guitarra), Bob Cranshaw (baixo acústico) e Bem Riley (bateria), músicos que permaneceriam com Rollins por esta fase de sua carreira.

Os anos 60 foram um período de descoberta e reinvenção para Rollins, que a cada álbum trazia um trabalho de sonoridade radicalmente diferente do anterior. Em “What’s New” (1962) explorou sons e ritmos latinos. Em “Our Man In Jazz” (1962), gravado ao vivo, trouxe seu lado mais vanguardista ao lado de virtuosos como Don Cherry (corneta), Bob Cranshaw (baixo) e Billy Higgins (bateria). Fez um disco com o pianista free jazz Paul Bley e com o seu ídolo Coleman Hawkins, “Sonny Meets Hawk” (1963).

Novo intervalo

De 1969 a 1971 Rollins fez uma nova parada em suas apresentações públicas. Neste período, visitou a Jamaica e passou meses estudando ioga, meditação e filosofias orientais em Powai na Índia.

A reputação de Sonny Rollins foi construída em cima dos seus importantes e influentes trabalhos lançados nas décadas de 50 e 60 por gravadoras como a Prestige, Blue Note, RCA e Impulse!, entre outras. Os seus discos dos anos 70 e 80 já não têm a mesma reputação, mas muitos são excelentes e trazem uma sonoridade mais pop, funk e R&B e em alguns casos Rollins troca o seu sax tenor por um soprano ou ainda pelo lyricon, uma espécie de saxofone sintetizador.

A volta de Rollins ao cenário musical se deu em 1972. Desta vez ele assinou contrato com a gravadora Milestone, lançando o disco “Sonny Rollins’ Next Album”. Nesta fase, Rollins se interessa em explorar os solos de saxofone sem nenhum acompanhamento. Várias músicas de seus discos trazem esses solos desacompanhados. Seu disco de 1985, “The Solo Album”, traz apenas duas faixas, ambas com o saxofone sem nenhum acompanhamento, numa linha bem free jazz. Em 1981 ele apareceu no álbum “Tattoo You” dos Rolling Stones tocando em faixas como “Slave” e “Waiting For A Friend”.

Nas duas décadas seguintes lança mais de 30 álbuns, tocando ao lado de alguns dos maiores músicos do jazz como Jack DeJohnette, Billy Cobham (bateria), George Duke (piano, teclados), Raul de Souza (trombone), Patrice Rushen (teclados), Lee Ritenour, Larry Coryell (guitarra), Stanley Clarke (baixo) e Branford Marsalis (sax tenor), entre muitos outros. Em 1986, o cineasta Robert Mugge lançou o filme documentário “Saxophone Colossus”, que trazia uma apresentação do quinteto de Rollins em Nova York e um concerto com a Yomiuri Shimbun Orchestra no Japão, onde ele apresentou seu Concerto para Saxofone e Sinfônica, composto em parceria com o pianista finlandês Heikki Sarmanto. Este vídeo pode ser visto no YouTube.

Nos anos 2000

Em 11 de setembro de 2001 Rollins teve que abandonar rapidamente o seu apartamento levando apenas o seu saxofone quando ouviu as notícias sobre o colapso do World Trade Center. Ele vivia apenas a algumas quadras do local. Mesmo sobressaltado, ele viajou para Boston onde se apresentou cinco dias depois do ocorrido em um concerto na Escola de Música Berklee. Essa apresentação foi gravada e lançada em disco com o nome de “Without a Song: The 9/11 Concert”, que depois ganhou o prêmio Grammy de melhor solo instrumental de jazz.

Rollins continuou a tocar até 2012 quando seus problemas respiratórios se tornaram graves e ele não tinha mais forças para continuar tocando. Em uma recente entrevista, Rollins mostrou que continua ativo e atento para os problemas que atingem o povo negro e que a mensagem de seu disco “Freedom Suite” continua válida até hoje. Na contracapa daquele disco ele escreveu: “A América está firmemente baseada na cultura do Negro: seus coloquialismos, seu humor, sua música. Que ironia que o Negro, aquele que mais que qualquer outro povo poderia reivindicar a cultura da América como sua, seja perseguido e reprimido, que o Negro, que mostrou exemplos de humanidade em toda sua existência, seja recompensado com a desumanidade.”

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