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Música negra

90 anos de Elza Soares, uma história de luta

Nos últimos anos, Elza lançou discos notáveis como “Vivo Feliz” (2004), “A Mulher do Fim do Mundo” (2015), “Deus é Mulher” (2018) e “Planeta Fome” (2019).

Comemoramos os 90 anos de vida de Elza Gomes da Conceição. Sua data de nascimento é discutível, nem mesmo ela sabe ao certo, pode ser 23 de junho de 1930 ou 22 de julho de 1933 ou mesmo 1937. De todo modo Elza é um ícone da música brasileira, uma força da natureza, um símbolo de luta contra o racismo e contra os preconceitos, construindo uma carreira única que começou com uma infância extremamente pobre, passando pelo conturbado casamento com o craque de bola Garrincha e uma gravando uma espetacular discografia por onde passeia por inúmeros estilos, do samba à bossa nova e ao soul.

Elza nasceu na favela de Moça Bonita, hoje em dia Vila Vintém, no bairro de Padre Miguel no Rio de Janeiro e ainda pequena se mudou para um cortiço da Água Santa onde foi criada. Foi uma infância feliz, porém curta. Aos onze anos de idade foi obrigada pelo pai a abandonar os estudo para se casar com Lourdes Antônio Soares, conhecido como Alaúrdes. No ano seguinte nasceu o primeiro filho, João Carlos. Elza sofreu muito neste casamento arranjado, sendo submetida a vários episódios de violência doméstica e sexual.

Quando tinha 15 anos sofreu um enorme trauma. Seu segundo filho morreu de fome enquanto o marido estava doente, com tuberculose. Aos 18 anos oficializou o matrimonio passando a usar o nome Elza da Conceição Soares e aos 21 anos ficou viúva quando o marido pegou uma nova tuberculose e não resistiu.

Em 1950 sofre outro choque, sua filha Dilma, recém nascida, é sequestrada pelo casal que tomava conta da menina enquanto Elza trabalhava fora. A menina só foi localizada 30 anos depois e nem fazia ideia de sua história.

Em 1953 ela resolve se inscrever no concurso musical de um programa radiofônico, “Calouros em Desfile”, apresentado por Ary Barroso na Rádio Tupi. Para essa apresentação ela usou um vestido da mãe, que era muito mais gorda que ela, ajustado com vários alfinetes. Ela foi motivo de risos. Ary tentou lhe ridicularizar perguntando: “de que planeta voce veio, minha filha?”, ao que ela retrucou: “do mesmo que o senhor, Seu Ary, do planeta fome”. A apresentação foi um sucesso e ela ganhou a nota máxima.

Depois disso o irmão de Elza, Avelino, que era violonista e tocava na Orquestra Garam de Bailes a indicou ao maestro Naegli e Elza conseguiu um emprego como cantora da orquestra onde permaneceu até 1954.

Em 1959 finalmente conseguiu seu primeiro contrato com uma gravadora, a Odeon, onde lançou seu primeiro disco, um 78 rotações com as músicas “Se Acaso Você Chegasse” (de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins) e “Mack The Knife”. “Se Acaso Você Chegasse” se tornou grande sucesso e um clássico da música brasileira. Nessa música Elza introduziu o scat, um recurso característico do jazz e muito associado a cantores como Louis Armstrong. No ano seguinte saiu o primeiro LP, também chamado “Se Acaso Você Chegasse”. No ano seguinte saiu o segundo álbum, “A Bossa Negra”, que trouxe músicas como “Marambaia” e “Beija-me”.

Elza conheceu, em 1962, o jogador Garrincha, que na época já era casado. Cansada das promessas de Garrincha de que ele largaria a mulher, Elza o abandona e em 1963 grava a música “Eu Sou a Outra”. Eles decidiram morar juntos em 1966 e em seguida oficializaram a união. O casamento foi motivo de revolta para os fãs da cantora e do jogador, que acusaram a cantora de ter acabado com o casamento de Garrincha. Para fugirem ao assédio foram morar em São Paulo. 

Em 13 de abril de 1969, viajando de carro para o Rio de Janeiro, com Garrincha dirigindo, ocorreu uma grande tragédia. Garrincha estava alcoolizado e capotou na Rodovia Presidente Dutra. A mãe de Elza foi arremessada para fora do carro e morreu imediatamente. Elza, Garrincha e a filha Sara sofreram leves machucados.

Entre 1966 e 1970 Elza lançou no total oito LPs, alguns em parceria com Miltinho e o baterista Wilson das Neves, aprofundando seus laços com o samba, o que lhe rendeu o diploma de “Embaixatriz do Samba” do Conselho de Música Popular do Museu da Imagem e do Som. Em 1969 lançou seu primeiro livro, “Minha Vida Com Mané”.

Nos anos 70 fugiu com a família para a Itália após receber ameaças. A gota d’água foi um bilhete deixado em sua porta que dizia “você tem 24 horas para deixar o país”. Fez turnês pelos Estados Unidos e pela Europa e voltaram no final de 1975. Nessa época Elza estava grávida e deu à luz ao seu único filho com Garrincha, Manoel Francisco dos Santos Júnior, apelidado Garrinchinha.

Após 16 anos de casamento Elza se separa de Garrincha em 1982 por conta de inúmeros episódios de agressão física, ciúmes, traições e humilhações, onde o alcoolismo de Garrincha já se tornara insuportável. O jogador acabou morrendo no ano seguinte por cirrose hepática. A essa tragédia se seguiu outra alguns anos depois. Garrinchinha faleceu aos nove anos em um acidente de carro em 1986. Elza ficou desesperada e entrou em depressão. Após um tempo decidiu viajar o mundo e se focar exclusivamente em sua carreira. Fez muitos shows e morou em vários países e só voltou ao Brasil nove anos depois.

Nos anos 80 e 90 foram poucos discos, resultado de uma política comercial das grandes gravadoras, que a consideravam fora de moda. Mas em 2000 foi premiada como a “melhor cantora do milênio”, premio dado pela BBC em Londres quando se apresentou em um concerto ao lado de Gal Costa, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Virginia Rodrigues.

O novo milênio trouxe um novo interesse do público na veterana cantora. O álbum “Do Cóccix até o Pescoço” de 2002 lhe rendeu uma indicação ao Grammy e inúmeras apresentações em todo o mundo. Nos últimos anos, Elza lançou discos notáveis como “Vivo Feliz” (2004), “A Mulher do Fim do Mundo” (2015), “Deus é Mulher” (2018) e “Planeta Fome” (2019).

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