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9 de agosto de 1995 – massacre de Corumbiara em plena “democracia”

Há 24 anos, mais de 200 policiais e jagunços fortemente armados cercaram um acampamento de 600 camponeses sem terra na Fazenda Santa Elina em Corumbiara, sul de Rondônia, abrindo fogo e chacinando dezenas de pessoas – incluindo crianças e mulheres. A ordem era exterminar, e não reintegrar a posse da fazenda. A brutalidade do ataque, a desmedida do arbítrio, e o incontável número de mortos – tudo em meio ao que supostamente teria sido o período democrático de nossa história recente – são um sinal de que nunca houve paz ou democracia para a classe trabalhadora brasileira.

Era 3h30 da madrugada quando uma horda de policiais militares e matadores de aluguel encapuzados cercaram um acampamento de camponeses sem-terra. O Comando de Operações Especiais, sob as ordens do capitão José Hélio Cysneiros Pachá, a pretexto de reintegrar a posse da terra, bombardeou as tendas e casebres com gás lacrimogêneo, acendeu uma bateria de holofotes e fuzilou a sangue frio os camponeses praticamente desarmados quando estes buscavam escapar. Quando crianças e mulheres encontravam abrigo, eram capturadas, usadas como escudo humano e fuziladas pelas costas ao serem liberadas.

As barbaridades não cessaram com a chacina. Após haver dado cabo de mais de uma centena de trabalhadores, os criminosos os incineraram seus corpos em grandes fogueiras, enterrando as cinzas remanescentes. O número oficial de mortos seria de 12 pessoas – inclusive dois policiais.

 

O crime dos agricultores: mobilizar-se para ocupar terra improdutiva na fazenda Santa Elina, do latifundiário Antenor Duarte. Era uma organização com dez anos de estrada, que já criara as vilas de Alto Guarajus, Verde Seringal, Rondolândia e Nova Esperança – que se tornara a cidade de Corumbiara. O movimento foi visto pela oligarquia local como uma ameaça grave a seus privilégios. De pronto, surgiu o argumento macartista da “ameaça guerrilheira”, como vociferam os bolsonaristas de hoje, e como ladravam os cães dos grupos de extermínio a serviço da ditadura militar décadas atrás.

Na terra do governador Valdir Raupp (PMDB), o inquérito policial e o julgamento festivais de iniquidade. Se a comoção internacional gerada pela chacina levou à condenação três policiais, o processo não levou a júri nenhum dos pistoleiros e ainda logrou o prodígio de condenar dois dos líderes do movimento vitimado pelo ataque – supostamente por cárcere privado.

Uma das estrelas da farsa foi o promotor Tarcísio Leite Mattos. Fascista inveterado, numa das sessões de julgamento dos policiais, em 2000, diria que “só tem merda” nos autos dos processos, acrescentando: “Eu não vou defender comunistas. Nossa bandeira é verde-amarela, não é vermelha não, não é uma porcaria comunista”, e ameaçando os camponeses também acusados, Claudemir Gilberto Ramos e Cícero Pereira Leite Neto: “Tem que matar mesmo. Se entrar na minha casa, eu mato. Eu mato!”. Ameaçando o júri popular, avisou que um certo “castigo divino” puniria eventuais responsáveis pela absolvição de sem-terra, como teria acontecido no Rio de Janeiro, advertindo que “eles vão roubar suas casas se forem absolvidos, não tem como fugir desses cachorros serem condenados”. Finalmente, vaticinaria, num surto de bolsonarismo avant la letre: “Ou o Brasil acaba com os sem-terra ou os sem-terra acabamo com o Brasil”.

Mattos ainda é promotor em Rondônia. Os camponeses foram presos e cumpriram pena. Os policiais cumpriram parte da pena e foram soltos. Com patrocínio do Imperialismo e de nossa especialmente cruel burguesia, temos no judiciário, no legislativo e sobretudo no executivo uma corja de promotores Mattos.

O episódio evidencia que, especialmente nos movimentos de luta pela terra e pela moradia, é fundamental a autodefesa armada dos trabalhadores, sob pena de ficarem à mercê de jagunços e da polícia – e que dizer da política desarmamentista de nossa gloriosa esquerda pequeno-burguesa? Mostra ainda que, mesmo nos chamados “períodos democráticos”, nosso povo sempre foi perseguido, torturado, preso, chacinado, exterminado por uma classe dominante cruel. Para o desamparado, o oprimido, o pobre sem recursos, nunca houve justiça nem democracia alguma – e que dizer das leis defendidas pela própria esquerda, que criminalizam opiniões?

Os mortos de Corumbiara são o testemunho de que a crença esquerdista na “democracia” como algo abstrato, concedido pelas oligarquias nas negociações palacianas, são a outra face da crença fascista de que não há fome no Brasil. Ambas são ilusões de uma pequena-burguesia que não conhece nem procura conhecer o país em que vive. Nenhum direito se conquista sem luta.

 

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