Em 09 de Janeiro de 1920, nasceu o poeta João Cabral de Melo Neto na cidade de Recife, Estado de Pernambuco. João era primo de Gilberto Freyre e Manuel Bandeira.
João Cabral foi poeta, escritor e diplomata. Ficou conhecido nos meios literários como o “poeta engenheiro” e fez parte da terceira geração do modernismo brasileiro, a Geração de 45. O livro Morte e Vida Severina foi a obra que o consagrou como expoente da literatura brasileira e suas obras estão traduzidas em diversas línguas e estudadas em muitos países.
O poeta passou parte de sua infância nas cidades de São Lourenço da Mata e Moreno. Em 1942, mudou-se com a família para a cidade do Rio de Janeiro, onde seu primeiro livro será publicado. Três anos depois, começa a atuar no serviço público na qualidade de funcionário do Dasp (Departamento de Administração do Serviço Público). No mesmo ano, inscreve-se para o curso do Ministério das Relações Exteriores e, logo após se formar, já em 1946, passa a integrar o quadro diplomático do Brasil. Em 1968, João Cabral foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, recebido por José Américo.
O serviço diplomático o faz trabalhar em diversos países. Em 1984, assume posto de cônsul-geral da cidade do Porto, em Portugal. Após se aposentar na década de 1990, volta ao Rio de Janeiro e vive com a família até seu falecimento em 1999, quando sofria de depressão em virtude de uma cegueira.
Leia a seguir trecho de um de seus poemas:
Morte e Vida Severina
— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte Severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.